A concorrência entre empresas de TV a cabo e as empresas de telecomunicações é acirrada em toda a Europa, por conta da forte presença das incumbents, muitas vezes ainda apoiadas por políticas estatais. Não por acaso, o mercado de cabo ainda é minoritário na oferta de banda larga com 27,2 milhões de clientes, contra 102,6 milhões de acessos xDSL, e também tem uma fatia pequena do mercado total de telefonia, com 22 milhões de acessos para um total de 174 milhões de linhas fixas na Europa. Mas a competição está se tornando mais intensa e o que está virando o jogo em favor das empresas de TV a cabo é a oferta de ultra banda larga, com velocidades acima de 30 Mbps, conforme mostram os dados apresentados no Cable Congress, congresso de TV a cabo organizado pela associação europeia Cable Europe, que acontece esta semana em Amsterdã.
A resposta das teles têm sido o investimento em redes de fibra. "Mas quando isso acontece, em geral o que vemos é um crescimento mútuo, com um aumento das vendas dos dois lados", diz Rosalia Portela, CEO da espanhola Ono.
Para Andrew Barron, presidente da operadora de cabo sueca ComHem, competir com o xDSL ou com a fibra é melhor do que não ter nenhum competidor porque causa o efeito da promoção cruzada. "É como dois postos de gasolina na mesma esquina, em que os dois vendem mais". Para ele, o desafio agora é convencer as pessoas de que elas precisam de uma banda larga melhor. "O que precisamos agora é convencer todo mundo que eles precisam 100 Mbps, e isso vai custar um pouco mais", diz ele.
Para Manuel Cubero, COO da Kabel Deutschland, maior operadora de cabo da Alemanha e recentemente adquirida pela Vodafone, as operadoras de cabo entraram no radar das empresas de telecomunicações justamente por oferecerem uma oferta de banda larga fixa superior. "Acho que a concentração que estamos vendo na Alemanha deve se repetir em outros países", especula. É a mesma visão de Clif Marriott, responsável pela área de M&A da Goldman Sachs International. "Temos agora uma nova onda surgindo", diz ele, sobre as fusões entre empresas de cabo e operadoras móveis.
Em Portugal, a Optimus fez o mesmo movimento em relação à operadora Zon e especula-se que outros dois negócios semelhantes estejam para acontecer, sobretudo com a Ono, na Espanha (com a Vodafone), e na França, entre a operadora de cabo Numericable e a SFR. No Brasil as especulações envolvem uma transação entre GVT e TIM Brasil, ainda que oficialmente essas negociações tenham sido negadas.
Cabo ganha
A Europa tem mais de seis mil operadores de cabo, a imensa maioria de pequeno porte. Esses pequenos operadores, quando não são adquiridos pelos grandes grupos, estão começando a optar por uma migração para redes de fibra, como forma de enfrentar as operadoras de telecomunicações. Existem mais de 30 milhões de clientes de banda larga em FTTH, e cerca de 21 milhões de clientes de IPTV na Europa.
Mas aqueles operadores que permaneceram focados em redes HFC estão apostando fortemente em redes DOCSIS 3.0, a ponto de hoje praticamente 100% das redes de cabo europeias já estarem convertidas para essa versão mais recente do DOCSIS, que permite velocidades comerciais de até 500 Mbps.
A morte do xDSL
Segundo a consultoria IHS, os operadores de cabo estão conseguindo, pelo mesmo preço das operadoras de telecomunicações, oferecer o dobro das velocidades. Com isso, as vendas de acessos xDSL despencaram na Europa e hoje representam, em números absolutos, menos do que as vendas de banda larga em redes de cabo. Para se ter uma ideia, as operadoras de cabo conseguem crescer cerca de 2 milhões de assinantes na banda larga ao ano em um padrão estável desde 2005. Já as teles, que em 2005 cresciam 16 milhões de conexões de banda larga ao ano com xDSL, hoje crescem, nessa mesma tecnologia, menos de 1 milhão de assinantes ao ano. As telcos, contudo, estão totalmente focadas no crescimento da banda larga por meio de redes FTTx.
Samuel Possebon, de Amsterdã | Leia mais em Mobiletime 13/03/2014
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