07 março 2014

Com dólar alto e Bolsa fraca, fundos de private equity voltam às compras

Gestores de fundos que compram participação em empresas devem acelerar os aportes no mercado brasileiro este ano

 Com o dólar em alta e a bolsa em baixa neste início de ano, os empresários brasileiros voltaram a considerar os fundos de private equity - aqueles que compram participações em empresas - como um meio interessante de financiamento. O período fraco no mercado de capitais abre caminho para que os gestores de fundos façam novos investimentos no Brasil.

 A lógica por trás desse movimento é simples. Os empresários que apostavam na bolsa de valores como uma alternativa mais barata para captar recursos viram nos últimos meses vários grupos desistirem das ofertas de ações, por causa das incertezas macroeconômicas.

 "É um pessimismo que, de certa forma, está a nosso favor", diz Fernando Prado, responsável pela operação do espanhol Mercapital no Brasil, fundo que detém 70% da rede de restaurantes Rubayat. Ele diz isso porque em tempos de euforia, os empreendedores também se empolgam e acabam pedindo preços altos demais por seus negócios. "Agora, existem oportunidades dentro de uma expectativa de preços mais realista", afirma o diretor-geral do fundo americano Carlyle no Brasil, Juan Carlos Felix. 

Um dos fundos mais ativos do País, o também americano Advent, já fez duas aquisições desde dezembro de 2013: a varejista Dudalina e, mais recentemente, a farmacêutica United Medical - comprada por meio da colombiana Biotoscana, em janeiro. "Apesar do ambiente macroeconômico difícil, há subsetores, como saúde, educação e portos, com uma dinâmica de crescimento muito forte", diz Patrice Etlin, sócio do Advent na América Latina.

 O fundo voltou a comprar depois uma temporada de desinvestimentos. Entre 2011 e 2013, quando o País vivia um momento de euforia, o Advent se desfez de negócios como a instituição de ensino Kroton, a empresa de "free shops" Dufry e a câmara de ativos privados Cetip. O mercado calcula que o fundo devolveu neste período cerca de R$ 5 bilhões aos investidores. "Agora, é a hora de olhar aquisições no Brasil", diz Etlin.

 Disputa. Nos últimos anos, houve uma disputa entre a opção pelo IPO (sigla em inglês para oferta inicial de ações) e o aporte de private equities. "Como nos IPOs, os múltiplos tendem a ser maiores do que o de private ou do investidor estratégico, as empresas ficavam inclinadas a aguardar uma boa janela no mercado de ações", disse o sócio da advocacia Souza Cescom, Joaquim Oliveira.

 Essa situação, no entanto, começou a mudar no fim do ano passado. "Com dois anos seguidos sem a alternativa de bolsa e, na outra ponta, a desvalorização do real frente ao dólar favorecendo o interesse dos fundos de private equity, operações que começaram a ser negociadas em 2012 estão sendo fechadas", explica. Os fundos também têm oportunidade de investir em empresas alavancadas que não conseguem acesso ao crédito privado.

 "O mercado de capitais não é alternativa para a maioria das empresas", disse Walter Piacsek, sócio do Apax Partners, que lidera os investimentos do fundo americano de private equity no Brasil e na América Latina. Segundo ele, o momento une duas situações importantes para impulsionar os negócios dos private equities: de um lado, os fundos já captaram e estão com dinheiro para investir; do outro, estão empresas com preços mais razoáveis.

 "Os fundos estão com dólares parados e há uma pressão muito forte para investirem os recursos", diz o sócio da consultoria especializada em gestão e estruturação de empresas Heartman-House, Diego Báez. "O problema é que não encontram companhias preparadas para receber o aporte, dada a incapacidade que elas têm para prestar contas e dar andamento a um plano de negócios", disse.

 O presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), Clóvis Meurer, aponta os setores de infraestrutura, logística, educação, saúde e agronegócios como os mais aquecidos e que devem apresentar um maior número de transações neste ano.

 Fernando Hormain, da Camargue Capital Markets, cita ainda oportunidades em setores onde as empresas não conseguem mais sobreviver isoladamente. A Camargue estrutura a participação de um fundo em um grupo de usinas de São Paulo com dificuldades financeiras e que buscou a consultoria para resgatar suas atividades. /Por Cynthia Decloedt e Fernanda Guimarães, COLABORARAM CÁTIA LUZ, FERNANDO SCHELLER E NAIANA OSCAR | Leia mais em Estadao 07/03/2014

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