Adepta da contratação por aquisição, Apple prefere as empresas menores e está de olho na sua sala de estar
Uma empresa utilizava sensores de leitura dos movimentos do corpo. Outra recomendava programas de TV. Várias outras ofereciam serviços de localização e de mapas.
Todas elas tinham pelo menos uma coisa em comum: elas fazem parte das mais de 20 empresas relativamente pequenas que a Apple afirma ter comprado nos últimos 15 meses.
Enquanto as colegas gigantes da tecnologia atingiram acordos de bilhões de dólares nos últimos anos a fim de acrescentar novas armas importantes aos seus negócios – como o Facebook comprando a WhatsApp por até US$ 19 bilhões, e a Microsoft comprando a divisão de telefonia da Nokia por mais de US$ 7,1 bilhões – a Apple escolheu um rumo diferente.
A empresa tem evitado aquisições mirabolantes em favor de acordos menores, utilizando as empresas para sustentar ou preencher uma lacuna nos produtos já existentes ou que estão em fase de desenvolvimento.
Ainda assim, nos últimos anos, a Apple gradualmente aumentou o orçamento geral dessas aquisições. No último trimestre, por exemplo, a Apple gastou US$ 525 milhões em aquisições, quase o dobro do orçamento no mesmo período há um ano.
E embora as negociações possam ser pequenas – levando em conta particularmente o acúmulo de quase US$ 160 bilhões da Apple – elas oferecem uma visão do rumo que a empresa discreta está tomando e quais serviços ela está tentando criar ou melhorar.
A maior aquisição da Apple no ano passado foi a PrimeSense, uma empresa com quase 150 funcionários que a Apple comprou por US$ 300 milhões, segundo os relatórios. A PrimeSense desenvolveu os sensores da Microsoft para o Xbox que possibilita aos usuários o controle dos jogos usando os movimentos do corpo, e alguns analistas afirmam que a Apple pode finalmente vir a aplicar a capacitação e tecnologia da PrimeSense aos televisores.
A Apple também comprou a Matcha.tv, uma serviço que recomenda o que ver na TV, outra compra que sinaliza o seu forte interesse na sala de estar.
E a compra de serviços de dados de localização como o Locationary, o HopStop e a Embark sugere um forte interesse da Apple em serviços online – especialmente os serviços de mapa, onde a Apple foi duramente criticada por não ter a competência dos seus concorrentes, como o Google e a Nokia.
"Estão investindo preventivamente em áreas onde eles acham que há oportunidades de crescimento", declarou Ben Bajarin, analista de tecnologia de consumo da Creative Strategies, que acompanha a Apple. "Sem dúvidas, a Apple é um pouco mais concentrada em sua abordagem e disciplinada em relação às coisas que ela compra".
No entanto, como o crescimento dos lucros da empresa está em desaceleração nos últimos dois anos, alguns especialistas e analistas pediram que a empresa entrasse em outros mercados e criasse novos fluxos de receita através de um acordo inovador.
Os investidores e analistas sugeriram que a Apple comprasse a Tesla para fabricar carros, o Facebook para entrar na publicidade, o Netflix para se aprofundar na indústria do entretenimento, e até o Yahoo para entrar no negócio de buscas.
A Apple se recusou a comentar esse artigo, e nenhuma dessas possibilidades parece estar perto de se concretizar.
Mesmo assim, Timothy D. Cook, o diretor executivo da empresa, já declarou que a Apple não teria problema em pagar bilhões de dólares por outra empresa caso isso ajudasse a Apple a criar mais produtos de alta qualidade.
E a empresa sabe muito bem como um grande acordo pode ajudar. Em 1996, a Apple adquiriu a NeXT, a empresa de computadores fundada por Steve Jobs após ele ter sido forçado a sair da Apple, em grande parte para trazer Jobs de volta à empresa. O resultado foi uma das aquisições tecnológicas mais transformadoras da história: com Jobs de volta à direção, a Apple se ergueu da quase falência para ser uma empresa líder.
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Tim Cook: Apple não teria problema em pagar bilhões de dólares por outra empresa
Mas geralmente gastar enormes quantias de dinheiro em aquisições tem grandes riscos, declarou Brent Thill, analista da UBS AG, uma empresa de serviços financeiros que tem clientes na indústria da tecnologia.
Primeiro, os fundadores de uma empresa incorporada – que recebe a maior quantia de dinheiro em uma aquisição altamente valorizada – geralmente tentam pegar o dinheiro e correr para outro empreendimento. Segundo, pode haver discordâncias culturais: uma pequena empresa que esteja concentrada na introdução de novas tecnologias pode não se alinhar com o interesse do novo proprietário, que é o de conseguir maiores lucros.
Também, quando uma empresa de pequeno porte sofre fusão com uma empresa maior, ela se torna menos ágil porque fica vinculada às tecnologias do legado da corporação maior, e ela não pode mais inovar com tanta rapidez a fim de acompanhar os concorrentes.
A história da indústria tecnológica está repleta de grandes acordos que acabaram mal. Em 2010, a HP comprou a Palm, a fabricante de dispositivos móveis que passava por dificuldades, por US$ 1,2 um bilhão de dólares – e encerrou as operações da Palm após lançar o Toucada, um tablet que foi vendido por apenas cerca de sete semanas antes de morrer.
Em 2012, o Google comprou o legado da fabricante de aparelhos telefônicos, a Motorola Mobilista, por US$ 12,5 bilhões e, depois da decepção das vendas do seu primeiro smartphone de destaque, fechou um acordo para vendê-la a Lenovo por US$ 2,9 bilhões.
"Muitas aquisições das empresas de tecnologia, em minha opinião, perderam bastante o rumo", afirmou Thill.
Apple é adepta das contratações por aquisição
A Apple tem se arriscado menos nos últimos anos. Várias das empresas que ela comprou tinham entre uma ou duas pessoas, como a SnappyLabs, um único homem que desenvolvia aplicativos para câmeras. O fundador, John Papandriopoulos, engenheiro elétrico, havia desenvolvido um aplicativo que fazia com que a câmera do iPhone tirasse fotos de alta resolução em uma taxa de quadros mais alta do que o software da câmera embutida da Apple. A Apple comprou a empresa este ano e tornou Papandriopoulos um engenheiro de software.
Essas aquisições minúsculas, feitas em grande parte para incorporar as habilidades de uma pessoa assim como a empresa, são conhecidas no Vale do Silício como contratações por aquisição. Muitas outras principais empresas de tecnologia também fazem uso delas frequentemente. O Facebook tem sido especialmente fã de comprar pequenas empresas, como quando comprou o Beluga, um aplicativo de mensagens em grupo, para melhorar os serviços de mensagem do Facebook, e quando comprou a Push Pop Press, um criador de livro digital, para criar o seu aplicativo leitor de notícias chamado Paper.
Quando a Apple compra uma empresa iniciante com mais de duas pessoas, ela quase sempre está buscando grupos com capacitações específicas que trabalham bem em equipe, segundo uma pessoa que trabalhou em uma empresa iniciante que a Apple comprou no ano passado, e que solicitou anonimato porque não tinha autorização para falar com a imprensa. A Apple, então, pega essas pequenas equipes e lhes passa novos projetos ou as juntam às equipes mais antigas da Apple.
André Cardozo/iG
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Outros acordos são feitos na tentativa de mesclar novas tecnologias com produtos já existentes. Por exemplo, a sua compra da PA Semi em 2008, um fabricante de circuitos integrados, ajudou a Apple a projetar processadores mais avançados para os iPhones e iPads. E a sua aquisição da AuthenTec, de 2012, ajudou a possibilitar a tecnologia do sensor de digitais que finalmente terminou em novos iPhones.
"Mapas foi um setor onde eles fizeram muitas aquisições, e esse era um produto que saía muito cru", disse Maynard Um, analista financeiro da Wells Fargo. "Eles tinham a opção de investir organicamente a fim de melhorar o produto ou sair e comprar outras coisas".
Contudo, assim como essas aquisições sugerem as áreas onde a empresa está tentando se recuperar, outras oferecem fortes indícios sobre as novas áreas onde a empresa pretende se tornar líder.
Um desses acordos foi fechado com a PrimeSense, a fabricante de circuitos integrados que cria sensores em 3-D. Embora a tecnologia da empresa tenha sido usada até agora para aplicativos em TVs, e embora a Apple provavelmente investigue utilizações semelhantes, Bajarin da Creative Strategies declarou esperar que a Apple explorasse ao máximo outras aplicações da tecnologia.
Segundo ele, opções possíveis poderiam incluir coisas como transformar a câmera do iPhone em um scanner 3-D, que poderia enviar imagens para a reprodução em uma impressora 3-D, por exemplo.
Segundo Um, "A Apple historicamente nunca fez algo porque alguém mandou que fizesse. Eles fazem o que acham que é certo e seguem essa direção".
Leia mais em iG 15/03/2014
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