A construtora Andrade Gutierrez está por trás de alguns dos maiores ícones da engenharia brasileira, como a Usina Hidrelétrica de Itaipu, e megaprojetos no setor industrial, como a Refinaria Duque de Caxias (Reduc). Com seus tentáculos espalhados por áreas diversas como as de telecomunicações, operação de hidroelétricas, concessão de rodovias e, mais recentemente, gestão hospitalar. É exatamente nesse último nicho que o grupo mineiro vem apresentando uma de suas maiores taxas de crescimento.
A expectativa para este ano é de que o faturamento de sua controlada Logimed avance 20% em relação a 2013, passando de R$ 190 milhões para R$ 228 milhões, graças à construção de hospitais públicos, através de Parcerias Público-Privadas (PPPs), além da gestão de áreas como logística e suprimentos de unidades já existentes. O que despertou a cobiça dos executivos da Andrade Gutierrez foi o expressivo crescimento do setor de saúde no País, nos últimos dez anos. Especialmente em relação aos operadores privados. Números da Confederação Nacional de Saúde (CNS) indicam que a chamada cadeia da saúde, formada por laboratórios de exames clínicos, fabricantes de remédios, gestoras de planos de saúde e fornecedores de insumos e equipamentos para hospitais públicos e privados, já movimente o equivalente a 10,2% do Produto Interno Bruto (PIB).
Do total, o setor privado contribuiu com 57%. “O crescimento tem sido constante nos últimos anos”, afirma José Carlos Abrahão, presidente da CNS. “E tudo indica que continuará nesse ritmo pelos próximos anos.” A expectativa de Abrahão está em linha com o relatório preliminar divulgado pela Agência Nacional de Saúde (ANS), relacionado aos planos de saúde e odontológicos. Em 2013, as 1.274 operadoras tiveram faturamento conjunto de R$ 80 bilhões no acumulado janeiro-setembro, um avanço de 17,2% em relação a igual período de 2012. De acordo com especialistas, alguns fatores, como a melhoria na renda e o maior número de pessoas empregadas com carteira assinada, ajudam a explicar esse fenômeno.
Porém, outros componentes vêm colaborando com o PIB do setor. Um deles é o incremento das redes próprias de hospitais e laboratórios, movimento liderado por grupos de grande porte e que vem sendo acompanhado até mesmo por operadoras menores. De acordo com a ANS, 318 hospitais e 206 laboratórios são controlados por planos de saúde. Quem se destaca nesse nicho é a líder Amil, controlada pela americana United Health, dona das redes de hospitais Samaritano e Vitória, que disporão de 494 leitos no imponente Américas Medical City, no Rio de Janeiro, o maior complexo de saúde em construção no País. Trata-se de uma verdadeira potência.
A começar pelo montante que está sendo investido: cerca de R$ 600 milhões. O complexo vai ocupar uma área de 72 mil m² em um terreno situado entre os bairros Barra da Tijuca e Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro. Lá, serão erguidos também estrutura de apoio composta de laboratórios de exames, centros de ensino e pesquisa e 252 consultórios de especialidades médicas. Tudo informatizado, incluindo o centro cirúrgico, que contará com “médicos robôs”. A inauguração está prevista para junho, a tempo de atender os turistas que virão ao Brasil para a Copa do Mundo. Para entender esse movimento é necessário não perder de vista os custos do setor.
Para um segmento econômico que atua com margens apertadas, por conta da concorrência, e elevado nível de inadimplência, que chega até 20%, um real a menos ou a mais pode representar a diferença entre fechar o balanço no azul ou no vermelho. Por conta disso, o investimento em rede própria, que começou como balizador de custos, se tornou uma forma de as empresas ganharem escala e também prestarem serviços a terceiros. É o que faz a Prevent Senior, especializada em clientes a partir dos 49 anos. “As pessoas mais idosas demandam atendimento com maior frequência em relação aos mais jovens”, afirma Fernando Parrillo, CEO da operadora.
Atualmente, 80% dos procedimentos dos 220 mil associados da Prevent Senior são feitos nos oito hospitais da bandeira Sancta Maggiore, além dos dez ambulatórios da rede. O crescimento da demanda tem feito a operadora acelerar os planos de expansão. A meta até 2018 é inaugurar dois hospitais por ano. O investimento em 2014 será de cerca de R$ 140 milhões, volume considerável para quem obteve faturamento de R$ 794 milhões em 2013. “Como somos especializados nessa faixa etária, recebemos muitos pacientes de outros convênios,” diz Parrillo. A busca por um atendimento diferenciado e a maior longevidade dos brasileiros não estão mexendo apenas com a estratégia de quem atua na ponta do setor de saúde.
Os reflexos também já podem ser vistos na indústria. Isso porque, quanto mais hospitais públicos e privados são erguidos, maior é a demanda por equipamentos. Essa intensa movimentação se transformou na senha para potências globais, como a americana General Electric, nacionalizarem parte de sua produção. Foi isso que permitiu à empresa se tornar líder do segmento de equipamentos de ressonância magnética, com uma fatia de 40% desse mercado. A partir de abril, a unidade instalada em Contagem (MG) vai produzir aparelhos de ultrassom. Trata-se de um segmento que movimentou US$ 250 milhões em 2013, suprido basicamente por importação.
“A produção local permite que nossos clientes tenham acesso a linhas de financiamento do BNDES”, afirma Daurio Speranzini Jr., vice-presidente-comercial da divisão GE Healthcare. A principal vantagem é a taxa de juros mais baixa em relação à média do mercado. Por conta disso, os executivos que dão expediente na subsidiária não tiveram muito trabalho para convencer os chefões da matriz, em Connecticut, a aprovar o plano. “Apenas no ano passado, nossas vendas de equipamentos médicos cresceram 34%”, diz Speranzini Jr., sem revelar o montante. Para este ano, a expectativa é avançar outros 13%. O desempenho positivo, na casa dos dois dígitos, também acontece no caso de quem se dispõe não apenas a construir hospitais, mas também atuar na gestão dos serviços.
Como é o caso da Logimed, o braço da empreiteira Andrade Guitierrez. Criada em 2008 para explorar esses filões, sua arrancada se deu a partir de 2012, quando passou a crescer na faixa dos 20% ao ano. Graças à conquista de clientes como a Santa Casa de São Paulo e o hospital Lifecenter, de Belo Horizonte. Atualmente, a Logimed comanda o consórcio que constrói e vai gerir o Hospital Municipal de Belo Horizonte, no sistema de Parceria Público-Privada com a prefeitura. Trata-se de um empreendimento orçado em R$ 180 milhões. A visão otimista em relação ao futuro é compartilhada pelos executivos da Prevent Senior. Motivos não faltam: “A venda de planos de saúde deu um salto em dezembro”, afirma o CEO Parrillo. “Saímos de uma média mensal de três mil para nove mil contratos.” Autor: Ana Paula Machado e Rosenildo Gomes Pereira | IstoÉ Dinheiro
Fonte: tudofarma 10/02/2014
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