A acelerada expansão dos parques eólicos, que dominaram neste ano os leilões de energia do governo, tende a intensificar o movimento de fusões e aquisições nos próximos anos. Os empreendedores precisarão buscar ganhos de escala para tornar os projetos mais rentáveis, o que provavelmente vai reduzir o número de empresas que atuam no setor. Hoje, cerca de 30 grupos operam ou estão construindo eólicas no país. Como em todos os segmentos, é esperado que apenas três ou quatro arranquem na frente, dividindo entre si mais de 50% do mercado quando a indústria já estiver mais madura.
O setor passa por uma fase de euforia no Brasil: nunca se vendeu tantos contratos de energia eólica para entrega futura como nos leilões realizados em 2013, quando foram negociados 4,7 GW. Existem dúvidas, porém, se os empreendedores e os fabricantes de equipamentos terão fôlego financeiro para tocar tantos projetos até o fim.
"Tem bastante ativos éolicos à venda", afirma Marcelo Costa, diretor financeiro da Alupar, que abriu o capital há oito meses. No entanto, é difícil prever quantas aquisições serão concluídas. Segundo o executivo, o problema é sempre o mesmo: o preço. Os donos dos empreendimentos sempre acreditam que os projetos valem mais do que os compradores estão dispostos a pagar. "Um ativo pode ficar à venda por dois anos", diz Costa.
De acordo com a firma de consultoria EY, que publicou recentemente um panorama sobre o setor de energia no mundo, a indústria eólica brasileira passa por um "forte" movimento de fusões e aquisições. A EY cita o exemplo da Cemig, uma das maiores elétricas brasileiras, que comprou uma participação no bloco de controle da Renova por US$ 615 milhões neste ano. "Outras empresas do setor elétrico, incluindo a CPFL e a Tractebel (subsidiária do grupo GDF Suez) estão em busca de oportunidades no setor eólico", afirma a EY.
Mas a empresa que mais pisou no acelerador em 2013 foi a Casa dos Ventos, um "player" independente, que não pertence a nenhum grande grupo do setor elétrico. Segundo Lucas Araripe, diretor da companhia, a Casa dos Ventos comercializou 1,360 mil MW nos três leilões realizados em 2013, o maior volume negociado entre todas as empresas do setor.
Apenas no leilão A-5, realizado em dezembro, quando foram ofertados contratos de projetos que vão entrar em operação em 2018, a Casa do Ventos vendeu 508 MW, dos quais 280 MW na Bahia e 228 MW na Chapada do Araripe. A última região, entre o Piauí e Pernambuco, transformou-se neste ano em um novo polo eólico no Brasil, com um potencial instalado de 4 mil MW.
Com os excelentes resultados obtidos nos leilões, 2013 dissipou as nuvens negras que pairavam sobre o setor um ano antes, quando alguns fabricantes de aerogeradores foram descredenciados pelo BNDES, por não cumprirem com as exigências de conteúdo nacional, e alguns empresários venderam contratos na bacia das almas, a preços inferiores a R$ 90 por MWh. Isso sem considerar os problemas enfrentados no Nordeste, onde a construção das linhas de transmissão está atrasada, o que impede que os parques sejam conectados à rede elétrica.
Os novos parques leiloados neste ano vão demandar investimentos de R$ 21,2 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Energia Eeólica (Abeeólica). O recorde de 4,7 mil MW comercializado nos três certames é expressivo até mesmo para os padrões mundiais, sinalizando que os empreendedores continuam confiantes. De acordo com a presidente executiva da entidade, Elbia Melo, 2013 será lembrado como um "ano histórico".
No leilão de energia reserva, no qual foram ofertados usinas que ficarão prontas em dois anos, foram vendidos 1,5 mil MW, por um preço médio de R$ 110 por MWh. No leilão A-3, para parques que entram em operação em 2016, foram negociados outros 867,6 MW, por um preço médio de R$ 124,43 por MWh. No leilão A-5, de eólicas que começarão a gerar energia em 2018, o volume vendido superou as expectativas mais otimistas, totalizando 2,3 mil MW, que foram negociados por um preço médio de R$ 109,93 por MWh.
Com isso, a capacidade de produção de energia eólica deve dobrar daqui cinco anos, saltando para cerca de 14 mil MW. O Brasil deve encerrar 2014 com 7,7 mil MW de potência instalada, o que já corresponde a 4% da matriz elétrica brasileira.
Fonte: Valor Econômico/Claudia Facchini
Fonte: portosenavios 30/12/2013
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