21 outubro 2013

Terceirização de segurança ganha força

Com as ameaças se multiplicando e exigindo mais recursos para combatê-las, cresce a demanda por empresas do segmento

 A busca por serviços de segurança patrimonial tornou-se uma prática comum para grande parte das empresas. Diante da escalada da violência, hoje, muitas companhias preferem confiar a proteção de suas instalações a um parceiro especializado e munido de um arsenal de câmeras, alarmes, sensores e cercas elétricas. Longe das muralhas do mundo offline, essa mesma abordagem começa agora a ganhar fôlego no mundo virtual.

 Os chamados serviços gerenciados de segurança são prestados remotamente por empresas especializadas, a partir de centros de segurança. O modelo de terceirização envolve desde sistemas específicos de proteção até a gestão completa da infraestrutura de segurança da informação do cliente. O pagamento é baseado em taxas mensais e os contratos duram, em média, de três a cinco anos.

 A consultoria Frost & Sullivan prevê que o mercado de terceirização digital vai movimentar US$ 435 milhões este ano na América Latina. O Brasil responderá por 52,8% dessa receita. Um conjunto de fatores está por trás da evolução do segmento. A presença crescente das empresas na web e a sofisticação dos ataques virtuais são alguns dos elementos que compõem esse cenário.

 "Quanto mais a TI cresce dentro de uma empresa, mais esse ambiente fica vulnerável a ameaças e invasões", diz Bruno Tasco, analista sênior de Tecnologia da Frost & Sullivan. Ele destaca que até pouco tempo atrás, a segurança estava restrita a questões básicas, como um antivírus. "Hoje, esse universo é mais complexo e dinâmico, o que demanda muito investimento em infraestrutura e mão de obra especializada e qualificada."

 Segundo os especialistas ouvidos pelo Brasil Econômico, para fazer frente ao cenário atual de ameaças digitais, é necessário ter, no mínimo, dois centros de segurança. Uma das unidades funciona como um espelho da estrutura principal, o que ajuda a manter a alta disponibilidade da operação. O custo médio de instalação de um ambiente desse porte é de R$ 2 milhões. Já o custo anual de manutenção e pessoal varia de R$ 4,2 milhões a R$ 7,2 milhões. Em contrapartida, o modelo de terceirização reduz, em média, 50% dos custos de segurança dos clientes, dizem os fornecedores.

 "Ainda que uma companhia monte sua própria infraestrutura, ela só vai conseguir olhar pra dentro de casa. Um parceiro especializado, por sua vez, está em contato e aprende com ameaças em toda a sua base de clientes. Isso amplia as chances de resolução do problema", afirma Rogério Reis, vice-presidente de operações da Arcon. Ao mesmo tempo, diz o executivo, essa base de usuários permite que o fornecedor dilua os custos da operação.

 A Arcon protege 650 mil ativos de TI de clientes brasileiros e de operações na China, na Europa e nos Estados Unidos. O foco da empresa são grandes companhias, com predomínio dos clientes de indústria, governo e utilities. Os contratos variam de R$ 10 mil a R$ 400 mil. Uma das prioridades da empresa é aprimorar suas tecnologias. Com esse objetivo, a Arcon está investindo R$ 14 milhões em 2013.

 As tecnologias próprias também são um foco da Cipher. Desde o fim de 2010, quando recebeu um aporte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a empresa destinou R$ 10 milhões para essa vertente.

 A Cipher possui dois centros, em São Paulo e Miami, com uma unidade de redundância no Rio de Janeiro e uma de suporte em Londres. Os clientes internacionais respondem por 20% da receita da companhia, que tem crescido a uma taxa média de 30%. "Os principais clientes são as grandes empresas, especialmente em finanças, óleo e gás, e varejo", diz Eduardo Bouças, executivo-chefe e presidente do conselho da Cipher.

 Na avaliação de Marco Almeida, gerente do portfólio de serviços de segurança da IBM para a América Latina, a possibilidade de pagar pelo uso está alimentando a demanda também nas companhias de médio e pequeno portes. O centro da IBM em Hortolândia (SP) trabalha integrado com outras 10 unidades em todo o mundo. Essa estrutura global inclui um time de 4 mil profissionais, entre pesquisadores e analistas.

 O foco da IBM é associar a oferta de segurança a outros componentes de seu portfólio de serviços no país. "Os serviços de segurança se encaixam perfeitamente com outras estratégias da IBM, como por exemplo, o big data. A possibilidade de correlacionar diversos eventos permite ter uma gestão mais inteligente e proativa da segurança", diz Almeida.

 O big data aplicado à segurança também é uma das prioridades da brasileira Automatos. "Estamos aprimorando nossos sistemas analíticos. Quando você automatiza o conhecimento e a interpretação dos incidentes, o tempo de resposta fica menor", diz Fabio Braz, presidente da Automatos.Uma das quatro linhas de negócios da companhia, a segurança responde por 40% da receita da empresa. 

SEGURANÇA
 US$ 820 milhões: É a receita prevista para o mercado de serviços gerenciados de segurança na América Latina em 2018.

 52%: Será a participação do mercado brasileiro no setor no período, segundo estimativa da consultoria Frost & Sullivan.

 Caminho aberto para a consolidação do setor no país 

 O segmento de serviços gerenciados de segurança ainda é fortemente pulverizado no Brasil. As empresas locais estão à frente das multinacionais, com uma participação somada de 55%, segundo a Frost & Sullivan. O leque de fornecedores inclui empresas que atuam exclusivamente com esse modelo; companhias de serviços de tecnologia, como IBM, Hewlett-Packard (HP) e Tivit; e as operadoras de telecomunicações.

 No entanto, dentro do processo natural de qualquer mercado em amadurecimento, esse cenário fragmentado parece estar com os dias contados. "Já existem empresas menores, especializadas em algum nichos, que começam a se destacar", diz Bruno Tasco, analista sênior do mercado de tecnologia da Frost & Sullivan. "Naturalmente, esses pequenos fornecedores começam a ser alvo das empresas de maior porte", observa.

 As aquisições estão no radar da Cipher. Os possíveis acordos incluem empresas brasileiras e da América Latina. Esses esforços integram uma meta mais ampla. "Queremos atingir um patamar de receita que nos permita abrir capital até 2018", diz Eduardo Bouças, executivo-chefe e presidente do conselho da Cipher.

 A Arcon segue a mesma orientação. "Queremos liderar a consolidação do setor na América Latina. Temos um plano de três anos nessa direção, envolvendo aquisições", diz Rogério Reis, vice-presidente de operações da Arcon.

 O movimento inverso - com empresas estrangeiras investindo no país - também é uma tendência. Em 2012, a americana Etek e a chilena NovaRed formaram uma joint venture para atuar no mercado brasileiro de serviços gerenciados de segurança.

 Depois de comprar a Disec, em 2010, a Automatos negocia uma fusão com uma empresa local de software. "A ideia é aprimorar nosso portfólio próprio de sistemas", diz Fábio Braz, presidente da Automatos. O executivo diz que o acordo está bem encaminhado e pode ser anunciado ainda em 2013. Moacir Drska
Fonte: brasileconomico 21/10/2013 

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