Um grupo de corretoras vem se reunindo desde o fim do ano passado para discutir um ambicioso plano de fusão para criar uma espécie de "supercorretora". A ideia inicial foi reunir os negócios sob uma única estrutura e fazer com que cada instituição participante focasse na atividade em que é mais especializada. Juntas, as instituições seriam avaliadas em R$ 1,2 bilhão, apurou o Valor. Não por acaso, trata-se de uma cifra semelhante à obtida pela XP Investimentos no aporte recebido da gestora General Atlantic, no fim de 2012.
Em meio a um cenário de forte competição em um mercado estagnado e sob constante pressão por investimentos pesados em tecnologia, as corretoras caminham para um inevitável processo de consolidação. A principal vantagem são os ganhos de escala, já que os custos para a manutenção da estrutura são praticamente fixos, independentemente do volume negociado em cada plataforma.
As conversas escassearam, mas seguem em andamento. O valor estimado do negócio dificilmente chegará ao pretendido. A principal razão são os passivos fiscais que as instituições carregam nos balanços. A Receita Federal cobra delas impostos referentes ao processo de desmutualização e posterior fusão das bolsas, das quais as corretoras eram associadas. A cobrança é contestada e segue em discussão. No fim do ano passado, esse passivo era estimado em cerca de R$ 80 milhões por advogados.
As negociações para a fusão que criaria a supercorretora, que ocorriam com uma frequência de uma vez por mês, geralmente na sede da corretora Spinelli, perderam força. A última reunião ocorreu há cerca de três meses. Além das pendências com a Receita, processos relacionados a eventuais contingências futuras dificultam o entendimento, segundo uma fonte que participa do grupo que estuda se unir.
A avaliação, no entanto, é que as pendências com o Fisco são contornáveis, ainda que os negócios não saiam nos valores pretendidos. O principal entrave apontado para a esperada consolidação do mercado é de governança. Nas conversas entre as empresas, uma das dificuldades é estabelecer quem assume o comando. O problema só aumenta quando se fala da união de várias corretoras, como na proposta em discussão.
Uma das alternativas é a contratação de executivos no mercado, mas a solução não encontra consenso. "Como dizer para o sócio que trabalhou a vida inteira na corretora que ele não terá mais sala na empresa?", questiona um executivo que acompanha as negociações. O mais provável é que, do grupo inicial, se formem duas ou três associações, de empresas com serviços complementares.
Apontada como um potencial consolidador de mercado, a XP Investimentos fechou negócios com as corretoras Interfloat, Senso e Prime nos últimos anos. Mas o modelo das operações incluiu apenas a incorporação da carteira de clientes, e não a aquisição de toda a operação. A XP continua interessada em crescer com a incorporação de clientes de outras instituições, mas as negociações em curso têm travado em questões comerciais, diz Marcelo Maisonnave, diretor e fundador da XP. "No modelo que adotamos, a questão dos passivos não nos afeta", afirma.
O aguardado movimento de fusões no setor não deve se concretizar antes que as empresas se ajustem à nova realidade do mercado, diz Raymundo Magliano Neto, presidente da Magliano Corretora. Além da união com o objetivo de reduzir custos, outra saída apontada pelos especialistas é diversificar as fontes de ganho ou atuar em nichos específicos.
Uma das mais tradicionais corretoras do mercado, a Magliano decidiu no início do ano fechar um acordo para a estrutura tecnológica da CGD Securities. Ao operar no sistema por "conta e ordem" de outra corretora, a empresa obteve uma economia de cerca de 50% nos custos com tecnologia e ainda desbloqueou as garantias de R$ 25 milhões que precisava manter depositadas na bolsa, conta.
Questionado sobre uma possível fusão, ele diz que esse movimento pode não ocorrer necessariamente com outra corretora. "Pode fazer mais sentido uma associação com uma gestora", afirma, ao destacar os investimentos da Magliano em fundos próprios.
A Souza Barros seguiu o mesmo caminho e finalizou em agosto a terceirização de sua estrutura tecnológica para a CGD Securities. "Foi uma decisão bastante adequada. De fato, houve redução significativa nos nossos custos e deve continuar ocorrendo", diz Eduardo Lobo Fonseca, diretor da corretora.
Mesmo entre as corretoras que decidiram se manter com toda a estrutura, a palavra de ordem é especialização. A Fator concentrou a atuação da área de análise nas empresas de menor capitalização de mercado. "Como somos praticamente a única casa que faz esse trabalho, as companhias passaram a demandá-lo", afirma Rogelio Gonzalez, diretor-geral da Fator Corretora.
O diretor da Coinvalores, Paulino Botelho, diz que não está na estratégia se tornar uma corretora simplificada (por conta e ordem ou plena). A corretora segue investindo na plataforma eletrônica, na estrutura tecnológica e na equipe de análise. Uma fusão não está no radar. "Não participamos de nenhum tipo de conversa", afirma. Por Vinícius Pinheiro e Karin Sato | De São Paulo
Valor Econômico -
Fonte: resenhaeletronica17/10/2013
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