O ainda restrito grupo de empresas logísticas com capital aberto poderá ter um novo integrante a partir deste ano. Apesar de ter cancelado em janeiro o pedido de registro para realizar sua oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), a Vix Logística segue firme na intenção de abrir o capital o quanto antes. Em entrevista ao Valor em Vitória, cidade sede da empresa, o diretor-geral da unidade logística do grupo Águia Branca - controlador da Vix -, Kaumer Chieppe, deixou claro que só estava esperando o processo de IPO da fabricante de software Linx para tomar uma decisão. E a julgar pelo resultado - a empresa conseguiu vender os papéis no topo da faixa de preço sugerida e as ações dispararam na estreia -, a Vix tem tudo para voltar com gás no processo.
Com base no Espírito Santo, a Vix tem forte atuação no segmento rodoviário e conta com quatro linhas de negócios: fleet service (gestão, terceirização de frota e aluguel de carros), com 31% do faturamento; logística automotiva (transporte de veículos, gestão logística de pátio, operação portuária e transporte de contêineres), com 27% da receita; logística dedicada, com 23%; e fretamento, com 11%. A fatia remanescente, de 8%, parte de renovação de frota.
Segundo o diretor-geral, a logística dedicada, área na qual enfrenta a gigante JSL, tende a ganhar peso nos negócios nos próximos anos. "É onde vemos maior potencial de crescimento", diz Chieppe, filho de Aylmer Chieppe, um dos três fundadores do grupo Águia Branca.
Com receita líquida de R$ 795,2 milhões em 2012, um aumento de 16% sobre 2011, a empresa lucrou R$ 50,6 milhões no ano, valor 48% superior ao do exercício anterior.
No prospecto preliminar do IPO, a empresa citou como um dos riscos de sua operação a concentração das receitas em poucos clientes. Em 2011, mais de 50% do faturamento decorreu da prestação de serviços a seis clientes, sendo que mais de 20% a apenas um deles. Por isso a palavra de ordem é diversificação, o que vai possibilitar o crescimento da empresa, segundo Chieppe.
Hoje, o portfólio tem 36 companhias e inclui Petrobras e Vale. Neste ano, a Vix conta com quatro novos contratos - Magnesita, White Martins, Coca-Cola e Usiminas -, que devem adicionar 500 funcionários às operações da empresa. Os setores de mineração, automotiva e de óleo e gás são os principais para a companhia.
A intenção da Vix é consolidar as operações e expandir os serviços prestados aos clientes atuais (o chamado cross-selling). A empresa atua praticamente no país inteiro e na Argentina, com uma operação prestada para a Toyota.
A primeira tentativa de ingressar na bolsa ocorreu em 2007, justamente o melhor ano para o Brasil em termos de IPOs, com 64 companhias ingressando na Bovespa. "Chegamos atrasados", afirma Chieppe.
Agora, nessa segunda experiência iniciada em maio de 2012, a Vix pretende fazer uma oferta mista e levantar cerca de R$ 630 milhões, com a venda de até 35% de suas ações e o ingresso no Novo Mercado. A baixa liquidez dos mercados mundiais, contudo, tem atrapalhado os planos mais uma vez.
"Nada impede a empresa de continuar crescendo sem a capitalização, mas gostaríamos do aporte de recursos para acelerar o processo", afirma o diretor-financeiro e de Relações com Investidores da Vix, André Gaia. "Não vamos sair queimando o ativo", reforça Chieppe.
Segundo os executivos, o setor oferece muito espaço para o crescimento da Vix. "A empresa vem se expandindo de forma bastante consistente e o projeto é continuar nesse ritmo. Com a capitalização, você se credencia não só para crescer mais rapidamente, mas para fazer parte de uma eventual consolidação mais à frente", diz Gaia.
Apesar da má experiência anterior, a Vix não considera um "plano B" para um novo fracasso na bolsa. A empresa chegou a estudar uma associação com um fundo de investimento após a primeira tentativa de IPO, mas o processo não foi adiante.
Gaia e Chieppe dizem que a companhia está mais madura que em 2007 e, embora longe do ideal, o cenário econômico também está melhor. "A empresa está madura para o processo e tem condição de crescer com ou sem o IPO", reforça o diretor-financeiro.
Neste processo de preparação para a listagem, Gaia entrou em junho de 2012 para montar o departamento de RI. O executivo tinha uma experiência de oito anos na Embraer, onde exerceu o mesmo cargo. Hoje a Vix tem os resultados auditados, comitês de finanças e gestão de pessoas e conta com Emílio Humberto Carazzai Sobrinho, que foi presidente do banco Pine e da Caixa Econômica Federal, como conselheiro independente.
O grupo Águia Branca fechou o primeiro contrato logístico em 1971, com a operação de fretamento da Usiminas. A marca Vix Logística, contudo, só foi criada em 1992 e hoje responde por metade do faturamento do grupo, desconsiderando sua participação de 16,6% no capital da Azul.
Com 11,6 mil funcionários (número que não contempla a aliança entre Trip e Azul), dos quais 6,2 mil na Vix, os negócios do grupo Águia Branca tiveram origem em 1946. Apenas em 1957, contudo, com a entrada da família Chieppe, a companhia passou a adotar esse nome, quando adquiriu a empresa de ônibus Águia Branca. O nome teve origem na primeira linha da empresa, que seguia de Colatina à Águia Branca, cidade de origem polonesa que tinha uma águia branca como símbolo. Além da Vix e da participação na Azul, o grupo, com faturamento em torno de R$ 4 bilhões, tem outras dez empresas. Por Beatriz Cutait De Vitória e São Paulo Valor Econômico
Setor ainda é pouco disputado na bolsa
O caminho da Vix em direção ao mercado acionário lembra em muito o percorrido pela JSL, mais conhecida como Julio Simões Logística. O histórico familiar, o início de atuação no mesmo período do grupo Águia Branca (1956, no caso da JSL) e as áreas de negócios podem servir de bom prenúncio para o desempenho da empresa capixaba na Bovespa. Em 2010, quando fez a oferta pública inicial de ações, as ações da JSL, empresa sediada em Mogi das Cruzes (SP), subiram 39,4% e, desde então, seu valor de mercado já aumentou cerca de R$ 1,9 bilhão, ou 120%.
O porte da empresa paulista mudou e a inicialmente transportadora se transformou em uma referência em operações logísticas, com uma receita bruta que passou de R$ 2,26 bilhões, em 2010, para cerca de R$ 4,5 bilhões em 2012, segundo dados preliminares.
A Tegma, companhia com foco na logística automotiva, também ganhou impulso desde que abriu o capital. Sua receita bruta passou de R$ 861 milhões para R$ 1,886 bilhão, de 2007 para 2011. Seu valor de mercado cresceu 39%.
Um analista que acompanha logística diz que o setor é muito sensível, difícil de entrar, mas desperta bastante apetite dos investidores e um interesse comprador sobre os papéis.
O foco de exploração da logística dedicada pela JSL, linha de negócio que responde por cerca de metade de seu faturamento, também deve ser o grande atrativo da Vix, ainda que demande muito capital intensivo. Já a parte de logística automotiva, disputada com grandes players, tende a perder força na empresa, diz o analista. O fato de ter a estrutura de um grande grupo por trás como o Águia Branca também poderá ser visto como uma vantagem da Vix.
O analista de logística do Banco Santander, Pedro Balcão, considera que a entrada da JSL no mercado de capitais foi muito positiva no sentido de profissionalização da gestão. "Passaram a ter maior preocupação no sentido de 'disclosure' [divulgação de informações], o que acaba sendo positivo para os clientes, que valorizam uma empresa listada, com informações melhores e mais transparente", afirma Balcão, ressaltando a melhora da governança corporativa da companhia paulista. "E acho que foi a vinda para a bolsa o catalisador dessas alterações."
Ainda que as mudanças pós IPO também tenham sido sentidas, principalmente com as aquisições anunciadas e o ingresso no segmento de comércio eletrônico, as influências do mercado de capitais no dia a dia da Tegma foram menores aos olhos do mercado.
O setor logístico é bastante pulverizado, com empresas familiares e de atuação regional, o que dá amplo espaço para o movimento de fusões e aquisições. Resta ver os efeitos que a listagem terá na agressividade da Vix. Além de enfrentar JSL e Tegma, a empresa vai concorrer na Bovespa com empresas focadas na locação de frota, caso da Locamerica e Localiza. (BC) Valor Econômico
Fonte: cvmclipping 06/03/2013
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