A BRQ, empresa brasileira de serviços de tecnologia da informação (TI), planeja fazer sua listagem no Bovespa Mais, o segmento de acesso da bolsa, até o fim do ano. A informação foi dada ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, pelo executivo-chefe da companhia, Benjamin Quadros.
O compromisso de fazer a listagem foi acertado com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), um dos acionistas da BRQ, no dia 8, em uma reunião ocorrida logo após a cerimônia de abertura de capital de outra empresa de TI, a Senior Solution, especializada em software para o setor financeiro.
A listagem não implica, inicialmente, uma oferta pública inicial de ações. Esse será um passo posterior, que poderá ocorrer em até dois anos depois da entrada na bolsa, informou o executivo. "[A abertura de capital] sempre esteve nos nossos planos. Resolvemos fazer a listagem para acelerar o trabalho de adequacão às regras que regem as companhias abertas e ficarmos prontos para a oferta de ações quando for o momento", disse Quadros.
O processo de listagem da BRQ segue os esforços do BNDES de fomentar o mercado de capitais no Brasil. Neste ano, apenas duas empresas abriram o capital até agora - a Linx, também de tecnologia, e a Senior Solution. Em ambas, o banco era um dos sócios. O BNDES, por meio de seu braço de participação em empresas, o BNDESPar, comprou participação na BRQ em 2007, com aporte de R$ 50 milhões. Na época, a companhia também tomou um empréstimo de R$ 6 milhões do próprio BNDES. A BRQ tem outros quatro acionistas, todos executivos da empresa.
A listagem no Bovespa Mais é vista como uma maneira de permitir às companhias se acostumarem ao mercado de capitais para ganhar confiança e fazer uma oferta de ações. O BNDES estima que até meados do ano que vem pelo menos mais três empresas entrarão no Bovespa Mais. Na área de TI, o BNDESPar tem investimento em mais de 40 companhias, entre elas a Ci&T, de serviços, e a fabricante de chips Six Semicondutores.
A BRQ fechou 2012 com uma receita de R$ 435 milhões, 30% superior à de 2011. Para este ano, o objetivo é crescer mais 30%. Segundo Camilo Perez, diretor da BRQ, além de elevar as vendas no ano passado, a companhia aumentou a rentabilidade em mais de 100% impulsionada por medidas de eficiência operacional. Os números não são detalhados.
Segundo Quadros, a companhia não tem dívidas. A BRQ reúne quatro mil funcionários, 14 escritórios no Brasil e uma operação nos Estados Unidos. Os principais setores de atuação são finanças, telecomunicações e energia. O foco das operações é o mercado brasileiro.
A terceirização de serviços de TI no país movimenta mais de US$ 15 bilhões por ano, segundo a empresa de pesquisa IDC. O mercado é um pouco mais concentrado que a média mundial: 39% da receita está nas mãos das 10 maiores companhias. A média global é de 34%. As maiores companhias do setor são IBM, Accenture, HP, Capgemini e Tivit.
A estratégia da BRQ está centrada na oferta de softwares e serviços por meio de contratos de longo prazo, que oferecem maiores margens e maior previsibilidade de receitas. O modelo é uma evolução da prática tradicional das companhias do setor de contratar milhares de pessoas e desenvolver programas sob encomenda para outras empresas. Uma das áreas de maior interesse da BRQ é a terceirização de processos de negócios, o chamado BPO.
Nesses contratos, o prestador de serviços assume todas as atividades do departamento de uma empresa. Exemplo disso é o contrato recém-firmado com uma empresa do setor de energia da região Nordeste, pelo qual a BRQ vai administrará todas as agências e sistemas de atendimento ao cliente. A recorrência de receitas foi um dos grandes atrativos da abertura de capital da Linx, que tem 75% de suas receitas estão nesse modelo.
Para Quadros, a principal dificuldade na abertura de capital é apresentar o mercado de serviços de TI aos investidores e explicar o modelo de negócios da BRQ. "O mercado está acostumado com a área de software, que é muito diferente do setor de serviços de TI", disse o executivo. A BRQ já tem participado de eventos realizados por bancos de investimento para conversar com investidores. Por enquanto, porém, ainda avalia quais bancos serão contratados para assessorar a empresa no processo de listagem.
A companhia já escolheu o executivo que vai assumir o cargo de relações com investidores. Rodrigo Ganimi, que está na companhia desde 2009, acumulou a função ao cargo de principal executivo de operações da BRQ. "Optei por não contratar uma pessoa de fora para ter alguém com a cara da empresa no cargo", disse Quadros.
Na avaliação do executivo, a BRQ precisa atingir uma receita de pelo menos R$ 700 milhões por ano para fazer uma oferta de ações. A expectativa é que esse patamar seja atingido em 2015. A conta se baseia no lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação versus o faturamento total. No caso das empresas de serviço de TI, essa margem costuma ficar em 10%, ou seja, para cada R$ 10 de receita, R$ 1 é lucro.
Essa margem é bem inferior à do segmento de software - no qual atuam companhias como Totvs e Linx, ambas já na bolsa - que pode chegar a 30%. A diferença é resultante, principalmente, do alto custo de mão de obra em serviços de TI.
De acordo com Quadros, os meses seguintes à listagem servirão para definir se a companhia fará sua abertura de capital no Bovespa Mais ou no Novo Mercado - o segmento principal da bolsa. Para o executivo, ainda é cedo para estimar quanto a BRQ poderia captar na abertura de capital. Para ele, o mais importante é que o mercado entenda o modelo de negócios e a estratégia da companhia. "Com isso, temos certeza que a BRQ será muito bem avaliada", afirmou o executivo. Por Gustavo Brigatto | De São Paulo
Valor Econômico
Fonte: clippingmp 19/03/2013
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