O crescimento via aquisições será um dos temas da pauta da reunião de hoje do conselho global da Deloitte, que ocorre pela primeira vez em São Paulo.
A revelação foi feita em entrevista exclusiva ao Valor por Barry Salzberg, presidente-executivo da segunda maior rede de auditoria e consultoria do mundo, que teve receita de US$ 31,3 bilhões no ano fiscal encerrado em maio. "Quando há uma oportunidade e você quer crescer rápido, a melhor maneira de conseguir isso é fazendo aquisições", disse ele.
A escolha do Brasil como sede da reunião do conselho se deve ao papel de destaque do país dentro do plano estratégico da firma. "Além do dinheiro, resolvemos vir fisicamente para demonstrar nosso compromisso", afirmou Salzberg, lembrando que a unidade brasileira deve receber US$ 85 milhões para investimentos nos próximos três anos, do total de US$ 750 milhões reservados pela rede para 11 países prioritários.
O presidente da Deloitte diz que está "100% confiante" de que a desaceleração da economia local é um ponto fora da curva numa tendência de expansão relevante. "O Brasil tem mostrado um crescimento muito bom tanto na receita como no lucro."
No último exercício, a receita da Deloitte no Brasil cresceu 12%, para R$ 932 milhões, enquanto no mundo a expansão foi de 8,6%.
Em nível global, Salzberg diz que há uma tendência de consolidação na área de consultoria, que representa atualmente 40% do faturamento global da Deloitte.
Segundo Salzberg, há três grandes razões para esse movimento ganhar força agora.
O primeiro deles têm a ver com a globalização. De acordo com ele, as consultorias que não têm presença em todos os mercados notam que para atender grandes multinacionais precisam investir bastante dinheiro para se estabelecer em mais países. Como opção, podem se associar a parceiros que já tem operação global.
Salzberg diz também que, por causa da desaceleração da economia, muitas consultorias estão com capacidade de infraestrutura e de pessoal acima do volume de serviços, o que cria espaço para união com outras empresas.
Por fim, o executivo admite que o momento mais morno da economia faz com que o preço exigido pelos vendedores fique mais próximo do que os compradores estão dispostos a pagar. "É mais fácil fechar negócio agora do que quando a economia estava em alta", afirma Salzberg.
Embora não tenha sido citada diretamente pelo executivo, a compra da Monitor Group pela Deloitte no fim do ano passado se encaixa nesse perfil. A consultoria focada em estratégia fundada pelo guru dos negócios Michael Porter decidiu pela venda depois de passar por dificuldades financeiras decorrentes da crise global.
Numa pequena provocação, o executivo da Deloitte acrescentou que, do ponto de vista dos principais competidores, há uma razão adicional para o interesse em crescer via aquisições na área de consultoria. "É um reconhecimento da sabedoria do nosso modelo de negócios", disse Salzberg.
Entre as quatro grandes de auditoria, grupo que reúne também PwC, Ernst & Young e KPMG, a Deloitte foi a única que não vendeu a divisão de consultoria no início da década passada, depois dos escândalos contábeis envolvendo Enron e WorldCom.
Em um ambiente econômico desafiador, as "Big Four", com portfólio de negócio mais diversificado, levam vantagem sobre as consultorias "puras". Com crise ou sem crise, balanços precisam ser auditados, e o serviço de auditoria garante de 40% a 50% da receita dessas empresas.
Em termos de ramo de interesse, Salzberg diz que a Deloitte observa oportunidades de aquisição em áreas como serviços financeiros, gestão de risco, análise de dados, sustentabilidade e consultoria estratégica.
Já o momento do anúncio de uma nova transação é mais difícil de prever, já que cada negociação tem seu ritmo. "Temos várias oportunidades em vista. Você não casa se não tiver uma noiva."
Por Fernando Torres Valor Econômico
Fonte: fenacon 20/02/2013
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