25 fevereiro 2013

Confiança e grandes fusões animam a economia

A megafusão voltou.

 Para o negócio das aquisições corporativas, a última meia década foi de entressafra. Executivos-chefes e operadores de Wall Street, abatidos pela crise financeira, careciam de confiança para selar as audaciosas aquisições multibilionárias de outras épocas.

 No entanto, nas primeiras semanas de 2013, as fusões reavivaram-se repentinamente. O conglomerado Berkshire Hathaway, comandado por Warren Buffett, associou-se a investidores brasileiros para adquirir por cerca de US$ 23 bilhões a fábrica de ketchup H.J. Heinz.

A American Airlines selou um acordo estimado em US$ 11 bilhões para se fundir à US Airways.

 Essas transações ocorrem após a notícia de que a fábrica de computadores Dell planeja vender seu controle acionário por US$ 24 bilhões ao seu fundador, Michael Dell, e a outros investidores.

 A Liberty Global, controlada por John Malone, fechou por US$ 16 bilhões a compra da empresa britânica de TV a cabo Virgin Media.

 "Quando conversamos com nossos clientes corporativos e também com os banqueiros, eles falam de um aumento da confiança", disse John Bick, sócio do escritório de advocacia Davis Polk & Wardwell, que assessorou a Heinz na venda a Buffett e aos seus sócios.

 Uma confluência de fatores tem guiado as recentes transações.

 O mais visível deles é a alta das Bolsas -recentemente, o índice S&P 500 atingiu seu maior nível desde novembro de 2007. A valorização das ações estimula as empresas a se ampliarem.

 Algumas nuvens que pairavam sobre os mercados no ano passado também sumiram. A atividade de fusões e aquisições em 2012 foi morna porque as empresas adotaram a atitude de esperar para ver o resultado da eleição presidencial dos Estados Unidos e das negociações sobre o chamado "abismo fiscal".

 Os problemas na Europa, que se agravaram em 2011, impediram várias transações potenciais, mas a região também já se estabilizou.

 Bick disse que as megafusões têm um componente psicológico: quando elas começam, os executivos-chefes não querem ficar para trás. "As transações geram mais transações", disse ele.

 Uma razão central para a atual tendência é o grande volume de dinheiro no caixa das empresas.

 Após a crise financeira, as companhias se retraíram, demitindo empregados e cortando custos. Agora, as companhias do índice S&P 500 estão sentadas sobre mais de US$ 1 trilhão.

 Com os juros próximos a zero, esse dinheiro está rendendo muito pouco nas contas bancárias, então os executivos querem colocá-lo para trabalhar, por meio da aquisição de outras empresas.

 Os fundos de investimentos em participações também estão voltando à ativa.

A proposta de compra alavancada da Dell, comandada por Michael Dell e pela empresa de investimentos Silver Lake Partners, foi a maior transação de "private equity" (compra de participação em empresas) desde julho de 2007, quando o Blackstone Group adquiriu a rede hoteleira Hilton Worldwide por US$ 26 bilhões.

 Mas talvez o principal fator por trás da volta das aquisições corporativas seja a renovada saúde do sistema bancário, já que corporações e investidores só podem realizar essas aquisições multibilionárias se os bancos estiverem dispostos a emprestar dinheiro.

 Durante anos, os bancos, com seus balanços sobrecarregados por hipotecas "tóxicas", pararam de emprestar.

 Mas, agora que a crise imobiliária ficou para trás e as condições estão melhorando, os bancos voltam a oferecer créditos corporativos a juros baixíssimos a fim de financiar as aquisições.

 Os bancos, evidentemente, são grandes beneficiários das megatransações, recebendo enormes comissões por assessorar as negociações e por conceder o financiamento.

 As fusões e aquisições nos EUA já totalizam US$ 158,7 bilhões desde o começo do ano, segundo dados da Thomson Reuters, mais do que o dobro registrado no mesmo período do ano passado.

 Buffett declarou que os bancos corrigiram seus negócios e não constituem mais uma ameaça à economia. "Os índices de capital estão enormes e os excessos no lado dos ativos foram em grande parte eliminados", disse Buffett.

 A maioria dos envolvidos matiza seus comentários sobre o atual ambiente, fazendo alertas sobre comportamentos indisciplinados, como exageros na avaliação de empresas e no endividamento para adquiri-las.

 Embora as empresas de "private equity" tenham sido afetadas pela crise financeira, elas saíram relativamente sólidas dessa fase.

 Muitas das megatransações, como a do Hilton, pareciam fadadas à falência depois que os mercados desmoronaram na crise, mas já se recuperaram.

 Os negócios beneficiaram-se da melhoria econômica e também da robustez dos mercados creditícios, o que permitiu que as empresas rolassem enormes dívidas que venceriam nos próximos anos.

 Mas ainda há muitas histórias que servem de alerta acerca de transações caras e alavancadas demais. É o caso da Energy Future Holdings, alvo da maior transação de "private equity" da história. Vendida no auge das fusões, em outubro de 2007, a empresa sofreu com o preço baixo do gás natural e com o excesso de dívidas e pode ser obrigada a se reestruturar neste ano.

 Até Buffett errou com a Energy Future Holdings, na qual investiu US$ 2 bilhões. Ele admitiu no ano passado aos acionistas que o investimento foi um equívoco. "No linguajar do tênis", escreveu ele, "esse foi um grande erro não forçado". Por PETER LATTMAN
Fonte: Folha.uol 25/02/2013

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