10 dezembro 2012

TI e telecom são 'motor' de fusões e aquisições no mundo

"Eles têm medo de mim, parceiro, e terão medo de você... É a nossa vez". Esse diálogo fictício entre Mark Zuckerberg, executivo-chefe do Facebook, e Sean Parker, um dos fundadores do Napster, no filme "A Rede Social" resume bem por que, apesar da queda dos negócios nos últimos anos, as companhias de tecnologia, mídia e telecomunicações (conhecidas por "TMT") ainda estão ativas em fusões e aquisições.

 No mundo da tecnologia, permanecer parado não é uma opção. Vários anos depois de a crise financeira tumultuar os mercados globais, muitas dessas companhias estão voltando a fazer fusões e aquisições. As empresas de telecomunicações e tecnologia foram responsáveis por alguns dos maiores negócios realizados em 2012. O Facebook dominou as manchetes sobre negócios depois de organizar a maior operação de abertura de capital já realizada, apenas para ver depois o valor de sua ação despencar. Isso aconteceu depois de a empresa firmar um acordo de US$ 1 bilhão para a compra do Instagram, um site de compartilhamento on-line de fotografias em crescimento acelerado.

 Cheias de dinheiro, as companhias de tecnologia têm poder de fogo para fazer negócios. Na verdade, as empresas de tecnologia tiveram um ano bem agitado, enquanto muitas outras áreas do mundo dos negócios encolheram, passando a se concentrar nas operações consideradas essenciais, em vez de partir para as fusões e aquisições.

 Os valores de fusões e aquisições no setor de tecnologia quase dobraram no ano passado e continuaram crescendo em 2012, mesmo com a redução dos negócios em outras áreas. Os negócios envolvendo as TMTs no mundo cresceram 2,5% no ano até 22 de novembro, em comparação ao mesmo período de 2011, estimulados pelos ganhos de até dois dígitos nas operações internacionais e nos mercados emergentes, segundo dados da agência Thomson Reuters.

 A maior proporção dos negócios está na telefonia móvel, serviços de telecomunicações e softwares para internet, que responderam por 40% da atividade envolvendo as TMTs no ano até o momento. Esse segmento ganhou força com a operação envolvendo a MetroPCS, operadora móvel dos Estados Unidos, e a T -Mobile, subsidiária americana da Deutsche Telekom - negócio que tornou o grupo alemão de telecomunicações o acionista majoritário de uma operadora de telefonia móvel dos EUA com 42,5 milhões de assinantes.

 Recentemente, essa operação foi seguida pela decisão da SoftBank do Japão de investir US$ 20 bilhões em 70% da Sprint Nextel, a terceira maior operadora de telefonia móvel dos EUA. Foi o maior negócio feito por uma companhia japonesa fora do país em todos os tempos.

 As fusões e aquisições de empresas de telecomunicações apresentaram um crescimento especial no último ano, com as operações no setor pelo mundo passando de US$ 89,5 bilhões em 2011 (até 22 de novembro), para US$ 129,9 bilhões no mesmo período deste ano. A competição intensa e as pressões que estão sendo exercidas sobre as operadoras de telecomunicações, juntamente com os balanços fracos, significam que a consolidação do mercado e a venda de ativos não essenciais continuam sendo o centro das atenções.

 A Telefónica é um dos maiores exemplos de operadora que está se desfazendo de ativos para buscar recursos

 "Os executivos-chefes das teles estão tendo muito o que pensar no momento", diz Gavin Deane, diretor de fusões e aquisições de TMTs do Deutsche Bank para a Europa, Oriente Médio e África. "A queda das receitas tornou-se a norma, o que significa que está sendo preciso cortar constantemente os custos para a manutenção dos lucros. Isso leva tempo e é preciso prestar atenção aos detalhes. Mas ao mesmo tempo, as empresas também estão tendo que lidar com algumas questões fundamentais e emergentes que envolvem a lucratividade de todo o setor."

 Markus Boser, diretor-adjunto de TMT do JP Morgan para a Europa, Oriente Médio e África, diz: "Muitas operadoras de telecomunicações estabelecidas estão sob pressão financeira das grandes necessidades de investimentos e assim acreditamos que algumas delas buscarão financiamentos via desinvestimentos".

 A Telefónica é um dos exemplos mais visíveis de grande operadora que está se desfazendo de ativos. O maior grupo de telecomunicações da Espanha disse que pretende reduzir seu endividamento líquido para € 50 bilhões até o fim do ano, como parte de uma estratégia agressiva de reforço de seu balanço. Isso inclui uma potencial venda ou lançamento no mercado de ações de suas operações latino-americanas. Ela já lançou no mercado uma participação minoritária de suas operações na Alemanha este ano e vendeu a Atento, sua operadora de call center.

 Em especial, as operadoras de telecomunicações precisam avaliar quanto e quando vão investir nas novas redes 4G. "Alguns mercados estão prontos para o 4G, outros não. Não é uma coisa homogênea", diz Deane. "É preciso também saber como lidar com as pressões das empresas que estão entrando no 4G, e que não necessitam de muito capital para operar, e das operadoras virtuais de redes que entram no mercado com base de custos e preços menores. A boa notícia é que os smartphones e tablets mais baratos deverão motivar um forte crescimento no tráfego de dados nos próximos anos, de modo que há motivo para ser otimista com o setor no médio prazo, mas nos próximos dois anos, os executivos-chefes das teles terão muito trabalho."

 Entretanto, uma maior consolidação na Europa é incerta. Mas em outros lugares, os banqueiros veem oportunidades.

 "Esperamos ver muita consolidação nos mercados emergentes, especialmente na África", afirma Hervé Malausséna, diretor-gerente do banco de investimentos Moelis & Co. "A situação na África para as operadoras de telefonia móvel 4G ou 5G não é sustentável, já que o mercado está crescendo menos e a receita média por usuário está sob pressão. Isso deverá proporcionar oportunidades para campeãs regionais, como a MTN, a Vodacom, a France Télécom e a Bharti, complementarem suas posições e ganhar mais escala."

 Thomas Koeher, diretor-gerente de TMT do UBS, diz que a integração da telefonia fixa-móvel continuará sendo um grande tema no setor. "Também poderemos ver mais atividade envolvendo operadoras de telefonia móvel adquirindo capacidade de telefonia fixa ou até mesmo entre operadoras de comunicações a cabo e operadoras de telefonia móvel."

 O setor da mídia também deverá estar ativo. Operações significativas já foram confirmadas este ano, como o plano da News Corp de separar seus negócios de entretenimento dos editoriais. Recentemente, as editoras Penguin - controlada pela Pearson, que também controla o "Financial Times" - e Random House anunciaram que estão tentando uma fusão.

 "É provável que haja também uma maior consolidação dos setores tradicionais da mídia, como o editorial e o televisivo, com as companhias reagindo às ameaças da internet com a redução dos custos", diz David Lomer, diretor-adjunto de TMT do JP Morgan para a Europa, Oriente Médio e África. "A chave é ter a posse do consumidor - uma vez que as companhias de mídia, cabo e telecomunicações passam dos serviços "triple play" [voz, internet e televisão] para os "quad play" [voz, internet, televisão e telefonia móvel], elas precisam cada vez mais responder aos desejos do consumidor por soluções integradas de software e equipamentos oferecidas por empresas como a Apple, o Google e a Microsoft."

 Apesar desses incentivos à continuidade dos negócios, as condições permanecem difíceis. "As diferenças de preço entre compradores e vendedores ainda são enormes e ninguém quer ser visto pagando caro demais por ativos", diz Mark Lewisohn, diretor global de TMT do UBS. "Essas tendências ainda estão protelando as fusões e aquisições no setor. Provavelmente haverá uma maior consolidação nos setores tradicionais da mídia." Autor(es): Por Anousha Sakoui | Financial Times Valor Econômico
Fonte: clippingmp 10/12/2012

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