09 novembro 2012

Cenário das operadoras pode mudar com novas aquisições

O mercado de telecomunicações brasileiro caminha para mais uma mudança que poderá afetar significativamente a arena de competições nos serviços de telefonia e oferta de banda larga. Alvo de uma disputa ferrenha entre os grupos espanhol Telefónica e francês Vivendi, que levou o prêmio por R$ 4 bilhões, há apenas três anos, a GVT volta a ser exposta na vitrine, dessa vez para ajudar a reduzir as dívidas de sua controladora. Avaliada em € 5 bilhões pela corretora BES Securities, em setembro, a GVT pode sair muito mais cara para quem pretende arrematá-la. Fontes do setor estimam que a operadora possa ser vendida por até € 8 bilhões.

Por € 5 bilhões a GVT já seria vendida com lucro, estima Roger Oey, analista-chefe da BES Securities, corretora do Banco Espírito Santo. Elevado para qualquer grupo no Brasil, o valor torna o negócio difícil de ser concretizado no curto prazo, devido ao momento econômico, que afeta as companhias – cuja grande maioria é subsidiária ou tem sócios estrangeiros. Além da Telefônica/Vivo, controlada a partir da Espanha, a TIM está sob a Telecom Italia; a Oi tem a Portugal Telecom em seu bloco de controle; e as operações da Claro, Embratel e Net estão sob o guarda-chuva da Telmex, do bilionário mexicano Carlos Slim Helú.

 Slim é notório pelo apetite para ir às compras, mas também é conhecido pela preferência por empresas que estão com dificuldades financeiras, o que sempre lhe rendeu bons negócios. Certamente pagou caro em algumas situações, mas os alvos eram estratégicos para sua entrada em determinados mercados, ou para compor sua carteira, como mostra sua posição atual no Brasil, por exemplo. A GVT não parece se enquadrar muito nesse perfil, no momento, a não ser que uma rede óptica nacional do porte da que foi construída pela subsidiária do grupo francês compense o desembolso para fazer frente aos competidores.

A Telefónica vem dando sinais, reiteradamente, de que precisa se desfazer de ativos para reduzir elevadas dívidas. Na quarta-feira, o tema voltou a ser abordado durante teleconferência internacional para apresentar os resultados do terceiro trimestre. Persiste o projeto do grupo espanhol de criar uma única unidade que represente a América Latina e, posteriormente, fazer uma oferta pública inicial de ações. Para o analista-chefe do BES, a Telefónica transmite mais a mensagem de venda do que de compra. Mas outro executivo ligado às empresas discorda. O grupo espanhol poderia fazer uma engenharia financeira que não envolvesse apenas dinheiro, e convencer seus acionistas de que a aquisição faria sentido para o crescimento e rentabilidade futura da companhia.

A Telecom Italia também está reduzindo sua alavancagem financeira, portanto uma compra desse volume não seria boa para seu rating. Mas, aparentemente, não é assim que pensa o executivo-chefe da companhia, Franco Bernabè, pois ela é indicada como uma das que fizeram oferta pela GVT. De acordo com relatório do BES, o casamento perfeito seria mesmo entre GVT e TIM Brasil, justamente porque essa tele não tem uma rede de telefonia fixa. A GVT, ao contrário, investiu pesado em uma infraestrutura nova de fibras ópticas, com qualidade de serviço e receita compatível com seu crescimento.

Acrescentar a GVT ao grupo pode representar um salto na posição de mercado para várias companhias. Na telefonia fixa, Oi, Telefônica e Embratel ocupam os primeiros lugares no ranking, com a Oi disparada na frente, com mais de 43% de participação de mercado, seguida pela espanhola, em torno de 25%, e a empresa de Slim, com 20% aproximadamente. A GVT segue em quarto lugar, com 7%, em média. Com a GVT, a Embratel ficaria em segundo lugar, enquanto a Oi, se a comprasse, se distanciaria mais ainda dos rivais, com domínio acima da metade do mercado.

Na banda larga, a concorrência é mais acirrada ainda. Oi, com cerca de 30% de participação; Net, em torno de 28; e Telefônica, 20%. A GVT está mais distante, com 11%; a Embratel, 2%; TIM, 0,2%; e a América Móvil, controladora da Claro, 29%. Nesse serviço, portanto, qualquer um que comprasse a GVT causaria pesadelo aos demais.

Com valor de mercado estimado de € 5 bilhões a € 8 bilhões, GVT, em outra carteira, tende a alterar o mapa da competição

Embora não figure nessa lista, a Sky, controlada pela DirecTV, sócia da Globopar, é indicada como uma das empresas interessadas na GVT. Por diversas ocasiões, a Sky tentou fazer parcerias para aliar a oferta de TV por assinatura com banda larga. A aquisição tornaria a empresa mais completa e pronta para oferecer pacotes de TV, banda larga e telefonia, conhecidos no jargão do mercado como “triple play”, e assim enfrentar os concorrentes de telefonia que invadiram seu negócio de TV paga. Mas Oey, do BES, questiona sobre quanto mais de fôlego financeiro a Sky teria para investir em crescimento, após uma compra desse porte. Para o analista, se a Vivendi esperasse um ou dois anos, a venda poderia ser mais estratégica para Telefónica ou Telecom Italia.

De qualquer modo, uma possível aquisição terá de ser aprovada pelos órgãos reguladores, como a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) – este último tomou medidas recentes para ser mais célere na análise de processos desse tipo. Pode haver restrição à concentração de mercado, especialmente agora que a Anatel criou novas regras para estimular a competição.

Mas, outras opções de negócios se colocam no mercado, embora de menor impacto tanto financeiro quanto competitivo. Pressionada pela concorrência e custos financeiros, a NII Holdings estaria disposta a vender a Nextel. Operadora de nicho que se estabeleceu com êxito junto aos usuários empresariais e profissionais liberais, a Nextel incomodou as grandes operadoras por arrebanhar uma parte bastante rentável do segmento de telefonia móvel com sua licença de rádio. Foi reiteradamente acusada de prestar serviços a pessoas físicas, sem ter autorização para isso. A frequência de terceira geração adquirida pela empresa seria a saída para o impasse, e isso levou também as grandes teles a voltar a investir na tecnologia concorrente à da Nextel, conhecida como Push-To-Talk (aperte o botão para falar), ou simplesmente PTT. No passado, as operadoras fizeram lançamentos desse tipo, sem êxito.


Mas, a Nextel vem enfrentando problemas para lançar sua rede 3G, que já deveria estar no ar há meses, e agora tem previsão de ser ligada até o fim do ano. Isso causou preocupação inclusive entre os funcionários da empresa, temerosos de que um fracasso com essa rede pudesse decretar a venda da companhia.

Na semana passada, durante painel em evento de telecomunicações em São Paulo, o vice-presidente de assuntos regulatórios da TIM, Mario Girasole, estava sentado ao lado do vice-presidente de desenvolvimento e novos negócios da Nextel, Alfredo Ferrari. Provocados pelo Valor a comentar se a Nextel estaria próxima de seu futuro comprador, a TIM, embora a tele estivesse com dificuldades de caixa e gestão, eles reagiram. Girasole disse que a TIM não está com problemas, enquanto Ferrari afirmou que a Nextel é uma empresa listada na bolsa, portanto, sujeita a venda. “Inclusive a venda do controle”? “Sim”, respondeu Ferrari, bem-humorado, em tom de desafio, instigado pela reação do público que se divertia com a “saia justa” em que ficou o executivo.

Menos humorado, o presidente da Algar Telecom, Divino Sebastião de Souza, reclamou, na mesma ocasião, que por causa da competição, o espaço é pequeno para crescer e que a sobrevivência da companhia, dona da CTBC, está ameaçada. “Será que com mais de 50 anos a empresa terá de ser vendida”?, questionou.

Como dunas no deserto, o cenário competitivo está em constante transformação e poderá se apresentar diferente em futuro breve, dependendo de como soprará o ‘vento’ das negociações. Vale lembrar que as atividades de fusões e aquisições continuam em alta no Brasil em todos os setores. Foram 590 transações nos primeiros nove meses do ano, com elevação de 5,9% comparado a igual período de 2011, segundo a PwC Brasil. Na área de TI foram 78 transações. As teles poderão engrossar a próxima lista.  Ivone Santana – Valor Econômico
Fonte: telcomp 09/11/2012

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