03 outubro 2012

Fusões e aquisições no Brasil atingem mínima em 5 anos

Preocupações sobre crescente intervencionismo estatal, desaceleração da economia e novas regras de defesa da concorrência levaram a atividade de fusões e aquisições no Brasil este ano ao menor nível desde 2007, mas profissionais de bancos estão confiantes que a recuperação está próxima.

 Companhias anunciaram cerca de US$ 53,99 bilhões em operações no Brasil entre janeiro e setembro, queda de cerca de 10% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo relatório trimestral da Thomson Reuters.

 O montante é o menor desde os US$ 35 bilhões em fusões e aquisições anunciadas no mesmo intervalo de 2007. A perda de fôlego na atividade é global. A crise de dívida na Europa e a desaceleração da economia da China fizeram investidores se retraírem pelo mundo. No Brasil, uma crescente presença do governo na economia tem deixado o cenário ainda mais incerto.

 Nos últimos meses, a presidente Dilma Rousseff colocou pressão sobre bancos, operadoras de telecomunicações e empresas do setor elétrico para reduzir tarifas, criando incertezas sobre potenciais retornos de investimentos nesses setores.

 "Uma volatilidade maior do mercado e o papel mais ativo do governo em alguns setores tornou o ambiente mais difícil para a convergência de ofertas", disse o diretor de banco de investimento do Bradesco BBI, Renato Ejnisman.

 A introdução de uma nova lei antitruste que exige análise prévia das operações de fusão e aquisição pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no fim de maio provavelmente deixou empresas e bancos mais cautelosos no terceiro trimestre.

 Novas regras 
Sob as novas regras, o Cade tem até 330 dias para avaliar uma proposta de fusão. Embora empresas e consultores de atividades de fusões e aquisições possam estar apenas testando o novo ambiente antes de levarem novas operações ao Cade, o órgão antitruste parece estar agindo rapidamente.

 "A preocupação está superada. Temos testemunhado um ritmo bom de aprovações até agora desde a implementação das novas regras", disse o chairman do banco de investimento do Goldman Sachs no Brasil, Daniel Wainstein.

 Recuperação 
A quantidade de fusões e aquisições no Brasil, entretanto, aumentou em 38 operações, para 596 de janeiro a setembro, segundo os dados da Thomson Reuters.

 Bancos locais e estrangeiros estão apostando na atividade como fonte estável de recursos no Brasil, independentemente do comportamento das comissões, disse o presidente-executivo da unidade brasileira do Credit Suisse, José Olympio Pereira.

 As comissões no Brasil provavelmente vão somar menos que os estimados US$ 800 milhões do ano passado, disseram profissionais de bancos de investimento. "Há muita competição, mas também há muito trabalho a ser feito", disse Pereira, cujo banco está liderando o ranking de fusões e aquisições no Brasil neste ano. O Credit Suisse assessorou operações como a compra da CCE pela Lenovo.

 No terceiro trimestre, o Credit Suisse superou o Itaú BBA como o maior consultor de fusões e aquisições no Brasil. O Credit Suisse auxiliou transações avaliadas em US$ 19,31 bilhões no ano até setembro, seguido pelos US$ 19,11 bilhões do Itaú BBA, segundo o ranking da Thomson Reuters.

 O BTG Pactual liderou o ranking pelo número de operações em que atuou, 64, seguido pelas 51 do Itaú BBA. Quatro bancos locais integraram o ranking dos dez maiores pelo quinto trimestre consecutivo.

 Infraestrutura 
Ainda assim, bancos estrangeiros como JPMorgan e Citigroup Inc ganharam terreno nos rankings, principalmente pela consultoria em negócios envolvendo private equities e fundos soberanos. O JPMorgan, por exemplo, aparece em quinto assessorando transações que totalizaram US$ 11,79 bilhões no Brasil, enquanto à essa época do ano em 2011 estava em 17º.

 Wainstein, do Goldman Sachs, prevê que a atividade vai se recuperar, já que fundos de private equity para compra de empresas levantaram no ano passado US$ 6,3 bilhões para aplicação no Brasil e retomaram compras nos setores de varejo, infraestrutura e bens de consumo.

 Os interessados podem aproveitar valores baixos dos ativos em meio à desaceleração econômica que dura um ano para acelerar aquisições, disseram profissionais de bancos. Entre os exemplos de operações está a potencial oferta da CSN pela ThyssenKrupp Steel Americas, que inclui a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA). E a francesa Vivendi pode vender sua operadora brasileira de telecomunicações GVT para levantar recursos, disseram recentemente fontes à agência Reuters.

 Além disso, segundo o diretor de fusões e aquisições do BTG Pactual, Marco Gonçalves, o plano de infraestrutura do governo para rodovias e ferrovias vai criar "maciças oportunidades para nossos clientes nos próximos meses".

 Mais grupos de private equity dos Estados Unidos e fundos soberanos da Ásia e do Oriente Médio estão mirando empresas brasileiras neste momento em que a moeda brasileira perdeu algum terreno contra o dólar, disseram Gonçalves, do Pactual, e Wainstein, do Goldman.

 Com expectativa de que a taxa básica de juro fique próxima da mínima histórica também em 2013 no Brasil, operações de fusões e aquisições se tornarão mais interessantes para empresas de investimentos. "O nível de atividade neste segmento é bom e parece ainda melhor nos próximos meses conforme o custo de capital diminui", disse Wainstein. Por Guillermo Parra-Bernal Da Reuters
Fonte: uol 02/10/2012

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