Ao mesmo tempo em que se esforça para reestruturar algumas operações na Europa e cortar custos, a cimenteira Holcim está dando continuidade a um aporte de R$ 1,45 bilhão no Brasil e não pretende reduzir o ritmo de investimentos. Mais seletiva, contudo, a companhia suíça ajustou a mira e elegeu os países emergentes como principal destino dos recursos que desembolsará nos próximos anos.
Para 2012, o orçamento global da Holcim, uma das maiores companhias mundiais da indústria e importante fornecedora de materiais de construção, é de US$ 1,1 bilhão. Em 2013, esse valor deve, no mínimo, se repetir. "É tempo de aproveitar as oportunidades. Estamos abertos a investimentos que gerem valor ao negócio", afirmou ao Valor o principal executivo da Holcim, Bernard Fontana.
Essa visão vale, inclusive, para eventuais oportunidades de compra de ativos. Conforme Fontana, especialmente em mercados emergentes, grupos regionais deverão ser os principais indutores de movimentos de consolidação. Mas a Holcim, que tem presença em mais de 70 países, poderia participar desse processo.
Recentemente, a brasileira Camargo Corrêa protagonizou um dos maiores negócios dos últimos tempos no setor, ao arrematar quase 95% do capital da portuguesa Cimpor em uma operação de mais de € 5 bilhões. Para a Holcim, especificamente no Brasil, quarto maior consumidor mundial de cimento, a avaliação é a de que, neste momento, os ativos estão caros.
Atualmente, 57% da capacidade da cimenteira suíça está instalada em emergentes e a Índia já representa seu principal negócio. A tendência, conforme Fontana, é a de que essas regiões ganhem ainda mais relevância na operação global, diante da estratégia de investimentos. "Estamos investindo onde há crescimento, como na Índia e no Brasil", destacou.
No país, a Holcim, que ocupa a sexta posição no ranking de maiores produtores locais, lança hoje a pedra fundamental da expansão da fábrica de Barroso, em Minas Gerais. Com investimento total de R$ 1,45 bilhão até 2014, o projeto prevê ampliação da capacidade de produção de 1,2 milhão de toneladas de cimento por ano para 3,6 milhões de toneladas anuais - o calcário que alimentará a expansão será proveniente das minas Mata do Ribeirão e Capoeira Grande, com distância máxima de 7,3 quilômetros da unidade.
Com o projeto, a capacidade de produção da cimenteira no país chegará a 7,9 milhões de toneladas, destinadas integralmente ao mercado do Sudeste. De acordo com o presidente da Holcim Brasil, Otmar Hübscher, avançar para outras regiões do país, que hoje mostram taxas mais expressivas de expansão em termos de consumo de cimento, está nos planos e há estudos internos sobre o tema. Mas ainda não existe decisão. "Neste momento, nosso foco é concluir a expansão em Barroso e aproveitar o potencial que o próprio Sudeste nos oferece", disse.
Obras de infraestrutura e até mesmo a área de petróleo e gás - a Petrobras é importante consumidora do cimento da Holcim -, explicou Hübscher, garantem boas perspectivas para os próximos anos e a direção global da cimenteira compartilha dessa visão. "Sentimos algum sinal de desaceleração [no Brasil] no começo do ano, mas já houve melhora. Estamos muito otimistas com o país", disse Bernard Fontana, que esteve ontem, em São Paulo, para a entrega do prêmio Holcim Awards, premiação de construção sustentável com reconhecimento global.
O executivo chegou ao comando mundial da cimenteira suíça em fevereiro deste ano, em um momento delicado para os negócios. Com capacidade ociosa no sul da Europa, com destaque para a Espanha, a companhia implementou um rígido programa de corte de gastos e demitiu funcionários, entre outras medidas alinhadas ao recém-lançado "Holcim Leadership Journey". O programa estabelece como meta aumentar o retorno sobre o capital investido a pelo menos 8%, após impostos, entre 2012 e o fim de 2014 e fixa em pelo menos 1,5 bilhão de francos suíços o resultado operacional daquele ano.
No primeiro semestre de 2012, foram justamente os países emergentes os responsáveis pela melhora das vendas consolidadas de cimento. No período, o volume de vendas da Holcim subiu 4,4%, para 74 milhões de toneladas, com destaque absoluto para a região Ásia-Pacífico. Já as vendas líquidas da companhia avançaram 2,1%, para 10,4 bilhões de francos suíços.
A retomada, ainda lenta, das vendas na América do Norte, conforme Fontana, também contribuiu para esse desempenho. "O negócio de cimento cresce no mundo", reiterou. "Além de Ásia Pacífico e América Latina e México, a América do Norte começa a dar sinais de recuperação."Valor Econômico, Stella Fontes
Fonte:ademi 24/08/2012
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