19 agosto 2012

Em fusões e aquisições, mercado brasileiro anda fora do mapa

Já faz alguns anos que o Brasil atrai os olhares do mundo. O País se mantém entre os maiores destinos para investimentos, e multinacionais de diversos setores encaram o mercado local como uma das (poucas) tábuas de salvação, para manter o crescimento dos negócios em tempos de crise nos mercados mais desenvolvidos.

Quando o assunto é o mercado de beleza, aí, a coisa ferve ainda mais. Isso porque o Brasil sempre esteve entre os grandes mercados do mundo graças à sua população, desde sempre apaixonada pelos cuidados com o visual. A partir da crise de 2008, praticamente todos os grandes grupos do setor viraram os olhos para cá. Quem já estava no País, investiu para crescer mais, e em ritmo acelerado. E quem ainda não estava (ou ainda não chegou), faz de tudo para conquistar uma fatia de nosso mercado, que ainda oferece muitas oportunidades de crescimento para as empresas instaladas por aqui. Mas isso, necessariamente, não quer dizer que os espaços estejam aí dando sopa, à disposição dos entrantes. Pelo contrário, a competição ao longo dos últimos anos caminha para níveis brutais.   

Tamanha atenção dada ao Brasil, pelo menos em tese, deveria fazer do País um ambiente bastante propício para a realização de fusões e aquisições. Mas os números não dizem o mesmo. Das quase 100 transações realizadas e comunicadas em 2011, apenas uma aconteceu por aqui, mais precisamente a compra da Topz pela Cremer. Ainda assim, uma transação realizada entre empresas de capital nacional.   Assim, a pergunta que não quer calar é: “Se o Brasil é o alvo de todo o mundo, porque o mundo não vem negociar as nossas empresas?

A dinâmica comercial local, não explica totalmente, mas ajuda a puxar a linha do emaranhado que pode levar à resposta. Dessa forma, a peculiar dinâmica da distribuição de cosméticos no Brasil, com uma preponderência da venda direta sem igual em outros mercados de de grande porte, dificulta o entendimento do mercado por parte dos compradores. O relatório do Demeter Group, uma boutique de investimento com  base na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, aponta que a maior parte das transações teve como base empresas com portfólios consolidados adquirindo marcas com atuação em canais de distribuição alternativos, como on-line, lojas especializadas e canais de compras pela TV. Ou, ainda, que ofereciam a possibilidade de expansão geográfica para o comprador.

“Os compradores estratégicos (leia-se indústrias) continuam com foco no middle market, buscando agregar marcas conhecidas, mas com uma penetração de mercado abaixo da média, que pode ser turbinada pelo comprador e também marcas de alto crescimento que atuam em canais, categorias ou regiões que apresentem um forte ritmo de expansão”, diz o relatório do Demeter Group. Para exemplificar, ele cita a aquisição da marca francesa de dermocosméticos Uriage pela Puig, que dá continuidade ao processo de expansão da empresa para o segmento de skincare. Já a compra da marca de skincare de médio porte dinamarquesa Ole Henriksen pela gigante do luxo LVMH é uma aposta do conglomerado francês, que espera se valer da sua capacidade de marketing e distribuição para turbinar o crescimento da marca recém-incorporada.

Demanda por naturais
Dois mil e onze foi um ano de poucas grandes transações. A maior delas, a compra da norte-americana Alberto Culver pela anglo-holandesa Unilever bateu nos US$ 3,7 bilhões. O cenário, no ano passado, foi dominado pelas operações com empresas de médio porte. O valor médio das transações no período ficou um pouco abaixo dos US$ 50 milhões, reporta o relatório do Intrepid, um outro banco de investimentos norte-americano. “Quando olhamos para a lista de transações realizadas, fica evidente e clara a grande demanda por empresas de cosméticos naturais e marcas de skincare, principalmente as que servem ao canal especializado”, diz Steve Davis, diretor-gerente da instituição.  

 Já os cálculos do Demeter Group apontam para múltiplos de transação de 1,8 vezes o faturamento das empresas adquiridas. Apesar de, em 2010, esse indicador ter chegado a três vezes, o resultado está em linha com os anos de 2009 e 2008. Já, quando calculada sobre a margem EBITDA, o múltiplo de transação foi de 11,1 vezes, em linha com os últimos três anos

Os fundos também avançam   Mas não são apenas as fabricantes de cosméticos que estão indo atrás de oportunidades no setor de beleza pelo mundo afora. Os fundos de investimentos, apesar de em menor número, continuam a fazer incursões constantes no mercado. Um dos maiores expoentes dessa turma é o TSG Consumer Partners, um fundo baseado em São Francisco que controla diversas marcas de renome no mercado como a M.D. Perricone, a elf e a Sexy Hair. E uma de suas apostas é o investimento em empresas que atuam em canais de distribuição de alto crescimento e margens elevadas, como os canais de venda pela televisão, on-line e lojas especializadas.

“Buscamos marcas com alto potencial de crescimento, tanto nos Estados Unidos, como no exterior”, conta Hadley Mullin, diretora-gerente do fundo. “Estamos principalmente focados em marcas que entregam produtos inovadores e de ponta, independentemente do preço. E, é claro, também buscamos marcas que apresentem significativas perspectivas de crescimento, tanto aqui nos Estados Unidos quanto no exterior”, completa a executiva da empresa que também incubou e depois vendeu marcas de sucesso como a Smashbox e a Pureology.

A demanda por empresas de médio porte continuará forte, acredita Steven Davis, diretor gerente do Intrepid Investiment Bank. E ela será potencializada se a empresa-alvo oferecer acesso aos compradores a categorias e regiões de rápido crescimento. Ou naturalmente, ainda, quando a empresa estiver alinhada com os vencedores, na rápida mudança no cenário do varejo e da distribuição

Com receita de 66,6 bilhões de euros, a indústria cosmética europeia representa um terço do mercado global. E, apesar de todo o movimento recente de consolidação, os players de beleza do velho continente vivem, ainda, num cenário bastante fragmentado. No total, são mais de 3.000 companhias de pequeno e médio porte distribuídas pelos 27 países da União Europeia. Boa parte delas está sob o controle da mesma família a gerações. “Dada à extensão geográfica da Europa e a base de fornecedores, também bastante fragmentada, a atividade de fusões e aquisições na região continuará forte no futuro”, acredita Florian von Alten, sócio da companhia alemã Angermann M&A International GmbH, que também assessora operações de fusão e aquisição. O analista comenta que a pressão sobre as pequenas empresas também é reflexo de uma disputa por espaços cada vez mais escassos no varejo aliado a expectativa dos varejistas pelo desenvolvimento de novos produtos e investimentos em marketing. Por fim, muitos varejistas estão ampliando as suas linhas de produtos de higiene e beleza de marca própria, o que torna a busca por espaços para as pequenas empresas ainda mais difícil.

Operar no Brasil continua difícil

Voltando à terra brasilis, a peculiaridade da distribuição – que já torna bastante complexa para compradores internacionais a análise das oportunidades que o mercado oferece –, alinha-se de maneira perversa ao emaranhado tributário para, certamente, inibir e formatar um fator de desmotivação (e desentendimento) para qualquer entrante estrangeiro que queira iniciar um negócio do zero por aqui. E caso ele opte por encurtar o caminho – comprando uma empresa local, por exemplo –, é bem provável que o pesadelo tributário o acompanhe: a maior parte das empresas brasileiras de porte médio, justamente as mais procuradas em operações de fusões e aquisições, têm algum tipo de problema fiscal. O que não chega a ser surpresa, tamanha a complexidade do nosso sistema. Ainda assim, são problemas que fazem muitos investidores ficar com um pé atrás logo de cara.

E o caminho inverso? Se as maiores oportunidades de compras estão nos mercados maduros da Europa e Estados Unidos, e existem bons alvos, com a média de transações avaliada em R$ 100 milhões, não seria a hora das empresas brasileiras abrirem novas frentes no exterior. E aqui não estamos falando de exportar, mas, sim, da aquisição de marcas, tecnologia e de uma estrutura de fabricação e de distribuição local. O que impede esse avanço? Será que não está na hora do terceiro maior mercado do mundo alçar voos maiores, para longe do ninho? Fonte: beautyfair 14/08/2012

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