Conforme Passos, do BNDESPar, e Palmeira, do BNDES, acreditam que projeto da empresa biotecnologia é inovador
Há alguns anos o empresário José Fernando Perez cochichou ao ouvido de Pedro Palmeira, chefe do departamento da área farmacêutica do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que estava criando uma empresa de biotecnologia, a Recepta Biopharma. Perez fez a revelação em seminário nos quais ambos eram painelistas em Ribeirão Preto (SP). O tempo passou, as discussões evoluíram e agora o BNDES, via BNDESPar, está comprando 16% do capital da Recepta, primeira empresa brasileira a conduzir testes clínicos em pacientes com tumor de ovário com uma droga em desenvolvimento, o anticorpo monoclonal RebmAb100.
No total, a BNDESPar e dois sócios privados da Recepta - os empresários Emílio Odebrecht e Jovelino Mineiro - vão aportar R$ 35 milhões na empresa para desenvolver a segunda fase de testes do RebmAb100 e de um segundo anticorpo monoclonal, o RebmAb200, disse Pedro dos Passos, da área de capital empreendedor da BNDESPar. Os medicamentos da Recepta podem ser testados no tratamento de vários tipos de câncer, incluindo tumores de ovário, mama, cólon e reto, pulmão e pâncreas.
Com o aporte, os demais sócios da Recepta devem ter sua participação diluída. São eles o Instituto Ludwig de Pesquisas sobre o Câncer, hoje 35%, o próprio José Fernando Perez, fundador e presidente da empresa, que tem 14%; e José Barbosa Mello, vice-presidente da Recepta. Emílio Odebrecht e Jovelino Mineiro participam por meio das empresas EAO e OPP, respectivamente, mas entraram na Recepta como "investidores-anjo", pessoas-física mais dispostas a correr riscos.
Criada em 2006, a Recepta tem equipe de 35 pesquisadores que trabalham em instituições parceiras como o Instituto Butantan, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). O apoio do BNDES à Recepta se insere em objetivo maior que é o de ajudar a construir uma indústria de biotecnologia no Brasil. Essa indústria poderia ter uma estrutura formada por empresas especializadas em pesquisa e desenvolvimento (P&D), como é o caso da Recepta, que se vinculariam, via parcerias, com outras farmacêuticas nacionais focadas na produção e na distribuição.
"Essa é uma rota possível e desejável", disse José Fernando Perez. Um caminho para a Recepta poderá ser a formação de parceria com um dos consórcios de empresas criados para desenvolver e produzir biofármacos no Brasil: a Orygem Biotecnologia e a Bionovis. "Vejo com otimismo a criação desses grupos", disse Perez. O BNDES tem uma visão estratégica: "Através dessa indústria de biotecnologia no Brasil, estaremos dando um passo significativo para a redução da vulnerabilidade do SUS [Sistema Único de Saúde], que é a dependência total das importações no abastecimento de produtos biotecnológicos", disse Pedro Palmeira, chefe do Departamento de Produtos Intermediários, Químicos e Farmacêuticos (Defarma) do BNDES.
Segundo ele, a Recepta é emblemática pois é o primeiro caso de empresa de biofármacos no Brasil com a pretensão de desenvolver um produto inovador. A empresa aposta em produtos novos, mas uma forma dos grandes laboratórios entrarem no setor é produzir medicamentos cujas patentes de anticorpos monoclonais vão vencer em 2016-2017. É uma oportunidade para fazer cópias ou biossimilares.
Os anticorpos monoclonais têm maior precisão e eficácia para tratar tumores e conseguem reduzir os efeitos colaterais dos tratamentos convencionais, como a quimoterapia. Graças a essa característica passaram a também ser chamados como "bala de prata" porque atacam com mais precisão a causa da doença.
É como se fosse um mecanismo de chave e fechadura. Foi o Herceptim, da Roche, aplicado ao câncer de mama, que deu visibilidade ao anticorpo monoclonal. No caso da Recepta, a expectativa é ter o RebmAb100 pronto para entrar na fase três de testes, com uma amostra maior de pacientes, em três anos, quando o produto poderia começar a ser comercializado.
"É um produto que pode ser um novo blockbuster [sucesso] global para o tratamento de câncer de ovário no mercado mundial", disse Palmeira. Perez disse que os resultados obtidos nos testes clínicos do RebmAb100 fizeram com que o Federal Drug Administration (FDA), órgão americano que regula o setor de medicamentos, atribuísse ao medicamento da Recepta a designação de droga orfã para o tratamento de câncer de ovário. Pelos critérios americanos, o conceito se aplica a doenças que atingem menos de 20 mil pessoas. São doenças para as quais não há alternativas de tratamento. Por Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico 25/07/2012
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