Um dos grandes problemas para empresas de base tecnológica no Brasil foi financiar o começo.
Um dos grandes problemas para empresas de base tecnológica no Brasil foi financiar o começo. Sem fontes de crédito e apoio, as empresas dependiam mais da coragem do empreendedor e do que, nos Estados Unidos, é chamado de dinheiro dos três 'efes' (family, friends and fools - ou família, amigos e tolos).
Mas esse cenário está mudando. Atualmente, há várias opções para viabilizar uma ideia inovadora. Grandes empresas, como Telefônica e Siemens, têm lançado competições de startups, em que empresas iniciantes recebem investimento e apoio, nas chamadas aceleradoras, para começar a operar. Os investidores-anjo, que fazem o aporte inicial para que o empreendedor coloque seu produto ou serviço no mercado, começam a se organizar em rede, em busca de oportunidades.
O Brasil atrai investidores e empreendedores estrangeiros, que buscam mercados de crescimento acelerado. Mesmo que a expansão da economia brasileira como um todo não esteja lá essas coisas, há alguns setores, como o de tecnologia da informação, que avançam muito mais do que o restante.
"Tudo o que sonhamos nos últimos 10 anos está acontecendo agora", disse Sergio Risola, diretor executivo do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), incubadora da Universidade de São Paulo (USP). "Começamos a receber constantemente a visita de pequenos e grandes investidores, que querem conhecer nossas empresas." Criado em 1998, o Cietec tem 135 empresas incubadas e 96 graduadas (que já deixaram o estágio de incubação).
No ano passado, as empresas tiveram faturamento de R$ 52 milhões. Segundo Risola, uma das prioridades hoje é garantir que os empreendedores estejam preparados para essa conversa com os potenciais investidores.
Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas, o montante aplicado em capital de risco e private equity (investimento em empresas de capital fechado) alcançou US$ 36,1 bilhões no fim de 2009, um crescimento de 29% sobre o ano anterior. Das empresas em carteira, 56,6% estavam em São Paulo. Em segundo lugar, vinha o Rio de Janeiro, com 15,5%.
Trajetória. O pesquisador Israel Cabrera criou há quatro anos e meio a Bioactive, empresa cujos produtos para enxertos (que combinam polímeros e cerâmica) aceleram a regeneração óssea. Ele ingressou no Cietec quando seu projeto ainda era uma ideia. "Depois desse tempo aqui, o conhecimento científico acabou se transformando em produto final", disse Cabrera.
A Bioactive acaba de receber um investimento de um grupo de capital de risco, e vai se mudar do Cietec em dois meses. "Não posso revelar o nome do investidor por motivos contratuais", disse. "Vamos para um distrito industrial em Indaiatuba (interior de São Paulo), para que possamos começar a produzir em grande escala."
Sem a mudança para as novas instalações, segundo Cabrera, não seria possível buscar a aprovação de seu produto na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que, se a expectativa do empreendedor se cumprir, pode acontecer em um ano.
Cabrera veio há 12 anos de Lima, no Peru, para fazer mestrado na USP e já terminou o pós-doutorado. Conheceu o investidor ao participar do evento Seed Forum, da Financiadora de Projetos (Finep) do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Antes de receber o investimento, ele aplicou cerca de R$ 1 milhão em recursos próprios (com apoio de amigos e da família) e recebeu um financiamento a fundo perdido de R$ 3 milhões da Finep. Cabrera não revela o valor do novo investimento do fundo, que comprou uma participação minoritária. "Enfrentei vários momentos difíceis. Houve horas em que batia desespero." Com o sócio, ele está animado.
Outra empresa do Cietec é a Certsys, que desenvolve sistemas de segurança da informação. Fundada em 2007, a Certsys tinha como objetivo vender seu próprio software, mas, para sobreviver, os sócios tiveram de começar a oferecer serviços. "Vender produto de software no Brasil é difícil", disse Stiverson Palma, diretor executivo. Dos quatro fundadores, só Pale e Augusto Kiramoto, diretor de Tecnologia, continuam na empresa.
Atualmente, a Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp) usa o software da Certsys, e a empresa emprega 23 pessoas. "Queremos ter 30 pessoas até o fim do ano", afirmou Palma. "Começamos algumas sondagens com investidores, e estamos preparando a empresa para receber investimento."
Criada pela arquiteta Fernanda Bonatti, a Bonavision fabrica lupas - convencionais e eletrônicas - para pessoas com baixa visão. Seu primeiro produto foi desenvolvido graças a um financiamento, a fundo perdido, de R$ 200 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "O recurso permitiu lançar o produto com preço menor, já que não tivemos de recuperar nas vendas o que investimos para desenvolvê-lo", disse. Por RENATO CRUZ
FONTE: estadao 24/06/2012
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