19 junho 2012

Na mira de multinacionais

Empresas brasileiras são alvos de fusões e aquisições

 Fusões e aquisições de empresas nacionais por multinacionais estrangeiras têm efeito positivo na economia do Brasil por conta do capital externo que entra no país

 De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), em 2011 foram registradas 179 grandes fusões e aquisições estrangeiras no Brasil – sendo oito no setor de alimentação e bebidas. O número foi 100% maior do que o registrado em 2010. Agora, em 2012, a tendência é que este número continue a crescer. Só até o mês de maio, mais de 10 grandes empresas brasileiras foram compradas por grupos internacionais.

 Carlos Alberto Milani, economista do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), afirma que este fenômeno tem efeito positivo na economia brasileira. “É dinheiro estrangeiro entrando no país que culmina não apenas em futuros projetos que serão feitos pelos empresários que venderam seus negócios como também em tecnologia e investimento de ponta – ainda não disponível no país – que vêm de fora”, explica.

 Alguns exemplos confirmam a grandeza dos investimentos. A Brasil Online Holdings, dona do site de busca de emprego Catho, foi comprada pelo grupo australiano Seek. O valor estimado da transação foi de US$ 78,8 milhões. Com um investimento ainda mais alto, de R$ 135 milhões, a Temasek, holding de investimento do governo de Cingapura, tornou-se sócia do Netshoes – e-commerce brasileiro de artigos esportivos.

No setor de alimentos e bebidas, por R$ 940 milhões, o grupo britânico Diageo levou a marca de cachaças brasileiras Ypióca e o grupo americano General Mills arrematou a empresa de alimentos Yoki por nada menos que R$ 2 bilhões. Para Carlos Parizotto, sócio da Cypress – butique financeira especializada em assessorar empresas que desejam fazer fusões, aquisições e abertura de capital –, este movimento do mercado é uma tendência e deve ser intensificado, principalmente por meio de fusões.

 O especialista acredita que há muito interesse dos países estrangeiros em entrar no Brasil, país emergente que tem prosperado economicamente mesmo em meio a crises. Como o custo inicial para montar uma empresa é muito alto, o movimento natural das empresas estrangeiras é começar aos poucos, adquirindo uma parcela de um negócio que, naturalmente, deve tornar-se uma aquisição no futuro. “No momento, estamos observando espaços no mercado nacional para fusões com empresas internacionais em conglomerados maiores, como mineração e siderurgia”, comenta.

Atrativos 

 Para Milani, as recentes aquisições nos setores de alimentos e bebidas foram impulsionadas pelo aumento de renda da classe C. “As multinacionais estão buscando mercados emergentes para compensar a derrocada dos países tradicionais. Com o incentivo ao consumo e ofertas de emprego em um momento de crise internacional, o Brasil acaba sendo um prato cheio de oportunidades e novos consumidores para estrangeiros interessados em investir na indústria nacional”, afirma.

 Parizotto concorda e ressalta ainda que estas transações não deixariam de acontecer, mas que, por conta do contexto econômico internacional, foram antecipadas. “Em linhas gerais, é uma tendência que vem acontecendo há algum tempo e em vários segmentos no Brasil. O país tem uma característica muito atrativa de não se abalar com problemas exteriores, além de oferecer o diferencial de ter infraestrutura e economia sólida”, conta. O especialista aponta também características como mais de 20 anos de democracia estável, Banco Central autônomo, leis de falência que funcionam, empresas que respeitam contratos e cultura de negócios implementada e bem orientada como fatores altamente atrativos no país.

 Problemas 

 Apesar do cenário positivo, Milani acredita que alguns pontos podem atrapalhar o número de fusões no Brasil. Ele cita a recente mudança na lei do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Na legislação antiga, as empresas assinavam um contrato, enviavam ao conselho para apreciação e, depois de 15 dias úteis, recebiam o parecer. Com a nova norma, o Cade tem um prazo de 240 dias, prorrogáveis por mais 90, antes da assinatura do contrato para decidir a favor ou contra as operações – que podem ficar paradas por até 11 meses. “A maioria dos contratos de aquisições deste começo de ano foram feitas antes da mudança, mas iriam ocorrer de qualquer forma. Mesmo com barreiras ou dificuldades, o Brasil é foco de grandes investimentos”, diz.

 O país ainda tem muitos outros pontos complicados a serem resolvidos, como burocracias, impostos abusivos e pouca infraestrutura para transporte. “Se passássemos por mudanças significativas, certamente atrairíamos ainda mais investimentos e aquisições externas, além de aumentar a eficiência das próprias empresas locais. Este é um passo que tem que ser dado, não é mais opcional”, afirma Parizotto. Ógui  Especial para o Terra Fonte:terra 15/06/2012

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