Mesmo com sua experiência na área de pagamentos digitais e de vendas pela internet, Marcos Bueno, de 41 anos, CEO da recém-criada Akatus, admite que sente um 'frio na barriga' por estar lançando um novo modelo de negócio no Brasil, o mobile commerce, que permite a celulares e tablets terem função de máquinas de cartão de crédito.
O serviço pretende atrair microempreendedores, empreendedores individuais e o setor de venda direta. Outra atividade da empresa é o de pagamento pela internet nos molde do Pag Seguro e do Pay Pal. Com passagens por Mercado Livre e DinheiroMail, o carioca formado em marketing pela Fundação Getúlio Vargas do Rio afirma que a persistência é emblemática em sua carreira.
Há espaço para crescer nesse mercado?
É um mercado muito jovem, a internet também é jovem no Brasil, ainda há muito para crescer. Temos uma taxa absurda de crescimento na própria internet. E, depois que esses usuários ingressam na rede, eles têm interesse em comprar. O e-commerce está crescendo a taxas de 35% ao ano, que é absurdamente alta. E há uma perspectiva, segundo dados do E-bit e de outros meios que atuam na área, de crescer mais cinco anos nesse nível. Então, apesar de já haver grandes players no mercado, nós sabemos do potencial que o e-commerce tem de crescimento. E também temos um outro serviço, que eu julgo ser o principal da Akatus, já mirando uma próxima etapa do e-commerce, que é o mobile commerce.
Como é o serviço?
É o Akatus Mobile, nossa principal aposta como produto. Trata-se de um aplicativo que nosso usuário vendedor baixa por exemplo no IPhone e no IPad, na App Store, gratuitamente, e, no momento em que já estiver cadastrado como usuário da Akatus, pode em qualquer lugar vender o produto que quiser com todos os cartões de crédito. É a emulação de uma maquineta virtual da Cielo e da Redecard. Você encontra todos os comandos e modo até de operacionalizar muito idêntico a uma maquineta. Só que é no celular.
Qual é o público alvo?
Queremos atingir o micro, o empreendedor individual, quem tem dificuldade de acesso à maquineta da Cielo e da Redecard, que tem a mensalidade para pagar. A maquina é um hardware e, por isso, sua distribuição é limitada, enquanto o nosso produto é virtual e praticamente ilimitado. O primeiro mercado que estamos mirando é o de venda direta, vendedores da Natura, Avon, e por aí vai. Esse pessoal gerou R$ 27 bilhões de faturamento no ano passado e, no entanto, não têm um meio de pagamento que não seja dinheiro e cheque.
Como se sente por comandar um novo negócio novo?
Uma parte do negócio, o de pagamentos pela internet (como o Pag Seguro e Pay Pal), é bastante conhecido para mim. Estou aí há pelo menos seis anos dos 12 que eu tenho de experiência. Entendo bastante o que acontece nele. O que me causa um frio na barriga é exatamente estar lançando esse novo modelo, o Mobile Commerce, que é um caminho inexplorado. Isso para mim traz um frio na barriga, sim. É uma expectativa muito grande para saber como no final vai efetivamente se comportar, embora saibamos que tem um potencial de geração de resultado muito grande.
Qual decisão você considera a menos acertada na sua carreira?
Existem muitas dificuldades que passamos na carreira. Por exemplo, aqui na Akatus começamos o negócio do zero, zero mesmo, sem nada, nem uma plataforma pronta. Na DinheiroMail, por exemplo, já havia a da DineroMail na América Latina. Então eu tive um trabalho de tradução, de preparação para a plataforma no Brasil. Aqui na Akatus, o desafio era muito mais difícil, e o arrependimento que eu tenho foi ter começado a fazer o desenvolvimento da plataforma com terceiros. Esperávamos que assim ganharíamos velocidade e foco no nosso negócio, quando na realidade tinha que ter sido feito dentro de casa, porque é o coração do negócio. Tivemos de refazer prazos, tivermos problemas de custos, que foram acima do esperado. Tudo isso para mim foi bastante difícil. Hoje, eu tenho um desafio de reverter esse início. Mas estamos num bom caminho, estamos com uma equipe interna, com profissionais muito qualificados.
E a decisão mais acertada?
Para mim, a mais acertada foi a minha saída da DinheiroMail. A alta direção tinha uma expectativa de que eu continuasse no projeto quando a empresa foi vendida para o Buscapé, mas eu estava num momento de começar um novo ciclo. Eu não queria novamente partir para atuar numa grande corporação - o Buscapé é uma organização muito grande, tem investidores grandes por trás. Eu tinha saído do Mercado Livre justamente por esse motivo: achava que já tinha cumprido minha missão lá dentro, e surgiu a DinheiroMail com o grande desafio de implantá-la no País do zero. Havia muito pouco recurso e muita garra e vontade de conseguir o resultado. Os resultados vieram e até a levaram a ser comprada pelo Buscapé. Mas depois de três anos eu me deparei novamente com uma grande corporação, trabalhar dentro de uma estrutura já pronta, e não era esse o meu desejo. Eu tenho o espírito de start up dentro de mim. É horrível na realidade, porque estou sempre lidando com o zero, o novo, o inesperado, mas é algo que eu gosto. Está dentro do meu sangue - adoro isso. Por isso, quando a DinheiroMail foi comprada pelo Buscapé, eu decidi não continuar. E apareceu a proposta aqui da Akatus, e isso foi o meu grande desafio como mudança de carreira de dar uma nova guinada para o zero.
Que dica você dá para quem pretende ser executivo?
É persistência. Isso, para mim, é algo emblemático na minha carreira. Parece frase feita, mas sem a pessoa ter uma grande vontade, sem ter um grande objetivo para alcançar, é realmente difícil. O mercado está cada vez mais competitivo tanto para quem quer seguir uma carreira numa empresa quanto para quem pretende ser empreendedor. A palavra que eu coloco na minha vida é essa, persistir. Nunca desistir. Quando se persiste no objetivo, há certeza de se colher os resultados.
Fonte: O Estado de São Paulo 27/05/2012
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