Crescer, mesmo continuando pequena, foi o desafio que a Paraíso Bioenergia impôs a si mesma. "Nossa estratégia é, por meio de parcerias, fazer a diferença entre as grandes, preservando a estabilidade do negócio", conta o diretor-presidente Dario Costa Gaeta.
Na avaliação do executivo, as perspectivas para as pequenas do setor são cruéis. "O futuro estará nas mãos das quatro ou cinco gigantes em usinas, que atingem 100 milhões de toneladas e possuem escala", afirma.
As pequenas, sem escala, diz, terão custos muito acima do mercado. Só sobreviverão se conseguirem se alavancar pouco e ter forte geração de caixa. Ou ainda, como pretende a Paraíso, se tiverem estratégia de produtos com valores agregados.
Na safra 2012/13, a empresa deverá encerrar com a moagem de 2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e faturar R$ 230 milhões.
Desde 2006, a Paraíso tem fechado parcerias para se expandir em outras atividades. A primeira associação foi em 2006, com a Cargill, para a comercialização de produtos.
Depois, em setembro de 2010, o fundo de participações DGF comprou 32% da usina Paraíso Bioenergia, de Brotas (SP) - e a partir daí as parcerias foram intensificadas.
"A entrada do fundo nos trouxe um carimbo de aprovação da governança, como se fôssemos grandes", afirma Gaeta.
No fim de 2010, a multinacional francesa Rhodia fechou com a Paraíso um acordo para o desenvolvimento de projetos de biomassa, a partir do bagaço da cana. Em março do ano seguinte, foi anunciado um acordo com a Amyris, em biotecnologia. No mesmo ano, outra união, para serviços e processos, com a Shell.
Quatro novas parcerias deverão ser anunciadas até o fim do ano, adianta Gaeta. Nessas e naquelas que já foram concluídas, a Paraíso não teve dispêndio de capital - entrou cedendo espaços em sua fazenda em Brotas e produtos para serem trabalhados.
"Já que somos pequenos, buscamos associações com as grandes. Se você não é uma gigante de commodities, tem de usar o valor agregado", afirmou.
Uma das vantagens da empresa é a sua localização, em Brotas, no interior do Estado de São Paulo. Está próxima do porto e na área com clima bastante favorável à cana.
O lançamento das ações da companhia na bolsa está no horizonte, embora eles ainda não saibam como será a operação.
"Não fizemos em 2007 porque, por sermos pequenos, o mercado não aceitaria nossa operação, a menos que nos uníssemos a outras companhias, o que não queríamos", conta Gaeta. "Daqui a três, quatro anos, vamos ver como estarão todos os ramos do nosso negócio e o que o mercado pede. Se houver interesse para um segmento específico poderemos abrir o capital de um dos braços ou então, da holding".
A visão de futuro e gestão da companhia é resultado de um processo de profissionalização e fortalecimento de governança corporativa iniciado em 1999, conta Renata de Albuquerque Figueiredo, filha do criador da Paraíso Bioenergia e hoje integrante do conselho de administração.
A Paraíso dedica-se à cana desde os anos 70. Em 1982, época do Proálcool, passou para o etanol.
Quatro anos antes de falecer, em 1986, Wilson Pinheiro, fundador da empresa, fez a doação de ações para os quatro filhos e transferiu-se para o conselho.
O primogênito assumiu a presidência até 1999. Depois desse ano, os irmãos assinaram um acordo societário e implantaram conselho de administração misto, com integrantes da família e independentes. A gestão já estava separada da propriedade, mas ainda não era profissionalizada, o que só ocorreu a partir de 2008, com a chegada de Gaeta.
Com a profissionalização, veio a crise de crédito. A Paraíso fez uma reestruturação de dívidas com grandes bancos e teve de encontrar formas de se perpetuar sem contrair dívidas.
"Naquele momento tivemos a clara visão de que, do nosso tamanho, seria muito difícil continuarmos sozinhos", conta Renata. "Partimos para uma nova visão estratégica. Agregar corpo maior, em quantidade e qualidade. Nos abrimos para o novo e mudamos a cultura da empresa".
Por Ana Paula Ragazz
Fonte: Valor Econômico 24/04/2012
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