09 abril 2012

Endividada, Haztec enfrenta ônus de estratégia agressiva

Depois de comprar oito empresas entre 2007 e 2009, a Haztec colheu os frutos negativos da estratégia agressiva em 2011. A companhia, que tem como foco o tratamento de resíduos, se vê às voltas com uma dívida elevada, caixa reduzido, queda de receita e um percentual representativo de contas em atraso.

Com três trocas de presidentes no ano passado, a Haztec conta desde outubro com o executivo Nuno Neves para apagar o incêndio. Ainda que insista que mudanças promovidas na gestão atual já se refletem diretamente no primeiro trimestre de 2012, números não auditados do ano passado preocupam.

Segundo informações da agência de classificação de risco Fitch Ratings, desde 2007, os acionistas da Haztec já empenharam cerca de R$ 500 milhões na companhia, diretamente ou via debêntures conversíveis. Com o dinheiro dos bancos, a empresa imprimiu um forte crescimento e multiplicou a receita líquida por cinco entre aquele ano e 2010. No ano passado, porém, a companhia sofreu com o aumento das contas a receber em atraso, que atingiram 40%, e se viu com geração de caixa (Ebitda) negativa de R$ 33 milhões.

Atualmente, 45,5% da empresa está nas mãos do fundo InfraBrasil e 22,4% pertencem ao FIP Caixa Ambiental, ambos administrados pela Mantiq Investimentos, do Santander.

Outros 25,2% são detidos pela Synthesis (do fundador da empresa, Paulo Tumbinambá) e o restante (6,9%) é do fundo Bradesco FIP Multisetorial.

Por cerca de um ano e meio, até maio de 2011, o executivo Gustavo Bittencourt ocupou a presidência da empresa e foi substituído por Vitor Mallmann, que comandou a petroquímica Quattor e ficou apenas dois meses à frente da gestão da Haztec.
De agosto a outubro, Tupinambá, atual presidente do conselho, ocupou o cargo interinamente e, em outubro, Nuno Neves, até então principal executivo da Embraport, ocupou seu lugar para iniciar a reestruturação.

Apesar das dificuldades financeiras, Neves avalia que a estratégia agressiva de crescimento via aquisições foi adequada. "A consolidação de oito empresas em um período bastante curto acabou se refletindo no resultado da Haztec em 2011 e, como consequência, tivemos um ano ruim", explica o executivo.

De acordo com o presidente, uma mudança de gestão, com a execução rigorosa do orçamento e atenção maior a despesas e novos contratos, está mudando a dinâmica da empresa.

"Já vemos resultados muito positivos da nova metodologia dessa gestão, mas não podemos adiantar os resultados, que estão sendo auditados", afirma. "Temos tido sucesso nos novos contratos e nas novas receitas trazidas para a empresa."

A realidade, entretanto, é que 2011 foi um novo ano de prejuízo à Haztec e o caixa da empresa deixa dúvidas sobre o leque de opções. Em bases preliminares, a Fitch destaca, em relatório, que o saldo de caixa da companhia ao fim de 2011 era de apenas R$ 19 milhões, suficiente para cobrir 26% da dívida de curto prazo no mesmo período.

O presidente contesta os números e destaca que a Haztec cumpre seus compromissos e não tem apresentado problemas.

Mas, pelas contas dos analistas Gustavo Mueller e Mauro Storino, da Fitch, a Haztec precisará captar entre R$ 120 milhões e R$ 160 milhões no mercado para fazer frente às dívidas deste ano. As projeções já consideram a possibilidade de melhora operacional da companhia e da renegociação para a recuperação de créditos em atraso.

Neves afirma que a dívida de curto prazo está sendo alongada e que a empresa está em conversações encaminhadas com bancos. No mercado, contudo, já se especula sobre a preparação da empresa para a venda.
Entre os potenciais interessados figuram grandes nomes, como Foz do Brasil, do grupo Odebrecht, e Grupo Equipav, que negam as negociações. O Grupo Solvi também foi apontado, mas preferiu não comentar.

O presidente da Haztec afirma que não há nenhuma conversa em curso para a venda da companhia e garante que, no momento, não precisa da entrada sequer de um sócio para resolver os problemas financeiros.

Em 2010, a Haztec ficou a um passo de um acordo de fusão com a Estre Ambiental, do empresário Wilson Quintella Filho, que criaria a maior companhia de engenharia ambiental do país. A negociação, contudo, não se concretizou.

Informações presentes no portal da Haztec indicam que a empresa conta hoje com 150 projetos ativos e 17 filiais no Brasil.

Já o relatório da Fitch Ratings indica que a carteira da empresa tem cerca de 80 clientes e está concentrada principalmente nas empresas Energia Sustentável do Brasil, Petrobras e Vale, e no município de São Gonçalo (RJ). De acordo com a agência, juntos, os contratos correspondiam a aproximadamente 40% do portfólio em fevereiro de 2012. Por Beatriz Cutait e Vinícius Pinheiro
Fonte:Valor05/04/2012

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