Conheça cinco companhias que reforçaram a intenção de turbinar as aquisições depois de abrirem capital, mas acabaram saindo da bolsa ao serem abocanhadas por outras empresas
Mudança de planos?
Quem pede dinheiro precisa oferecer algo em troca. E uma das promessas recorrentes em IPOs é que os recursos serão usados pelas empresas para aquisições que as farão crescer. Nem sempre, porém, o compromisso vira realidade. Segundo o Credit Suisse, das 148 empresas que abriram capital desde 2004, 17 terminaram compradas e saíram da Bovespa. Análise de EXAME.com mostra que cinco delas haviam destacado a intenção de promoverem novas compras depois do IPO.
Para Marcelo Millen, diretor da área de emissões de ações do Credit Suisse, a aparente contradição tem explicação. A bolsa não serviria apenas para financiar novos investimentos, mas também para expor as companhias ao apetite do mercado, já que, uma vez públicas, todos começam a saber quanto valem.
Com o boom de ofertas em 2007, contudo, houve quem entrasse na onda "sem saber o que fazer com o dinheiro depois". É o que acredita Paulo Sérgio Dortas, sócio-líder de IPOs da Ernst & Young. Outros viram apenas uma "oportunidade de embolsar ganhos". Prova disso é que boa parte das ofertas teve uma parcela importante de emissão secundária – dinheiro que vai diretamente para o bolso dos sócios.
Depois de meses de ostracismo, três novas companhias vão dar as caras na bolsa brasileira. Ainda é cedo para dizer o que o futuro reserva para Locamerica, BTG Pactual e Unicasa. Olhando pelo retrovisor, contudo, é possível conhecer as empresas que prometeram ir às compras e terminaram
Tivit: comprada pelo Apax Partners
Oferta secundária
Valor arrecadado no IPO: 574,6 milhões de reais
Dez anos depois de ser fundada, a Tivit decidiu abrir o capital na bolsa de valores, em setembro de 2009. A empresa, que presta serviços de tecnologia da informação, já tinha entre seus principais acionistas dois fundos de private equity: Votorantim Novos Negócios e Pátria.
Depois da abertura, eles continuaram sócios da empresa que prometeu, a partir do IPO, "continuar com a estratégia seletiva de aquisições" com foco nas empresas de médio e pequeno portes. Nos anos anteriores, a Tivit absorvera os negócios da Softway e da Open Concept.
Em menos de um ano, a empresa terminou sendo adquirida – e por um outro fundo de private equity. O britânico Apax Partners desembolsou 873,8 milhões de reais pelo controle da Tivit em maio de 2010, pagando um ágio de quase 10% sobre o valor de mercado dos papéis. Pouco tempo depois, o Apax levou a parte dos minoritários e tirou a empresa do mercado aberto, desembolsando, ao todo, 1,7 bilhão na operação.
Medial Saúde: comprada pela Amil
Oferta primária e secundária
Valor arrecadado no IPO: 742,3 milhões de reais
No prospecto da oferta de ações, a Medial reiterou a intenção de investir 20% do dinheiro arrecadado na aquisição de "empresas ainda não identificadas". Segundo a companhia, a consolidação entre operadoras de planos médico-hospitalares seria uma tendência natural diante da necessidade de investir cada vez mais recursos financeiros e tecnológicos para manter a competitividade.
De fato, a Medial não economizou nas aquisições depois do seu IPO, em 2006. Entraram no seu portfólio o Grupo Saúde, o SAE Laboratório, a E-Nova Odontologia e a Amesp. Mas com dificuldades para organizar a casa depois de tantas compras, a empresa acabou amargando sucessivos prejuízos. Em três anos, três presidentes diferentes passaram pela companhia, todos incumbidos de reduzir despesas e adequar preços.
Com o balanço manchado de vermelho, a companhia terminou comprada. Em 2009, seu controle foi vendido por 612,5 milhões à Amil, maior consolidadora do setor. Em 2010, outros 577 milhões foram pagos pela Amil pelo restante das ações da empresa que ainda eram negociadas em bolsa.
Datasul: comprada pela Totvs
Oferta primária e secundária
Valor arrecadado no IPO: 317 milhões de reais
A Datasul foi outra empresa de tecnologia que optou por abrir capital com o discurso de usar parte do dinheiro arrecadado para turbinar as compras. Além de pagar dívidas, ampliar a rede de distribuição e aumentar a oferta de serviços, a companhia reforçou a intenção de "perseguir seletivamente novas aquisições" no prospecto divulgado ao mercado.
Fundada em 1978 para ajudar empresas de manufatura a implantarem sua unidade de processamento de dados, a Datasul fez seu IPO em 2006, mesmo ano em que a Totvs decidiu abrir capital. Dois anos depois, acabou sendo comprada pela concorrente, deixando de ser negociada na bolsa de valores.
Pelo acordo, os acionistas da Datasul ficaram com 14,3% do capital da Totvs e 480 milhões de reais em dinheiro. A transação também envolveu troca de papéis no valor de 220 milhões. Com a operação, a Totvs tornou-se a maior empresa de software de gestão da América Latina, entrando também na lista das dez gigantes mundiais.
Banco Patagonia: comprado pelo Banco do Brasil
Oferta primária e secundária
Valor arrecadado no IPO: 539,4 milhões de reais
Em 2010, o Banco Patagonia também viu seu negócio sumir da Bovespa. A instituição financeira argentina, fruto da fusão entre antigo Sudameris Argentina e o Patagonia, havia aberto capital no Brasil em 2007. Na época, afirmou que um dos seus principais objetivos era consolidar-se como um dos bancos líderes em serviços financeiros integrados na Argentina.
Para tanto, o Patagonia daria ênfase ao crescimento orgânico, aliado a "oportunidades estratégicas de aquisições e fusões com foco na incorporação de novos produtos, clientes e recursos humanos".
No fim das contas, o Patagonia terminou sendo comprado pelo Banco do Brasil. Em agosto de 2010, o BB anunciou a aquisição de 51% das ações da instituição financeira por 479,6 milhões de dólares, dando início ao seu processo de internacionalização com a manutenção da marca Patagonia na Argentina.
Sistema Educacional Brasileiro (SEB): comprado pela Pearson
Oferta primária e secundária
Valor arrecadado no IPO: 412,5 milhões de reais
Quando estreou na bolsa, em 2007, o SEB - Sistema Educacional Brasileiro - elegeu a compra de outras empresas como a motivação principal do seu IPO. Segundo a companhia, 40% dos recursos arrecadados seriam utilizados em aquisições, maior fatia destinada a um único propósito. Até então, o grupo havia abocanhado instituições de ensino básico em Salvador, Vitória, Goiânia, Belo Horizonte, Brasília e Maceió. Estender o alcance a outras capitais estava entre seus principais planos.
Mas foram as apostilas e metodologias de ensino da empresa que acabaram atiçando a cobiça do mercado. Em agosto de 2010, a Pearson, dona do Financial Times e da revista The Economist, levou os sistemas de ensino COC, Pueri Domus, Dom Bosco e Name, além de gráfica, do site Klick Net e das operações de logística da companhia.
Nos 12 meses anteriores à transação, a maior parte do lucro bruto do SEB viera dessa divisão: 114 milhões de reais de um total de 171 milhões. Com a operação, a área de escolas, faculdades e ensino à distância permaneceu com o SEB, que deu adeus à Bolsa depois de ofertar um generoso prêmio aos minoritários pelos papéis remanescentes. Por Marcela Ayres
Fonte: Exame 24/04/2012
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