Por que os fundos de participação apostam cada vez mais nas empresas de médio porte.
O empresário mineiro Bernardo Lobato Fernandes, presidente e um dos fundadores da GlobalBev, tem vários motivos para comemorar o ano de 2011. Um deles é o crescimento de mais de 30% no faturamento de sua empresa, que avançou para R$ 225 milhões ante R$ 170 milhões no ano anterior. Outro é que a companhia mineira, fundada há dez anos e dedicada à produção e distribuição de bebidas, petiscos e energéticos, recebeu um aporte de R$ 50 milhões do fundo de private equity Endurance Capital Partners. “Os recursos vão acelerar nosso crescimento, reforçando nossa estrutura de capital e permitindo que façamos aquisições estratégicas”, diz Fernandes. Além do dinheiro, o Endurance trouxe um conhecimento precioso. “Sempre fomos focados em vendas e marketing, mas a entrada do Endurance mostrou a importância de investir em governança e em gestão”, diz o executivo.
Aportes como o da Endurance na GlobalBev são a mais nova tendência dos fundos de private equity brasileiros. Esses fundos buscam comprar participações ou o controle de empresas fechadas com grande potencial e ganhar com o crescimento delas. No fim dos anos 90, quando essa atividade ainda engatinhava no Brasil, os gestores de private equity tinham de ser muito pacientes e permanecer com seus investimentos por longos períodos. Alguns anos mais tarde, a efervescência do mercado de capitais facilitou os desinvestimentos por meio de aberturas de capital em bolsa e trouxe novos participantes ao mercado, mas apenas os dedicados às empresas em vias de ser listadas em bolsa. Agora, o amadurecimento dessa atividade permite mais negócios com companhias menores e com grande potencial de crescimento.
“As empresas de médio porte serão o grande incentivo para o private equity nos próximos anos”, diz Fernando Marques, principal executivo do fundo americano HIG no Brasil. Ex-presidente do fundo americano General Atlantic, voltado a grandes empresas, Marques trocou a chefia de uma instituição solidamente estabelecida pelas dificuldades de montar uma operação a partir do zero por estar convencido do potencial desse mercado. Fundos concentrados apenas em companhias fechadas de grande porte têm a desvantagem de operar em um mercado restrito. O faturamento maior eleva os preços de compra e reduz a margem de lucro na hora da venda. No caso das empresas menores, a possibilidade de ganho aumenta. “A companhia tem mais potencial de crescer e pode comprar concorrentes facilmente”, diz Marques.
Essa estratégia, claro, é trabalhosa e mais arriscada. Além dos recursos, o gestor do fundo precisa, muitas vezes, colocar as duas mãos na massa. “Os alvos em geral têm bons modelos de negócio e uma agenda de crescimento agressiva, mas costumam ser menos estruturados em gestão e em governança corporativa”, diz. “O empresário está tão focado em vender que não tem tempo para se dedicar ao funcionamento interno.” Nos Estados Unidos, o HIG conta com US$ 9 bilhões de recursos. É uma cifra menor do que as dezenas de bilhões dos líderes desse segmento, mas é um número importante quando se pensa que sua mira está assestada apenas contra alvos menos avantajados. Marques não revela quanto o fundo vai investir no Brasil, mas diz que seu alvo é fazer negócios ao redor de R$ 40 milhões, comprando participações de empresas que faturam até R$ 100 milhões.
Para o gestor, essa mudança só é possível devido ao amadurecimento do mercado por aqui. Segundo ele, até há pouco tempo só era possível sair de um investimento por meio da abertura de capital ou pela venda para um sócio estratégico, mas agora há novas possibilidades. “Os compradores das empresas em que investimos podem ser outros fundos de private equity”, diz. O resultado compensa. “O Brasil está vivendo um ciclo virtuoso de estabilização e crescimento e ainda terá mais duas décadas de bônus demográfico”, diz Sidney Chameh, presidente da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (ABVcap). A entidade está se preparando para ensinar os candidatos a obter recursos, para facilitar o acesso ao capital para os empreendimentos de menor porte.
“A meta é aumentar a abrangência do private equity, para que ele possa alcançar mais empresários”, diz Chameh. Interesse não falta. A gestora paulista DGF Investimentos está preparando seu terceiro fundo destinado a empresas de médio porte. “Já temos duas carteiras dedicadas a companhias com faturamento entre US$ 10 milhões e US$ 100 milhões”, diz Frederico Greve, sócio da DGF. “Esse é o grande tema quando se fala de private equity no Brasil hoje.” Segundo o executivo, há cerca de 30 mil companhias cujas receitas e perspectivas as tornam alvos possíveis para esses fundos. “Elas possuem excelentes perspectivas de crescimento e operam em mercados bastante fragmentados, com um amplo potencial de valorização”, diz Greve. Por Cláudio Gradilone
Fonte:IstoéDinheiro16/02/2012
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