Empresa aproveita mercado fragilizado por crise que levou dona de Avis e Budget a pedir recuperação judicial
Uma das 20 maiores empresas de aluguel e gestão de frotas de automóveis para terceiros no país, a paulista Let’s tem planos de crescer aproveitando pechinchas de um setor em crise mesmo com a demanda em alta. Em 2011, a companhia adquiriu carteiras de clientes de dois concorrentes e ampliou a sua, de cinco mil para sete mil veículos. Neste ano, a estratégia será semelhante. “Temos algumas aquisições em vista e devemos começar as negociações em março ou abril, assim que digerirmos as últimas”, diz o diretor executivo, Ricardo Bernasconi.
Parte do grupo Morada, dono da Morada Transportes e da Agropecuária Guaiacá, a empresa terá disponível o dobro dos R$ 40 milhões investidos em 2011 para os planos de expansão. A ideia, segundo ele, é acelerar o processo para aproveitar a crescente demanda pelo serviços no mercado, enquanto muitos concorrentes descapitalizados lutam para voltar aos eixos. “De modo geral, o crescimento do setor é 3 a 5 vezes o PIB”, diz Bernasconi.
A adesão ao modelo de terceirização de frotas, sustentam executivos da área, é impulsionada pelo aumento da competitividade nos mais diversos setores da economia. Pressionados pela concorrência, o clientes potenciais tenderiam a direcionar o dinheiro que têm para as atividades fim de suas empresas. Ao invés de investirem na compra de automóveis e de manterem estruturas e equipes de manutenção, estariam optando por alugar os automóveis em contratos de dois ou três anos, que já incluem manutenção e trocas em caso de problemas com os veículos.
No embalo da tendência, outra companhia do ramo, a Localiza, uma das poucas com capital aberto na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F Bovespa), cresceu 27,9% em receita com aluguel e gestão de frotas de veículos para terceiros, no acumulado de janeiro a setembro de 2011. O aumento foi de R$ 260 milhões para R$ 333 milhões.
Se o vigor do mercado se mantiver, a receita do setor, que nas contas da Associação Brasileira das Locadoras de Veículos (Abla) chegou a R$ 5,1 bilhão em 2010, com alta de 17%, pode superar os R$ 6 bilhões, em 2012. A ambição da Let’s, porém, é crescer em termos percentuais muito acima disso (88%) e fechar 2012 com receita de R$ 160 milhões. Até 2015, quer estar entre as dez maiores do país e gerenciar mais de dez mil carros.
Crise
Por ora, a companhia é uma das sobreviventes de reviravoltas recentes do setor de locação e gestão de frotas de veículos, que já levou empresas tradicionais a pedirem recuperação judicial. O caso mais emblemático é o do Grupo Dallas, controlador no Brasil das marcas Avis e Budget, que fez a solicitação no final de 2012.
A lógica por trás do problema é a explosão na venda de carros novos no Brasil e a desvalorização dos usados. O modelo de negócios das locadoras é baseado em ganhos com a locação, a gestão e a venda dos veículos. A venda dos automóveis acontece após um período que pode variar de um a cinco anos, mas que normalmente é de dois a três.
Com a crise de 2008, para incentivar a indústria nacional, o governo baixou o IPI dos carros nacionais zero quilômetros. E muita gente que fazia as contas para adquirir um semi-novo correu para um zero quilômetro. A queda no preço dos usados chegou a 30%, diz Bernasconi, e quem dependia mais da venda para lucrar, passou a ter dificuldades.
Para a Let’s e outras companhias capitalizadas, passada a etapa de ajustes nas próprias contas, o problema virou a chance de crescer mais rápido.
Dubes Sônego, iG São Paulo | 27/01/2012 05:00
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