25 janeiro 2012

É bom que nós, brasileiros, voltemos os olhos para cá

Os dados do setor externo reforçam a percepção de um estranho fenômeno recente da economia brasileira: enquanto os estrangeiros ficam comprados em Brasil, deixando seus recursos aqui aplicados no longo prazo, os brasileiros aproveitam a bonança relativa gastando em dólar tudo o que podem em viagens no exterior. O otimismo é tanto com o Brasil que mesmo com o apetite voraz da antiga - e da remediada - classe média brasileira nos outlets dos subúrbios de Miami ou Nova York, ainda sobra um troco positivo para o País.

As transações correntes apresentaram déficit de US$ 52,6 bilhões em 2011, 11% maior que 2010 (em proporção do PIB, o resultado não é tão ruim, sai de 2,21% para 2,12%). A balança comercial até que se mantém robusta, apesar dos ventos cambiais soprarem do oceano para a costa brasileira, trazendo nos navios toneladas de dólares aproveitando a Zona de Alta Pressão Brasileira, resultado de juros altos aqui e abaixo da linha d"água lá fora.

Quem nos salvou foi mais uma vez a percepção que, nove fora zero, o Brasil é melhor que o resto do mundo em decomposição ou em estado vegetativo. Além da taxa de juros forçar o dólar goela abaixo do BC, a perspectiva de que os investimentos em 2012, 2013 e 2014 (ligados à Copa e ao pré-sal) vão turbinar a economia fazem o investidor estrangeiro vender suas posições lá fora para comprar, enquanto ainda está barato, posições aqui.

O investimento direto subiu 37%, para o recorde de US$ 66,6 bilhões, o que garantiu que o balanço de pagamentos fechasse positivo novamente. Os dados mostram o interesse do estrangeiro em fincar os dois pés por aqui.

O interesse é tanto que a imigração já começou, seja na precariedade de desesperados haitianos, até o bem educado desespero de europeus sem trabalho. Entre comprados e vendidos em Brasil, é melhor que nós, brasileiros, voltemos os olhos, e os bolsos, para cá. Caso contrário, daqui algum tempo pode já estar caro demais. ANDRÉ PERFEITO É ECONOMISTA-CHEFE DA , GRADUAL INVESTIMENTOS
Fonte:OEstadodeSP25/01/2012

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