O ano foi bom para as redes de livrarias do país. As empresas ouvidas pelo Valor cresceram entre 10% e 21% em 2011 na comparação com 2010, considerado um ano de grandes vendas. E, apesar do avanço dos livros digitais e das incertezas alimentadas pela crise econômica europeia, as livrarias estão com previsões otimistas para 2012 e planejam expandir os negócios.
A Saraiva, que conta com 98 lojas em 16 Estados e é a maior rede de livrarias do país, acumulava nos nove primeiros meses um alta de 20% na receita líquida, que somou no período R$ 1 bilhão. O lucro, porém, teve queda de 34% no período. "Nosso resultado foi impactado porque tivemos maior necessidade de capital de giro no negócio. Há um ambiente competitivo irracional com alguns varejistas virtuais que chegam a parcelar em 12 vezes uma compra de R$ 39", disse Marcílio Pousada, presidente das Livrarias Saraiva.
A rede mineira Leitura, com 32 lojas, deve encerrar o ano com crescimento na receita de 18%, impulsionado também pela abertura de três lojas durante o ano. Considerando as mesmas unidades, o crescimento é de 11%, segundo Marcos Teles, diretor da Leitura. Para o próximo ano, a previsão é abrir entre cinco e seis lojas em Belo Horizonte, Salvador e no interior de São Paulo.
Na paulista Cultura, o crescimento orgânico neste ano ficará em aproximadamente 15%. "Percentualmente, o segmento juvenil foi novamente o que mais cresceu, com 23%. Mas a literatura continua sendo nosso carro-chefe", diz Ricardo Schil, gestor de compras da Cultura. "Neste ano, nosso desempenho foi inferior ao de 2010, mas naquele ano houve um boom no varejo". Em 2010, o faturamento cresceu acima dos 15% deste ano.
A rede Nobel cresceu 12%, impulsionada pelos livros infantis.
O grupo Livrarias Curitiba, com forte presença no sul do país, projeta crescer entre 10% e 12% em 2012, impulsionado pela abertura de uma nova loja em Ponta Grossa (PR), no Shopping Palladium, no fim deste ano.
A Travessa, no Rio, e a Livraria da Vila, em São Paulo, também planejam aberturas em 2012. A primeira diz que não há nada concretizado; já a Livraria da Vila deve inaugurar três unidades e expandir para fora de São Paulo. Uma das aberturas na capital paulista será no Iguatemi JK, shopping que está sendo erguido. As outras duas lojas serão na região metropolitana. Os contratos ainda estão em fase de discussão e não podem ser revelados, diz o diretor-geral Samuel Seibel.
Os executivos dizem que o avanço dos e-books não deve atrapalhar a abertura de novas lojas, e que o livro virtual não precisa ser necessariamente considerado uma ameaça ao impresso. Pelo contrário. Há donos de redes de livrarias que aprovam o crescimento desse mercado, apostando no aumento geral do número de leitores.
Roberto Guedes, sócio-diretor da Travessa, diz que o livro digital pode ser positivo para as livrarias por popularizar o hábito de ler. "Por um lado, isso [e-book] agrega e dissemina a leitura", diz o executivo, "ainda mais no Brasil, que tem um mercado promissor".
Sua empresa vai começar a vender livros digitais a partir de janeiro. "Tudo o que se referir a livro nós vamos trabalhar. Um dos diferenciais da Travessa é a escolha, a curadoria [dos títulos]", diz Guedes. A empresa tem sete lojas no Rio de Janeiro, além do comércio virtual. A rede cresceu 20% em 2011.
Sérgio Milano, diretor da Nobel, destaca ainda outro fator positivo com a proliferação do e-book: a venda dos livros que esgotam rapidamente ou encalham nas prateleiras. "É um mercado complementar, muito útil para solucionar a questão dos livros esgotados e de baixo giro. Do ponto de vista de vendas não interferiu em nada", diz ele.
A ideia é a mesma na Livraria da Vila, que tem seis lojas em São Paulo. Seibel diz ver com bons olhos a proliferação de leitores digitais. Muitos, diz ele, frequentam o estabelecimento como ponto de encontro, para aproveitar palestras e peças teatrais. As lojas da rede devem sediar 2 mil eventos este ano.
"O tablet oferece tanta coisa para fazer: e-mail, jogos… A leitura em si vai existir, mas para quem aprecia ler dessa forma. Quanto vai tirar do mercado tradicional? É a grande dúvida. Mas projeto um crescimento do próprio mercado [literário], não sinto uma ameaça", diz Seibel.
A Livraria da Vila deve fechar 2011 com crescimento de 10% sobre 2010 nas mesmas lojas, considerando todos os produtos: livros, CDs, DVDs e papelaria. Assim como nas concorrentes, o livro é o carro-chefe empresa, e representa cerca de 80% do mix de produtos da Livraria da Vila. A parte de papelaria e revistas têm fatias menores nas vendas.
Fundada em 1984, a Livraria da Vila começou a vender CDs e DVDs vinte anos depois. As vendas desta categoria estão estabilizadas, diz Seibel, mas o executivo não especifica como é o crescimento por categoria. "Se a gente não soubesse o que acontece no mundo, a gente não diria que há crise", diz ele, referindo-se à queda generalizada de vendas de CDs por causa da possibilidade de gravar músicas pela internet.
Os downloads também não acabaram com as vendas de DVDs e CDs da Livraria Cultura, que vendeu 14% e 15%, respectivamente, a mais em 2011 do que em 2010. E a participação dos livros no mix é um pouco menor: 61%; CDs e DVDs respondem por 28%; jogos, revistaria e outros itens, 11%. Por Beth Koike e Letícia Casado
Fonte:Valor27/12/2011
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