07 outubro 2011

Vale mantém política de RI e descarta aquisições

Mineradora afirma que excedentes de caixa irão para os acionistas, que recebem US$ 12 bilhões em 2011. Compra de empresas perde peso na estratégia de globalização.

A mudança de comando na Vale, presidida desde maio por Murilo Ferreira, não interferiu na política de relações com investidores (RI).

É o que afirma ao Brasil Econômico o diretor da área na mineradora, Roberto Castello Branco, sobre a manutenção da meta de distribuir excedentes de caixa não empregados em investimentos de curto prazo aos acionistas.
"Adotamos como política que o que não investimos, nós retornamos aos acionistas como distribuição de dividendos e recompra de ações. É uma política que será mantida ao longo do tempo", diz o executivo.

"Se não tivermos projetos para executar no momento ou que não ofereçam retorno elevado (no curto prazo), tendo um bom fluxo de caixa (disponível), aproveitaremos para retorná-lo aos acionistas", afirma.

A companhia mantém, assim, o foco na distribuição de dividendos e recompra de ações implantada pela gestão de Roger Agnelli (2001-2011).
A política de repasses polpudos do ex-presidente da Vale é apontada por analistas como um dos pontos-chave para recomendar a compra de papéis da companhia.

A mineradora distribuirá US$ 12 bilhões ao longo de 2011. "Vamos recomprar US$ 3 bilhões em ações e distribuir US$ 9 bilhões em dividendos", afirma o diretor.

Segundo Castello Branco, o retorno ao acionista é um dos pilares da companhia para ocupar a dianteira na produção de minerais colocados como estratégicos para diversificar a atuação de mercado centrada em minério de ferro.
"Veremos a Vale como uma das grandes empresas do mundo em cobre, carvão, fertilizantes níquel e minério de ferro. Nosso objetivo é ser a maior empresa de mineração, gerando os melhores retornos, sendo um lugar muito bom para se trabalhar e um grande promotor global da sustentabilidade", afirma.

Gramado mineral

Com aporte de US$ 681 milhões em pesquisa mineral sendo realizado em 22 países neste ano, a Vale compara a investida como a descoberta de novos talentos dos gramados pelos clubes de futebol.
"Time bom investe em categoria de base. Estamos fazendo isso, investindo em exploração mineral em vários países", compra.

O diretor de RI avalia que algumas dessas prospecções "não darão em nada", mas observa que eventuais reservas "de classe mundial vão mais do que compensar os esforços que não deram sucesso".
"Em média, somente em exploração mineral, investimos de US$ 3,5 bilhões a US$ 4 bilhões nos últimos oito anos", diz Castello Branco.

Sem aquisições no horizonte

A estratégia de globalização desenhada pela Vale, em 2003, já absorveu US$ 33,2 bilhões em aquisições de empresas e projetos da Europa à Oceania, passando pelas Américas, África, Oriente Médio e Ásia.
"A globalização partiu naturalmente do processo de diversificação de portfólio, com um programa global para descobrir depósitos em diversos países."

Agora, a mineradora promete controlar o apetite e não fazer grandes compras, como a da Inco, em 2006, quando pagou US$ 18,2 bilhões pela produtora canadense de níquel. "Temos um número enorme de projetos e a prioridade é desenvolvê-los. Não precisamos de aquisições", afirma o executivo.

A administração dos projetos em desenvolvimento limitam, por ora, o mapa de expansão da Vale. "Já estamos onde queríamos estar", diz. Mas o executivo de RI sugere a África e a América do Sul como regiões potenciais para novas empreitadas. "As áreas mais promissoras para descoberta mineral é a África e América do Sul, que oferecem maiores perspectivas", indica.

Manutenção de preço

Estão programados US$ 24 bilhões neste ano para os projetos. A mineradora já indicou ao longo do ano, contudo, que pode não conseguir executar o montante devido às dificuldades que vão de fornecimento de equipamentos a atrasos gerados por efeitos climáticos.

Os atrasos na execução de projetos pelas mineradoras é o argumento de Castello Branco para visualizar a manutenção dos preços dos minérios no longo prazo.
"Existe muito analista que leva em consideração que todos os projetos anunciados pelas mineradoras serão de fato executados", diz. "É uma hipótese extremamente otimista e, basicamente, equivocada por não levar em conta os riscos para execução dos projetos, como licenças ambientais, escassez de equipamentos e mão de obra especializada. Assim como, a exaustão da capacidade existente", critica.

Outro ponto ignorado, segundo ele, é o fato de as mineradoras investirem permanentemente para repor reservas cuja vida útil é reduzida durante a exploração dos recursos. "A desconsideração desses fatores leva a uma visão muito pessimista em relação a preço e otimista sobre oferta", considera.

O diretor garante que a Vale está preparada para uma eventual queda de preço dos minerais, após adotar o sistema de reajuste trimestral no ano passado, substituindo o padrão anual até então praticado.

A mudança equiparou a precificação ao ritmo do consumo. Ou seja, se por um lado, o aumento da demanda força uma subida de valores. Por outro, a diminuição do apetite chinês por matérias-primas pode derrubar o preço com a mesma rapidez. "Sabemos que no mercado de commodities, a volatilidade de preço é uma questão estrutural", avalia Castello Branco.Por Nivaldo Souza
Fonte:brasileconomico07/10/2011

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