Comércio eletrônico faturou no Brasil 8,4 bilhões de reais nos primeiros seis meses de 2011, um salto de 24% sobre igual período do ano passado
São Paulo - A qualidade da banda larga, as deficiências de infraestrutura e o complexo sistema tributário brasileiro tornaram-se problemas menores para grandes companhias de internet, como Amazon e Netflix, que preparam sua chegada ao Brasil para os próximos meses. Às voltas com a estagnação dos lucros nos mercados onde atuam, esses gigantes do e-commerce vão encontrar por aqui um mercado de internet que cresce ao ritmo de dois dígitos há mais de dez anos e consumidores ávidos por uma experiência de compra online de produtos e serviços com um padrão de qualidade ao qual não estão acostumados.
A estreia de maior impacto é a da Amazon, que, ao contrário do que se imaginava, não será pelo e-commerce, mas por seu braço de serviços. Segundo INFO apurou, a maior varejista online do mundo começa suas operações no Brasil pela divisão de Web Services, responsável pela oferta de serviços de computação em nuvem e armazenamento de dados.
Para isso, contratou o especialista em cloud computing José Nilo Cruz Martins, que deixou, há quatro meses, o cargo de gerente de vendas no Google para assumir a estruturação dos serviços da Amazon no país. Para contornar as dificuldades causadas pelos quase 10 mil quilômetros que separam os parques de servidores da Amazon nos Estados Unidos dos clientes brasileiros, a empresa deve associar-se a pequenos data centers locais e criar redes intermediárias, capazes de entregar, com resposta rápida, ao menos os arquivos mais acessados.
A entrada da gigante americana, dona de um faturamento de 32 bilhões de dólares ao ano, deve mexer com o mercado brasileiro. Gilberto Mautner, CEO da Locaweb, fala da concorrência que enfrentará: “Admiro a Amazon pelo pioneirismo, mas hoje temos condições iguais de competir pelos menores preços e melhores tecnologias”. Para Mautner, o atendimento em inglês e o fato de a Amazon optar por não ter data centers próprios no Brasil, num primeiro momento, deixará as companhias nacionais ainda em vantagem.
Analistas ouvidos por INFO afirmam que dificilmente a Amazon limitará sua atuação aos serviços de nuvem. “Essa deverá ser a porta de entrada para a empresa abrir uma operação de e-commerce no país”, afirma Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco.
Nos primeiros seis meses de 2011, o comércio eletrônico faturou no Brasil 8,4 bilhões de reais, um salto de 24% sobre igual período do ano passado. Segundo Gerson Rolin, consultor da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, esse número tende a se multiplicar nos próximos anos e pode se tornar ímã para grandes companhias internacionais. “A Amazon não está fascinada com os resultados atuais, mas com as perspectivas de expansão dos próximos dez anos”, afirma Rolin.
Nos últimos dois meses, representantes da loja americana se reuniram com editoras brasileiras para negociar a publicação de seus autores no formato .azw, de seu leitor eletrônico Kindle. A Amazon tem em catálogo 950 mil e-books e pretende ter ao menos 5 mil livros digitais em português. Saraiva e Cultura não possuem mais que 4 mil. Para Mauro Widman, coordenador de e-books da Cultura, o cenário para o livro eletrônico no Brasil é animador. “Hoje, 1% do nosso faturamento vem de formatos digitais, mas a tendência é chegar a 5%, mesmo patamar dos Estados Unidos”, diz Widman.
Um estudo realizado pela consultoria e-bit aponta a nova classe média brasileira como o principal motor do comércio eletrônico. Há dois anos, o país tinha 17,6 milhões de consumidores online, número que deve saltar para 32 milhões até o final do ano. Segundo o estudo, 61% dos novos adeptos pertencem a famílias com renda de até 3 mil reais.
Os números crescentes atraíram a atenção da americana Netflix, que iniciará no Brasil, até o fim do ano, a venda de filmes, novelas e seriados por streaming. Com acervo de 75 mil títulos, concorrerá com a brasileira NetMovies, que possui 4 mil, uma fração do catálogo da americana. Capitalizado por um aporte da gestora americana de investimentos Tiger Global, Daniel Topel, fundador da NetMovies, tem planos de expandir o acervo e a atuação de sua empresa.
“O mercado brasileiro está em alta e haverá muita concorrência”, diz Topel. A expectativa é que a Netflix ofereça, no primeiro momento, apenas o serviço de filmes por streaming, deixando o de entrega de DVDs na casa dos consumidores para uma segunda etapa.
O bom cenário que se desenha para o e-commerce brasileiro animou também a Sony. A empresa de origem japonesa abriu, no final de julho, sua loja online de games, a PS Store, que funciona integrada à PlayStation Network, rede para jogos online e compra de software. Antes, os usuários brasileiros só tinham acesso aos produtos gratuitos da marca. Quem quisesse comprar um jogo, realizava uma ginástica de irregularidades, como preencher um cadastro falso e se passar por usuário de outro país. Nos primeiros dias após a estreia, a PSN Brasil chegou a 300 mil usuários e, segundo a Sony, deverá somar 1 milhão até dezembro. Para atrair consumidores sem conta em banco ou cartão de crédito, a Sony quer vender cartões pré-pagos da rede PSN em livrarias e lojas de games. “Estamos em fase de negociação com o varejo”, afirma Glauco Rozna, responsável pelas divisões Vaio e PS3 no país.
Música na rede
E o iTunes? Quando, afinal, aterrissa no país? Sempre avessa a especulações, a Apple mantém seus planos fechadíssimos. Mas os últimos movimentos indicam um interesse crescente no mercado brasileiro. Depois de acordos para ampliar as revendas no país e do anúncio de que a parceira chinesa Foxconn irá fabricar iGadgets por aqui, a Apple pode, sim, estrear uma versão brasileira de seu iTunes, o serviço mais popular do mundo para a venda de músicas e conteúdo multimídia. Na América Latina, o serviço restringe-se ao México. A venda de música ainda é um negócio modesto no Brasil para os padrões da Apple, que obtém quase 5% de seu lucro global com as vendas do iTunes. Uma maneira de ampliar o potencial do iTunes é com a venda de cartões pré-pagos em revendas como Fast Shop e Fnac. Apple e parceiros não comentam a estratégia.
A chegada de jogadores de peso, como Netflix, Amazon e Sony, mostra que o Brasil caminha para entrar definitivamente para a primeira divisão do comércio eletrônico mundial.Por Felipe Zmognski
Fonte:exame19/10/2011
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