A Ferreira Costa não foge, definitivamente, ao tradicional estilo recôndito adotado pela maioria das grandes varejistas de material de construção, hoje mais conhecidas por home centers.
Ainda mais se considerados os longos anos de existência da rede pernambucana, passada de pai para filho desde 1884, quando foi fundada no município de Garanhuns, no agreste do Estado. Some-se a isso o interesse crescente das gigantes do setor pelo mercado do Nordeste, região onde a economia cresce acima da média nacional nos últimos dez anos, puxada especialmente pelo consumo das famílias.
"Os grandes estão de olho, estão rondando", disse Guilherme Ferreira da Costa, bisneto do fundador da rede e seu atual diretor-superintendente, ao justificar a escassez de dados que repassaria. A Ferreira Costa é considerada a maior varejista do Nordeste e a oitava do Brasil pelo ranking da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco). Para proteger sua posição em um mercado tradicionalmente competitivo - e cada vez mais atraente para as grandes redes do Sudeste -, a empresa está investindo em expansão.
Devido à ainda grande pulverização do varejo de materiais de construção, a Ferreira Costa é líder regional com apenas três lojas, embora todas de porte respeitável. Juntas, as unidades de Garanhuns, Recife e Salvador somam uma área de vendas superior a 40 mil m², onde trabalham 1,8 mil pessoas. Nos primeiros meses de 2012 será inaugurada a segunda loja no Recife, esta com 16 mil m² de área de vendas, tamanho suficiente para torná-la a maior do Brasil segundo Guilherme, que relutou em revelar o valor do investimento: R$ 80 milhões. Outra unidade da mesma envergadura começará a ser erguida em breve, em um Estado nordestino que o executivo não quis revelar.
Porém, ao falar sobre a cadenciada estratégia de crescimento para os próximos anos, Guilherme mencionou a necessidade de uma segunda unidade na Bahia, Estado onde a Ferreira Costa ocupa a vice-liderança no ranking da Anamaco, atrás da Comercial Ramos. Por outro lado, o diretor revelou que não há grande inquietação em consolidar uma posição exclusiva de rede genuinamente nordestina. "A tendência é que caminhemos em direção ao Sul, onde o mercado é mais consistente. Além do que, quase todo o nosso abastecimento vem de lá", explicou, referindo-se à importância competitiva de custos reduzidos de logística.
Além do potencial consumidor, Guilherme explica que a expansão para novos mercados depende obrigatoriamente de se encontrar um bom endereço para as lojas. Em tempos de construção civil aquecida e construtoras capitalizadas por ofertas de ações, é cada vez mais difícil achar um ponto interessante. "Está realmente complicado encontrar, ainda mais pelo fato de que o nosso negócio exige terrenos bastante grandes", explicou.
A expansão da Ferreira Costa está sendo financiada com recursos próprios e empréstimos de instituições federais, basicamente Banco do Nordeste e BNDES. Captações via bolsa de valores ou atração de sócios ainda são vistas com muitas reservas na empresa, apesar de Guilherme reconhecer os benefícios dessas operações em termos de custo de crédito. "Ainda somos pequeninos pra isso. Vamos crescer, ganhar porte e, quem sabe um dia...", disse o executivo.
Apesar da intenção de continuar fechada e familiar, a rede pernambucana está profissionalizando a gestão, com contratação de executivos de fora e preparação dos herdeiros, com MBA no exterior. A família não pensa em se afastar do comando.
A empresa informa que vêm apresentando crescimento anual médio de vendas de 15%, mesmo desempenho esperado para 2011. "Às vezes se tem uma impressão equivocada de que o setor de material cresce no mesmo ritmo da construção civil, o que não é verdade", observou o executivo. "Acontece que as construtoras costumam comprar direto da fábrica", acrescentou.
Enquanto ele falava à reportagem do Valor, circulava pela loja e pelas dependências administrativas Cyro Ferreira da Costa, 80 anos, neto do idealizador do negócio e atual presidente. "O negócio dele é esse: conversar com fornecedores, funcionários, acompanhar tudo de perto", contou Guilherme sobre o pai. De estilo ainda mais recluso, o patriarca ouviu, sem esboçar reação, as explicações sobre a entrevista concedida "dentro dos parâmetros de discrição da empresa". Em nome da manutenção deste semblante sereno, o faturamento da Ferreira Costa não foi divulgado.
Fonte:Valor07/10/2011
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