06 outubro 2011

Alvo estratégico

A Eletrobras está firme na disputa pela aquisição de uma participação relevante de 21,5% no capital da EDP - Energias de Portugal, a elétrica portuguesa, colocada a venda pelo governo português, que detêm 25% da empresa.

O negócio visa atender a programas de ajuste fiscal que Portugal tem que implementar por conta da crise na Zona do Euro. Para o presidente da estatal, José da Costa Carvalho Neto, que falou ao Valor em telefonema da Bulgária, onde participou de um jantar em homenagem a presidente Dilma Rousseff, "o negócio é importante e estratégico para a Eletrobrás deslanchar seu programa de internacionalização". O mercado avalia a transação em US$ 2 bilhões.

A corrida pelas ações da EDP, que faturou € 14,2 bilhões em 2010, vai ser muito disputada, prevê o presidente da Eletrobras. A brasileira deve enfrentar concorrentes como a francesa EDF, a GDF Suez International Power, a alemã RWE e a chinesa Three Gorges Corporation. Mas a Eletrobras, segundo ele, está bem cotada entre as autoridades portuguesas com quem esteve recentemente. "Nos meus contatos, notei um interesse muito grande deles que a Eletrobras tenha êxito. Somos parceiros da EDP no Brasil, onde construímos hidrelétricas. Fazia parte do nosso plano comprar participação na EDP".

O valor de mercado da EDP é de € 8,6 bilhões. Em 2010, teve lucro de € 1,1 bilhão e fechou o ano com dívida líquida de € 16,3 bilhões..

As propostas de compra devem ser entregues ao governo português até o dia 21. São ao todo três tipos de propostas a serem entregues pelas interessadas no leilão. Uma conterá a parte financeira, outra a de projeto industrial e a terceira um modelo de governança e gestão para a companhia. A proposta industrial envolve o que a futura sócia majoritária da EDP vai propor para ampliar seu plano de negócios e a de governança, entre várias coisas, direitos de veto.

Segundo Carvalho explicou, a seleção da empresa vitoriosa deve acontecer em duas etapas, como prevê o edital de venda. Em uma primeira, todas as interessadas se apresentam e então, avaliadas as propostas, serão selecionadas entre duas a quatro empresas que apresentarem as melhores. Na segunta etapa, o governo português escolhe a vencedora. Todo o processo de venda da participação da EDP, incluindo o pagamento do negócio, deve ser fechado até o final do ano.

A Eletrobras, em princípio, deve correr sozinha na primeira etapa desse páreo, conforme destacou seu presidente. A estatal tem o apoio do governo brasileiro nessa empreitada, tanto que está trabalhando junto com o BNDES na estruturação financeira da operação. O assessor financeiro contratado é o Santander. Indagado sobre a possibilidade de vir a ter um sócio na operação, Carvalho Neto desconversou, mas acabou admitindo que isso talvez possa ocorrer na segunda etapa da licitação. "Sabemos que outros grupos brasileiros estão interessados. Eles podem até entrar sozinhos. Mas não fechamos portas do futuro".

No mercado, as conversas apontam CPFL e a Cemig como candidatas a uma possível sociedade com a estatal no leilão da EDP. Mas não há confirmação dessa notícia. O que se sabe é que as duas empresas estariam interessadas na EDP Brasil, num futuro processo de incorporação dos ativos dessa subsidiária, a qual é dona de duas distribuidoras: Bandeirante e Escelsa.

Carvalho informa que essa possibilidade em qualquer empresa não existe, pelo menos como desdobramento do negócio. "O edital não admite que o projeto industrial inclua qualquer proposta de retaliação da empresa. O que os portugueses desejam com esta proposta é manter a EDP coesa com seus ativos da Península Ibérica, que incluem uma distribuidora, uma geradora e uma distribuidora de gás, mais os ativos dos Estados Unidos e da Europa de energia renovável (eólicas). A EDP é a terceira maior de eólica no mundo, com produção entre 6 e 7 gigawatts e possui no portfólio mais 30 projetos. Para ele, a compra da EDP só vai adicionar fluxo de caixa à Eletrobrás, pois passam a participar de todas empresas do grupo.

Indagado sobre a usina Belo Monte, o executivo disse que há chances de Cemig e Light entrarem como sócios na usina. "Cemig e Light estão analisando e tem chance deles entrarem", declarou ao Valor, adiantando, porém, que "há outros interessados também no negócio". Ele evitou citar nomes. O executivo da estatal informou que a fatia acionária a venda é entre 5% e 10%, mas "é mais para 10% do que para 5%".

Entusiasmado com os contatos feitos com o governo búlgaro, o presidente da Eletrobrás adiantou que após seminário que tratou de temas ligados a energia, onde fez uma palestra, os dois governos devem estabelecer as bases para um memorando de entendimentos na área de energia elétrica e nuclear. "Podemos atuar numa parceria para desenvolvimento de fontes energéticas através de um acordo de cooperação e de negócios envolvendo projetos de geração de energia seja hidrelétrica ou eólica e de aperfeiçoamento e otimização da operação da rede elétrica integrada da Bulgária", disse.

A Bulgária, que tem um território de 110 mil km quadrados e uma população de 7 milhões de habitantes e uma renda per capita de US$ 7 mil, é exortadora de energia para seus vizinhos, no caso a Turquia, Romênia e Grécia. Vera Saavedra Durão
Fonte:Valoreconômico06/10/2011

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