O contexto de baixa demanda mundial para produtos industriais e o dinamismo do mercado consumidor brasileiro motivaram estratégias agressivas de penetração no país.
Isso ocorreu de forma geral nos mercados industriais e não somente no mercado automobilístico, mas, nesse caso, a agressividade e a velocidade do processo têm sido realmente impressionantes.
Uma pequena ilustração: em 2011 até agosto com relação ao mesmo período de 2010, a demanda interna aumentou em 175 mil veículos.
A absorção desse aumento pelas importações chegou a 78%, ou seja, na margem, o importado passou a atender quase 4/5 do crescimento do consumo interno, ficando a produção nacional com apenas 22%.
Como cabe observar, durante todo o boom automobilístico, entre 2006 e 2010, o produto importado foi responsável por 28,3% do aumento da demanda interna, ficando os restantes 71,7% para o produto nacional.
A penetração por meio de exportações em um determinado mercado assume diversas características. Em se tratando do setor automobilístico, envolve, sobretudo, decisões estratégicas de grandes empresas multinacionais, incluindo as relações entre matrizes e filiais de empresas já instaladas no mercado em questão.
Também envolve a rebaixa de preços e a concessão de financiamentos e garantias generosas para a atração dos consumidores ao produto novo. Quanto maior o dinamismo do mercado em questão, maior o "pedágio" que as empresas estarão dispostas a pagar para desalojar em termos absolutos ou relativos os fornecedores já instalados.
As condições externas e internas da economia brasileira fizeram com que as empresas estrangeiras aceitassem arcar com um custo de entrada elevado. Uma interpretação da medida adotada na semana passada de aumento do IPI para automóveis é que ela encarece as estratégias de penetração no mercado doméstico.
Talvez o acréscimo do imposto em 30 pontos percentuais tenha sido dimensionado precisamente para neutralizar o "dumping" de entrada.
Surtindo o efeito desejado, ela não barrará os planos de penetração no mercado brasileiro, mas irá restringir seu ímpeto. Ou seja, o grande objetivo da medida é dar fôlego aos produtores instalados no país e nos parceiros dos acordos automotivos brasileiros - países do Mercosul e México - diante da invasão de importados.
O objetivo se fazia necessário, mas não tem correspondência com a política industrial. Esta, a nosso ver, deveria estar presente, ou, pelo menos, o governo poderia ter aproveitado o contexto para introduzir ações para elevar a eficiência energética e reduzir as emissões de CO2 e ampliar a segurança dos veículos produzidos no país.
O aumento do IPI sobre automóveis importados suscita o aprofundamento da discussão sobre o futuro da indústria no país, pois, guardadas as devidas proporções e características setoriais, o impasse de competitividade vivido pelo setor automobilístico é o mesmo dos setores em geral da indústria e da agroindústria brasileiras.
Reduzir custos sistêmicos, aumentar a produtividade e reposicionar a valorizada moeda nacional continuam sendo as medidas fundamentais e inadiáveis para o Brasil. Por Júlio Gomes de Almeida
Fonte:brasileconomico22/09/2011
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