05 setembro 2011

A Netshoes abre o jogo

A maior loja virtual de material esportivo do Brasil começa a internacionalizar-se. A primeira parada é a Argentina

Começar um empreendimento na garagem de casa pode ser um presságio de que o negócio tem tudo para decolar. Afinal, companhias como a HP e a Apple, para citar dois exemplos, iniciaram suas operações exatamente nesse local. A primeira é a maior empresa de tecnologia dos Estados Unidos em faturamento; e a segunda, a marca mais valiosa do mundo. No caso da loja virtual de material esportivo Netshoes, houve uma pequena adaptação nesse primeiro capítulo.

Fundada pelo paulistano de origem armênia Márcio Kumruian em 2000, a Netshoes surgiu em um estacionamento, na rua Maria Antônia, no centro de São Paulo. Onze anos depois, a lojinha, que vendia calçados, transformou-se na maior operação online de material esportivo do Brasil. Com faturamento de R$ 400 milhões em 2010 – e previsão de receita de R$ 600 milhões para este ano –, a Netshoes já realizou mais de 10 milhões de entregas e mantém mais de 20 mil itens em sua vitrine digital. Ela também administra mais de 15 lojas virtuais, de marcas como Havaianas e Puma. Quatro dos principais times de futebol do País, os paulistas Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo, vendem seus itens oficiais por meio da plataforma de comércio eletrônico da empresa.

Consolidada no Brasil, a empresa inicia, neste mês, seu processo de internacionalização. O país de estreia é a Argentina. O modelo de negócios a ser implementado em terras platinas será uma réplica da bem-sucedida experiência da companhia por aqui. Numa época em que o comércio eletrônico entrou na mira dos órgãos de defesa do consumidor – a Americanas.com chegou a ser proibida de vender no Rio de Janeiro enquanto não regularizasse a entrega de todos os produtos vendidos –, a Netshoes orgulha-se de ter apenas um registro entre as 31,5 mil reclamações recebidas pelo Procon de São Paulo ao longo de 2010. “Não somos uma varejista”, diz Roni Bueno, diretor de marketing da empresa. “Somos uma empresa de serviços.”

Inspirada no modelo da americana Amazon, a maior loja online do planeta, a companhia teve de vencer a resistência dos consumidores brasileiros a comprar roupas e calçados pela internet. Kumruian, um empresário discreto que não dá entrevistas e não gosta de abrir o jogo sobre suas estratégias de negócios, desenhou pessoalmente uma planilha com tamanhos de tênis que serviam de referência aos clientes a cada compra. Além disso, a companhia se comprometeu a receber os produtos de volta, caso o consumidor não ficasse satisfeito. Foi o caso do assessor de comunicação Fernando Antunes, de São Paulo. Ele comprou uma chuteira que não serviu. Dois dias depois, um agente dos Correios estava em sua casa para retirar o produto. “O reembolso ainda não aconteceu, mas estou tranquilo porque eles parecem eficientes”, diz Antunes.

Nos bastidores da Netshoes, o negócio precisa funcionar com a precisão de um relógio suíço. A partir do instante em que o consumidor finaliza a compra, a equipe da Netshoes tem duas horas para aprovar o crédito, embalar e despachar o produto. A promessa é de entrega em até 48 horas, dependendo da região onde o consumidor esteja.

No início deste ano, uma agência dos Correios foi instalada no Centro de Distribuição da empresa – um galpão com 18 mil metros quadrados em Barueri, na Grande São Paulo. Para quem não é do ramo, pode parecer uma providência sem importância. Mas, para quem despacha uma média de 2,5 milhões de produtos por ano, faz uma enorme diferença. “Conseguimos reduzir o tempo de entrega em até 24 horas”, afirma Bueno. Embora seja a única parte da operação entregue a terceiros, a logística de entrega é controlada com lupa pela Netshoes para evitar imprevistos que possam comprometer sua imagem. A empresa tem 17 transportadores cadastrados. “O comércio eletrônico brasileiro é muito competitivo, mas pouco sofisticado”, diz Alexandre Umberti, diretor da consultoria em comércio eletrônico e-bit. “Todo mundo se preocupa em reduzir custos e acaba sacrificando a prestação do serviço.”

A personalização de sua página principal é também outro recurso que contribui para o desempenho financeiro da Netshoes. Em 2010, a companhia comprou a ferramenta ATG, da Oracle, que reconhece o cliente, com informações sobre seu time de coração e o esporte favorito. “Quando o internauta entra na loja, já encontra de cara os artigos que têm a ver com suas preferências”, explica Walter Hildebrandi Filho, diretor de tecnologia da Netshoes. Esse software teria custado cerca de US$ 1 milhão.

A bonança da Netshoes começa a despertar a cobiça da concorrência. Segundo fontes do segmento esportivo, a Centauro, a maior rede nacional de material esportivo com 120 lojas, controlada pela mineira SBF reforçou os investimentos no comércio virtual. A reação da Netshoes, porém, já começou. Em 2010, o fundo americano Tiger Global, que investiu no Mercado Livre, aportou um valor, não revelado, na empresa que agora se prepara para abrir capital. O que poderia acontecer em 2012.
Fonte:IstoÉDinheiro05/09/2011

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