A crescente participação do País na economia mundial intensificou-se após maior abertura ao mercado externo. Tal abertura ocasionou diversas consequências nos mais variados segmentos da sociedade empresarial brasileira. Uma dos efeitos dessas transformações foi o grande número de aquisições de empresas nacionais por organizações estrangeiras.
Este é o estudo de caso apresentado resumidamente neste artigo, em que revela que o processo de aquisição por uma empresa norte-americana causou alterações substanciais nos valores do grupo dirigente.
A análise permitiu identificar alterações nos valores do grupo dirigente após o processo de aquisição.
Antes da aquisição, os principais valores eram: segredo, controle, custos, conformismo, informalidade e investimento.
Após a aquisição, os principais valores mudaram para padrão, custos, comunicação, informações, responsabilidade e planejamento.
Na fase anterior à aquisição, havia preocupação em limitar o acesso às informações e à decisão; após a aquisição, passou a se consolidar a tendência de compartilhar informações e decisões, seguindo o modelo da empresa adquirente.
Muitas das empresas aqui existentes exerciam suas atividades em mercados marcados pelo protecionismo governamental; outras, estatais em sua maioria, atuavam com exclusividade em seus mercados. Isso possibilitou o crescimento vertiginoso de algumas corporações, crescimento este ocorrido muitas vezes de forma atabalhoada, o que acarretou estruturas pesadas e lentas às demandas da sociedade.
As empresas estrangeiras viram, na crescente insatisfação dos consumidores brasileiros com os produtos e serviços a eles ofertados e no potencial de um mercado com, aproximadamente, 190 milhões de habitantes, a oportunidade de marcar presença. Assim, ao longo dos últimos 20 anos, inúmeras aquisições tiveram lugar no cenário nacional.
Os empresários nacionais cunharam valores pessoais a seus negócios, transformando a organização em uma extensão de suas vidas. Dessa forma, quando da aquisição de uma empresa moldada aos valores de seu proprietário, ou grupo dirigente, por uma organização multinacional, parece provável que haverá mudança dos valores organizacionais.
Como tais valores tendem a refletir os valores do grupo dirigente, o objetivo do presente artigo é analisar o processo de aquisição de uma empresa brasileira - empresa Alpha - por uma empresa norte-americana e identificar quais foram as principais alterações ocorridas nos valores do grupo dirigente.
O valor segredo que, antes do processo de aquisição, era considerado o mais significativo, foi substituído pelos valores comunicação e informação, atendendo à forma de gestão mais participativa predominante no grupo Beta.
O valor custos, único a permanecer após a aquisição, acabou sendo levemente intensificado, talvez resultado das experiências no exterior do grupo Beta.
Os valores conformismo e investimento perderam lugar enquanto informalidade foi substituído de forma enfática pelo valor padrão, o que reflete uma tentativa de coesão por parte do grupo Beta em torno de suas inúmeras unidades operacionais ao redor do mundo.
Da mesma forma, surgiram novos valores no atual contexto: responsabilidade e planejamento. Ambos seguem a tendência de adequação ao modus operandi do grupo Beta, que valoriza os aspectos formais e de engajamento de seus colaboradores.
A história inicial da empresa Alpha traz consigo os valores de seu fundador. Esses valores permearam o ambiente organizacional por vários anos e, como consequência, acabaram por constituir os valores dominantes na organização. A partir do processo de aquisição da Alpha, houve mudanças na composição do grupo dirigente, o que acarretou o rompimento dessa trajetória e incorporou novos valores, alguns opostos aos vigentes, no ambiente da organização.
Desta forma, este estudo de caso confirma as proposições de Jones, Felps & Bigley (2007), Geletkanicz (1997) e Hofstede (1996, 1994, 1985), de que a mudança do grupo dirigente pode acarretar mudança nos valores organizacionais. Sob o ponto de vista dos empregados, essas mudanças nos valores dominantes sugerem o surgimento de lapsos no entendimento dos processos organizacionais e, talvez, para alguns, seja difícil assimilar de forma plena a nova realidade.
Nesse ponto, torna-se válida a observação de Cartwright & Cooper (1993) sobre a necessidade de pesquisas prévias sobre os aspectos culturais da empresa que se deseja adquirir, a fim de evitar problemas futuros de integração. A pesquisa prévia pode auxiliar na implementação de estratégia de absorção da empresa adquirida que leve em consideração seus valores anteriores. Essa estratégia visa também a diminuir eventuais reações ao novo modelo imposto. Neste sentido, o artigo recomenda que trabalhos futuros avaliem os impactos da mudança de valores no desempenho dos empregados.
Autores: Ubiratã Tortato, Heitor Takashi Kato e Victor Meyer Jr - professores da PUCPR
Fonte:Gestão & Regionalidade - Vol. 27 - Nº 80 mai-ago/2011
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