31 agosto 2011

Desafio para mídia é tornar mundo digital rentável

A necessidade de encontrar um modelo de negócios rentável no mundo digital está no centro das estratégias de grupos de comunicação em todo o mundo. Apesar de desafiador e ainda incerto, esse cenário abre caminho para uma série de novas alternativas para as empresas do setor.

Para André Luis Furlanetto, que acumula a direção de marketing e da unidade de negócios digitais da Infoglobo - empresa que edita o jornal "O Globo" -, além de mais opções de distribuição com a diversidade de dispositivos disponíveis, o novo ambiente permite o desenvolvimento de um portfólio mais variado e, ao mesmo tempo, personalizado. "Você consegue gerar novas receitas ao fugir do ciclo convencional de produção e ir ao encontro de demandas que hoje não são atendidas no jornal impresso", afirmou, durante participação no VIII Seminário Nacional de Circulação da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), realizado ontem, em São Paulo.

Nesse contexto, o executivo citou a possibilidade de explorar versões diferentes do mesmo material para públicos distintos, com preços variados, além de o investimento em conteúdos segmentados e sazonais. É o caso da produção de séries especiais sobre um determinado acontecimento histórico ou temas de interesse específico. "O mundo digital exige, permite e até convida as experimentações", opinou.

A despeito do meio de distribuição da informação, Furlanetto disse acreditar que a busca da publicação periódica passará a ser pelo tempo e a atenção do leitor. Sob essa visão, ele acrescenta que outro fator que será valorizado pelo consumidor - portanto, passível de cobrança - é a entrega da notícia com conveniência e praticidade.

Os jornais brasileiros, segundo Furlanetto, vivem um momento mais favorável que seus pares no exterior, pelo fato de o índice de circulação dos jornais impressos se manter estável no mercado local: "O Brasil ainda tem mais a defender, mas esse panorama, ao mesmo tempo, permite que possamos testar novos modelos com menor risco do que os jornais americanos e europeus".

Segundo Afonso Cunha, diretor-executivo de negócios do grupo Lance, esse é o momento ideal para encontrar novos formatos de produtos, definição de preços, distribuição e cobrança: "Mesmo o 'Wall Street Journal', que há anos vende conteúdo digital, ainda está experimentando novos modelos."

Por outro lado, os executivos disseram que esse contexto mais amplo esconde desafios como o necessário investimento em infraestrutura para identificar públicos específicos e suas demandas, inclusive para gerenciar diversos patamares de preço em meio à diversidade de produtos, com atenção especial para os micropagamentos.

Para Marciliano Júnior, diretor de circulação e marketing do Valor, o aprendizado nesse novo ambiente não estará restrito aos jornais. "O leitor também vai descobrir e querer novos modelos. E nós temos que estar preparados para antecipar essas demandas", afirmou.

Outra questão debatida está relacionada ao conteúdo gerado para tablets e smartphones, mais especificamente aos modelos de negócios adotados por Apple e Google, empresas que estão dominando o setor no plano dos sistemas operacionais. "Por um lado é positivo, pois temos hoje uma tecnologia razoavelmente estável para definirmos nossas estratégias nos próximos anos", disse Cunha, do grupo Lance.
Em relação à Apple, apesar de ressaltarem o padrão de qualidade e as vantagens de associar o conteúdo aos produtos da marca, os executivos fizeram ressalvas ao modelo de controle rígido da companhia no que se refere a temas como divisão das receitas geradas e compartilhamento de cadastros dos usuários.

Quanto ao Google, apesar da política mais flexível de participação nas receitas e desenvolvimento de aplicativos, são considerados pontos críticos a menor segurança no desenvolvimento de programas e a falta de padronização dos dispositivos e recursos. "Como o Android está presente nos aparelhos de diversos fabricantes, muitas vezes a experiência do usuário no consumo do conteúdo fica prejudicada em alguns dispositivos", disse Furlanetto, da Infoglobo.

Na busca por alternativas aos dois fabricantes, Marciliano, do Valor, disse que a ANJ está em negociação com bancas digitais - lojas on-line para a venda de conteúdo de publicações - e fabricantes nacionais de dispositivos. No centro desses acordos está a procura pela definição de parâmetros mais interessantes ao setor, especialmente em termos de divisão de receitas, distribuição e compartilhamento de dados dos usuários.
Procurados pelo Valor, o Google não se manifestou, até o fechamento desta edição, e a Apple disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não comentaria o assunto.
Fonte:valoreconomico31/08/2011

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