Levantamento do iG revela que 19 dos 20 maiores grupos nacionais faturam mais de R$ 10 bilhões. Há dez anos, eram apenas dois
Na primeira década do século 21, os maiores grupos brasileiros cresceram numa velocidade 2,5 vezes acima da expansão da economia brasileira.
No detalhe, o faturamento dos 20 maiores grupos nacionais de capital privado subiu 534% entre os anos de 2000 e 2010, alcançando uma receita bruta conjunta de R$ 587,9 bilhões. No primeiro decênio do século, o lucro consolidado destes grupos chegou a R$ 60,3 bilhões no ano passado, o que significou uma alta de 678% na comparação com o ganho líquido obtido em 2000.
As conclusões fazem parte de um levantamento inédito elaborado pelo iG com os dados dos 20 maiores grupos de capital privado de controle nacional. Nesta década de ouro para os grupos brasileiros, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 212%, a maior expansão observada desde o Milagre Econômico.
A pesquisa mostra outra curiosidade: as receitas de 19 dos 20 maiores grupos privados ultrapassaram os R$ 10 bilhões em 2010. A velocidade de crescimento do faturamento e do lucro supera também outros indicadores econômicos. No mesmo período de dez anos, as ações do Ibovespa, o principal índice da Bolsa de Valores brasileira, valorizaram 337%. O índice também foi superior aos principais indicadores de inflação, como o IPC-Fipe (77,3%), o IPCA (89,7%) e o IGP-M (129,7%).
O desempenho dos 20 conglomerados privados ajuda a explicar parte da transformação da economia brasileira nos últimos dez anos. “A maioria destas empresas passou por um período não só de crescimento orgânico forte por causa da expansão da economia brasileira, mas também por aquisições tanto no Brasil como no exterior”, diz o professor de finanças da Fundação Dom Cabral (FDC), Haroldo Mota.
Grupos econômicos voltados à produção de commodities são maioria no levantamento. Dos 20 grupos, nove deles têm atividades principais nas áreas de produção de agronegócios e cadeia mineral. De sétima colocada, a Vale, que lidera o levantamento com uma receita bruta de R$ 83 bilhões, tornou-se nos anos 2000 a segunda maior mineradora do mundo. Uma expansão de 747%.
“O crescimento da Vale se deve à realização maciça de investimentos ancorada na disciplina da alocação do capital em resposta à uma forte expansão da demanda global por minérios e metais”, explicou o diretor de relações com investidores da Vale, Roberto Castello Branco, lembrando que os planos são fazer a empresa a maior em termos de capitalização de mercado já em 2015.
“O ciclo de commodity tem sido menos volátil e mais duradouro do que no passado”, diz o professor de economia da FGV-EAESP, Evaldo Alves. Para ele, as necessidades das classes médias dos países emergentes, liderados por China e Índia, vão exigir o fornecimento constante de produtos agrícolas e minerais, os quais o Brasil têm se especializado, por muitos anos ainda. “Esse é o retrato que está sendo delineado para a economia brasileira”, completa.
“Hoje se fala muito em gerar valor agregado, mas a atividade produtiva ligada à produção de commodities não é necessariamente ruim”, argumenta Sérgio Lazzarini, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). Para ele, empresas como a Vale possuem uma tecnologia “embarcada”: “A mineradora investe em pessoal, no seu negócio, criando, por exemplo, diferentes tipos de minério”, explica, concluindo: “o foco deve ser o desenvolvimento da cadeia produtiva”.
Curiosamente, a Embraer, considerada um dos quilates na área de tecnologia brasileira, ficou de fora na lista dos 20 grandes grupos da década de ouro, ocupando a 21ª posição. Seu faturamento cresceu 177%, abaixo da média da expansão do PIB para o período.
Mas além do crescimento da economia e da onda de aquisições, Lazzarini aponta a política ativa do Estado brasileiro como indutora do fortalecimento de alguns grupos privados. “Foi um período em que o governo decidiu criar os campeões nacionais”, diz Lazzarini, que é autor do livro “Capitalismo de laços”, que narra a participação do Estado brasileiro no mundo corporativo depois da privatização dos anos 1990.
O grupo frigorífico JBS talvez seja o exemplo mais eloquente. Induzido pelo BNDES, o JBS ganhou musculatura, comprou rivais, como o Bertin no Brasil e a Swift e a Pilgrim’s Pride, ambas nos EUA, e se transformou no maior grupo processador de carne. O desempenho fez faturamento crescer acima de 5.000% em dez anos, o maior índice de expansão entre os 20 grupos analisados.
Ajustes pré-crescimento
A década de 2000 começou com os grupos econômicos sendo forçados a fazerem um ajuste em suas atividades em razão da desvalorização do real frente ao dólar, que teve um repique em 2002, durante a campanha que levou Lula à presidência. “Há que lembrar que o dólar chegou a quase R$ 4. Isso impôs um esforço em busca da maior eficiência operacional ao mesmo tempo em que se tentava competir com os grupos estrangeiros aumentando sua escala e seu volume de produção e vendas”, diz Mota, da FDC.
Obrigada a rever sua estratégia por causa do endividamento pós-desvalorização do fim dos anos 1990, a Odebrecht se desfez de ativos para atuar apenas na área de construção e petroquímica. Depois de saldar suas dívidas, partiu para a fase de crescimento em meados da década: fez a consolidação na petroquímica, ingressou na produção de etanol e intensificou as sinergias de áreas ligadas à atividade de engenharia e construção.
“Os investimentos em empreendimentos em setores importantes para o País, como petroquímico, infraestrutura e habitação, foram essenciais para o desempenho positivo”, disse o grupo Odebrecht, que se tornou o terceiro maior do País em faturamento, com receitas de R$ 53 bilhões, alta de 558% sobre 2000.
Projetar-se fora das fronteiras do Brasil foi também a estratégia da tradicional empreiteira Andrade Gutierrez. “Nos últimos 10 anos, o grupo passou a ter uma atuação internacional expressiva, desenvolvendo trabalhos em mercados na Europa, na Ásia e na África”, explicou o grupo, que tem negócios em engenharia e construção, telecomunicações e concessões. Seu faturamento aumentou em 578%, atingindo R$ 18,2 bilhões.
Acordos estratégicos
Os grupos que formaram alianças estratégicas com empresas internacionais também despontaram. A cervejaria AmBev fechou acordo com os belgas da InBev, criando a maior empresa do mundo no setor, que depois adquiriu a Anheuser-Busch. Sua receita aumentou 316%, para R$ 46,8 bilhões.
A Cosan, que passou a figurar na 16ª posição com R$ 16,6 bilhões, criou uma joint venture com a Shell, de forma a levar o etanol para fora das fronteiras nacionais. “É bom lembrar que os países desenvolvidos passam por uma crise, com estagnação em seus índices de produtividade, ao passo que os países emergentes, como o Brasil, vêm ganhando espaço no exterior”, diz Alves, da FGV.
A operadora de telefonia Oi cresceu com um misto de aquisição (a compra da Brasil Telecom) e a introdução da telefonia móvel ao seu portfólio de negócios, conta Alex Zornig, diretor financeiro da Oi. A empresa teve um crescimento de 323% em seu faturamento, chegando a R$ 45,9 bilhões. “Esses movimentos ajudaram a compensar a perda da receita com telefonia fixa”, lembrando que a empresa focando investimentos nas áreas de internet e telefonia móvel.
Na busca de escala, o Pão de Açúcar, oitavo da lista com R$ 36 bilhões, aproveitou o crescimento de renda da classe média nos anos 2000. O grupo adquiriu o rival Ponto Frio e associou-se às Casas Bahia. Multiplicou por quatro sua receita. “O movimento de aquisição foi importante para o crescimento do grupo que desenvolveu formatos múltiplos de atendimento no varejo e no comércio de eletrônicos”, diz o diretor de Relações com Investidores do grupo Pão de Açúcar, Vítor Fagá de Almeida. “O objetivo sempre foi atender os diferentes segmentos da população.”
Fonte:iG
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