Após a realização de seis ofertas públicas de ações em um período de dez dias, o mercado de capitais brasileiro fechou o melhor primeiro semestre desde 2007 nesse tipo de operação. As 19 captações concluídas de janeiro a junho movimentaram R$ 15,2 bilhões, valor 12% maior que o registrado em igual período do ano passado, de R$ 13,5 bilhões.
Para o segundo semestre, advogados que atuam na área preveem que esse número se repita, elevando o total no ano para 40 ofertas iniciais e subsequentes no ano.
O fato de o resultado ter sido bom não quer dizer que o mercado esteja às mil maravilhas. Se as operações tivessem saído no melhor preço estimado e os lotes extras vendidos integralmente, as ofertas deste ano teriam somado R$ 22,9 bilhões.
A diferença de R$ 7,8 bilhões é o preço que as empresas aceitaram pagar para ir adiante com as captações e vendas secundárias.
“As empresas cansaram de esperar pelo momento ideal. Desde a crise, esse momento perfeito não chegou e pode demorar um pouco a chegar”, ressalta Bruno Lembi, da M2 Investimentos. “O crédito bancário no Brasil ainda é muito caro. Para se capitalizar e enfrentar concorrência, muitas companhias estão preferindo apostar na bolsa, mesmo que tenham que oferecer bons descontos para o investidor”, diz ele.
Outra evidência de que nem tudo está tranquilo foi a suspensão da oferta da empresa de petróleo Perenco e o cancelamento da distribuição de ações da sucroalcooleira Tereos. Os dois anúncios foram feitos na sexta-feira.
Mas, antes disso, seis empresas conseguiram colocar suas ações no mercado no prazo de dez dias, movimentando R$ 3,4 bilhões, num momento em que a crise grega estava em fase decisiva. “Isso demonstra a força do mercado brasileiro. Um voto de confiança no Brasil. Em condições extremamente adversas, com a Europa num cenário complicado, as operações foram realizadas”, afirma Sérgio Spinelli, sócio do escritório Mattos Filho.
Embora não se saiba ainda qual a participação dos investidores estrangeiros nessas ofertas mais recentes, se eles tiverem comprado metade das ações (estimativa conservadora), o aporte nessas operações terá somado mais de R$ 8 bilhões no ano. Em comparação, o saldo de investimento direto desses aplicadores na bolsa é negativo em R$ 1,4 bilhão no ano até 27 de junho.
Spinelli chama a atenção para o fato de que, nessa última leva de ofertas, todas têm alguma ligação, ainda que indireta, com o setor de consumo doméstico.
Abriram capital a rede de drogarias Brazil Pharma, a administradora de planos de saúde Qualicorp e a fabricante de relógios Technos. As empresas já listadas que foram ao mercado são a investidora imobiliária BR Properties, a empresa de educação Kroton e a fabricante de autopeças Mahle.
Rodrigo Junqueira, sócio do escritório Lefosse, que tem parceria com a banca internacional Linklaters, diz que havia muita incerteza sobre o sucesso das ofertas na semana passada. Ele acredita que as dúvidas vão permanecer neste segundo semestre, mas que as operações vão sair. “Quem tiver uma história boa para contar, sustentável, ou bons projetos de crescimento deve conseguir”, diz.
Junqueira afirma que os setores ligados a consumo, infraestrutura e recursos naturais devem ser os destaques em termos de ofertas até o início de 2012.
Dentro de infraestrutura, ele cita concessionárias de rodovias e ferrovias, empresas de logística e também de aeroportos, lembrando que a própria estatal Infraero pode captar recursos.
O sucesso da maior parte das ofertas da semana passada animou a Copersucar, do setor sucroalcooleiro, a realizar sua abertura de capital ainda em julho, em uma transação que pode movimentar até R$ 2,7 bilhões.
Antes da Copersucar, a empresa portuguesa de energia EDP deve realizar uma oferta secundária de até R$ 880 milhões. A reserva das ações da EDP começa hoje.
Estão na fila também a empresa de vestuário Inbrands, a produtora agrícola Los Grobo e a petroleira Petrorecôncavo.
Fonte:ValorEconômico04/07/2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário