Com estratégia de crescer por compras, fabricante é a empresa mais agressiva e fica entre as mais poderosas em fusões e aquisições
Há alguma empresa das áreas de higiene, beleza e medicamentos isentos de receita à venda no mercado? Pois a Hypermarcas é, sempre, forte candidata a compradora. E não é de hoje. A gigante da área de bens de consumo tem se dedicado a consolidar esses setores desde que foi criada, em 2001 e, mais fortemente, nos últimos seis anos. O objetivo, é claro, é ganhar escala, melhorar margens e capturar de sinergias para dar musculatura à empresa que, no ano passado, faturou US$ 6,2 bilhões, com crescimento de 61% sobre 2009, graças a sua política de crescer por compras.
Não à toa, a Hypermarcas esteve entre as finalistas em duas categorias do Prêmio Negócio do Ano iG/Insper: Empresa Mais Poderosa em Fusões e Aquisições, que soma os valores pagos pelos negócios em 2010 e Empresa Mais Agressiva, que reúne o número de aquisições feitas no ano. E ficou em primeiro na última categoria, ao lado da BR Properties. Cada uma delas fez oito compras no ano passado. Para esta categoria, foi usada a base de dados do DealWatch, que abrange todas as fusões e aquisições feitas no País em 2010, que vieram à público por meio de jornais e revistas.
A empresa realizou oito negócios em suas áreas de atuação em 2010. Em um dos mais ousados, a Hypermarcas fechou em março a compra da Fraldas Sapeka. Sediada em Aparecida de Goiânia (GO), a nova controlada é a campeã de vendas nas regiões Norte e Nordeste. A operação envolveu o pagamento de R$ 225 milhões à vista. Outra parte está sendo quitada com a emissão de 6,785 milhões de ações. Segundo previsões de analistas, o montante do negócio ultrapassa R$ 371 milhões, 14,3% do faturamento da Hypermarcas em 2009. Com a aquisição, o grupo tornou-se o terceiro maior fabricante de fraldas infantis do mundo – e o maior grupo brasileiro a atuar no setor.
Em agosto, a Hypermarcas também acertou a aquisição da Mabesa, outra fabricante de fraldas descartáveis, por R$ 350 milhões. A empresa produz também absorventes higiênicos femininos e lenços umedecidos e era dona das marcas Cremer-Disney, Plim Plim, Puppet e Affective.
Outra tacada importante ocorreu em setembro, quando a Hypermarcas firmou contrato para compra de pouco mais de 99% do capital da York, indústria de produtos de higiene pessoal. A aquisição custou R$ 95 milhões.
Na área de medicamentos sem prescrição, a estratégia de crescimento por aquisições foi semelhante. A Hypermarcas ampliou sua participação no setor com a compra do laboratório brasileiro Mantecorp, por R$ 2,6 bilhões. O pagamento foi feito parte em dinheiro e parte em ações.
O setor de medicamentos de balcão é um dos mais promissores do país, segundo especialistas. A estimativa é que cresça em torno de 10% e feche 2011 com movimento total de R$ 41 bilhões, segundo a IMS Health, consultoria norte-americana especializada na área. Entre março de 2010 e abril de 2011, o setor movimentou R$ 37,7 bilhões. Ainda de acordo com a consultoria, a perspectiva é que, até 2015, o setor mantenha uma taxa de crescimento anual sempre na casa dos dois dígitos, de 10% em cada período.
Além das estratégias de aquisição, a empresa também é conhecida pelos patrocínios esfortivos, atrelando-se a nomes como Ronaldo e Nelson Piquet Jr. Em 2010, os esforços da empresa para ligar suas marcas ao esporte ficaram evidentes especialmente no futebol, com a Neo Química e a Bozzano estampando camisas de times como Corinthians e Cruzeiro.
Todas as operações realizadas pela Hypermarcas – oito no total – colocaram o grupo entre os responsáveis pelos maiores volumes de negócios em fusões e aquisições do ano em valores absolutos. Algumas compras, como a da Sapeka e York, que aconteceram em datas próximas, fizeram com que o retorno aos acionistas fosse de 1,66% nos cinco dias em torno das operações.
Com todos os negócios fechados em 2010 e a própria trajetória apresentada pela companhia nos últimos anos, a Hypermarcas deve fornecer bons retornos a seus investidores também em 2011, conforme avaliação do Bank of America Merrill Lynch. Robert Ford, Melissa Byun e Marcelo Santos, que assinam relatório divulgado pelo banco, lembram, no entanto, que a companhia ainda enfrenta um “consumidor mais ameno, a recuada nos aumentos de preços e a redução dos prazos de pagamentos, o risco de execução com a realocação da produção de cinco mil produtos farmacêuticos até o final do ano.”
Apesar disso, os especialistas ressaltam que a administração também parece estar mudando o foco de crescimento das receitas para a consolidação e integração, o que pode adiar as inovações previstas anteriormente para 2011.
O fato de a empresa ter crescido com base em forte política de aquisições levou o mercado a estranhar quando a Hypermarcas anunciou, no início deste ano, que deixaria de priorizar a expansão e a compra de marcas em detrimento de uma busca por melhores margens. “Durante a divulgação do desempenho do primeiro trimestre, a Hypermarcas informou que abandonaria temporariamente a estratégia [que adotava] para apostar em resultados”, afirma Sandra Peres, analista de investimentos da Coinvalores. “Essa alteração muita drástica no rumo que vinha sendo adotado há anos foi recebida com desconfiança. Nossa recomendação, por exemplo, deixou de ser de compra para a manutenção dos papéis da empresa”.
Segundo ela, a grande dúvida agora é saber se o grupo continuará crescendo no curto e médio prazo. “Outro fator que preocupa é que a adoção dessa nova política estar ancorada em medidas mais conservadoras como a elevação dos preços (de 6% a 8% em média) e a redução dos prazos negociados com seus clientes, o que impacta o lucro líquido”, afirma a analista.
A Hypermarcas alega que a mudança de postura foi causada por alterações no cenário macroeconômico, como o aumento da taxa de juros, aceleração da inflação e manutenção dos níveis de renda e emprego.
Fonte: iG12/07/2011
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