Marcado por processos de adaptações à regulamentação, fusões, aquisições e ampliações, o setor de saúde suplementar está cada vez mais concentrado e exibindo características bastante diversas daquelas que apresentava entre 1998 e 2000, quando 1.968 operadoras – a maioria de pequeno porte – atuavam num mercado sujeito a riscos tanto para as empresas quanto para os consumidores.
A nova face, que começou a ser desenhada com a regulamentação e criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) há uma década, mostra um mercado que tem quase metade do total de operadoras da época, vivendo às voltas com as rígidas determinações da ANS – entre as quais a comprovação de reservas financeiras para assegurar prestação de serviços com qualidade.
Do lado das operadoras, atender às exigências da ANS e às necessidades de seus beneficiários significa alcançar sinergias e ganhos de escala comprando outras operadoras, hospitais, clínicas e laboratórios. É o vem fazendo, por exemplo, grupos de médio porte como o Memorial, do Rio de Janeiro – que fechou em março a compra da carioca Assim Saúde por R$ 100 milhões, depois de adquirir, também este ano, o controle dos hospitais Rio Guanabara, Amiu e clínica Todos os Santos – e gigantes como a Amil.
Com seus cinco milhões de usuários, a Amil é a principal consolidadora do setor. Além de incorporar outras operadoras desde 2002 (Amico, Porto Seguro, Semic, Blue Life, MedCard, CliniHauer, Ampla, Life Systems), investe na aquisição de hospitais. De 2008 para cá, comprou o SK Steckelber, em Brasília, o Ipiranga, em São Paulo, além da Casa de Saúde Santa Lúcia e a Casa de Saúde São José, ambos no Rio. No mesmo ano, a Empresa de Serviços Hospitalares (Esho), controlada pela Amil, comprou o Nove de Julho de São Paulo. Em 2009, adquiriu a Excelsior Saúde por R$ 50 milhões e realizou a maior transação dos últimos tempos: a compra da Medial Saúde, por R$ 612,5 milhões e outros R$ 577 milhões no ano passado, operação que trouxe para a Amil três unidades do hospital Alvorada, além dos quatro hospitais comprados pela Medial em 2007 e o Ana Neri, de Pernambuco.
A Amil incluiu no seu portfólio, no começo deste ano, o Pasteur e o Samaritano, ambos no Rio. O Pasteur tinha como controlador o dono da Amil, Edson Bueno, com 60,85%. A transação, feita por meio da Esho, passou o hospital para a carteira da Amil por R$ 90 milhões, R$ 43 milhões ao controlador e R$ 47 milhões aos demais sócios. A segunda tacada foi a compra do Samaritano, um dos principais hospitais do Rio, por R$ 180 milhões.
Laboratórios, clínicas e seguradoras da área de saúde seguem o mesmo caminho. Em dezembro, a Sul América comprou a Dental Plan – operação de R$ 28,5 milhões que ampliou o acesso da seguradora aos mercados do Norte e Nordeste e acrescentou 122 mil beneficiários à sua carteira de planos odontológicos. Além de também investir na área de planos odontológicos, com participação na Odontoprev, a Bradesco Saúde investiu R$ 342 milhões na compra de 20% de participação no Fleury.
Na área de laboratórios, os que mais vão às compras são Dasa e Fleury. Enquanto avalia novas aquisições, depois da compra da MD1 no ano passado, a Dasa investe na ampliação da base de clientes. No começo do ano, investiu R$ 9,7 milhões por exclusividade de 15 anos na prestação de serviços diagnósticos para hospitais e centros médicos da Amilpar (Foccus/ Total). Já o Fleury firmou em dezembro acordo com os sócios do Labs DOr para aquisição dos ativos de medicina diagnóstica – transação avaliada em R$ 1 bilhão -, comprou este ano o laboratório baiano Diagnoson, por R$ 53,2 milhões, e está agora concentrado no lançamento, previsto para este semestre, da nova marca (a+ Medicina Diagnóstica).
A concentração também é estimulada por hospitais independentes. Em setembro de 2010, depois de ter adquirido o Hospital Brasil, em Santo André, e o controle do Hospital e Maternidade São Luiz por estimados R$ 1 bilhão, a Rede DOr comprou o Hospital Assunção, em São Bernardo do Campo. O processo de aquisições no mercado paulista ganhou força depois que a rede DOr passou a fazer parte do portfólio de Merchant Bank do grupo financeiro BTG Pactual, em maio do ano passado.
Segundo Arlindo de Almeida, presidente da Abramge, enquanto as operadoras investem em hospitais próprios para reduzir custos, os hospitais independentes procuram, com as aquisições, modernizações e ampliações aumentar seu poder de negociação junto às fontes pagadoras (planos de saúde e laboratórios).
Para José Rubens Alonso, sócio da KPMG, especialista em seguros, a compra de outras operadoras ou de fornecedores é a saída encontrada por um setor que tem seus preços controlados na ponta do consumidor. “As aquisições representam uma forma de aumentar os controles sobre seus custos e a rentabilidade do negócio”, diz ele, que acredita na manutenção da tendência de consolidação.
Até agora, a concentração de beneficiários por operadora não é preocupante, diz Luiz Augusto Carneiro, superintendente do IESS. Segundo ele, a concentração ameaçaria a concorrência se a fatia de mercado das quatro maiores operadoras fosse superior a 75%. Segundo dados de 2010 da ANS, as quatro maiores operadoras de planos de saúde no Brasil (Amil, Bradesco Saúde, Intermédica e SulAmérica) têm, juntas, 24% dos beneficiários.
Fonte: Valor Econômico 31/05/2011
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