A alta procura supervaloriza as empresas nacionais.
Em 2010 o setor de TI avançou ainda mais na direção da consolidação das suas empresas por meio de fusões e aquisições e poderá, até o final do ano, atingir um recorde histórico. Segundo dados da KPMG, entre janeiro e setembro de 2010 foram realizados 72 negócios na área. Mas o último trimestre ainda tem potencial.
“Podemos ficar próximos de cem fusões e aquisições. Será a maior lista da história”, aposta Ruy Moura, presidente da Acquisitions Consultoria Empresarial.
Segundo a pesquisa da KPMG, em 2010 os negócios envolvendo organizações brasileiras comprando companhias de capital nacional foram superiores aos envolvendo multinacionais e empresas locais. Entre janeiro e setembro deste ano, em 39 das 72 operações realizadas, as compradoras foram empresas nacionais. Isto vem ocorrendo desde 2008, quando eclodiu a crise internacional que afetou seriamente as economias mais desenvolvidas. A pesquisa também inclui neste número a aquisição de ativos de companhias estrangeiras no exterior por empresas locais.
A TI tem liderado o número de aquisições e fusões na economia brasileira nos últimos anos e, segundo os especialistas, o movimento deve continuar nos próximos anos. Um dos aceleradores dessa tendência são as perspectivas de expansão da economia e seus impactos sobre a área de tecnologia. Para Ruy Moura, os investidores apostam no Brasil interessados no potencial de crescimento do mercado interno de TI.
O perfil do setor, em que a expansão via aquisições é recurso para crescer ou enfrentar a concorrência, também colabora para o crescimento dos negócios. Na busca pela liderança e para ter massa crítica para competir, as empresas têm apostado em aquisições que diversifiquem o portfólio de produtos, e proporcionem acesso a outras regiões do País, onde não atuam, ou que permitam entrar em segmentos complementares aos serviços oferecidos.
Luís Motta, sócio da KPMG e responsável pela área de pesquisa, acrescenta que a dinâmica do setor favorece as operações de aquisições ou fusões. “É uma característica da TI, ao contrário de outros setores, a facilidade de entrada de novas empresas. As de pequeno porte acabam sendo alvos de companhias maiores do setor de TI ou fundos private equity ou venture equity. Os investidores optam por aquelas empresas que têm potencial”, explica.
Ruy Moura, da Acquisitons, destaca que há muitos fundos de investimento de olho no setor. “Um exemplo importante é a compra da Tivit (empresa de outsourcing de TI e processos de negócio), pelo fundo de private equity Apax Partners, por 874 milhões de reais, uma das maiores operações do setor.”
Para o presidente da Acquisitions, entre as áreas que devem ter um número maior de negócios estão BPO, ERP, outsourcing de impressão, data center, cloud computing, comércio eletrônico, infraestrutura e segurança.
O executivo da KPMG concorda que o ambiente de otimismo em relação ao futuro da economia brasileira potencializa a lógica da indústria, que é voltada para aquisições. “Se há um mercado com perspectiva de crescimento, como o Brasil, sempre haverá investimentos, inclusive para aquisições”, diz, acrescentando que no setor de software o apetite por aquisições é maior do que na área de hardware.
Invasão estrangeira em 2011
Para Motta, há sinais que está ocorrendo uma mudança no perfil dos compradores. “Neste ano, a partir do segundo trimestre, os estrangeiros voltaram com mais força e 2011 deve consolidar a tendência.” Um exemplo é a compra de 55% da CPM Braxis pela gigante mundial de serviços de TI, Capgemini, em setembro. O acordo envolveu o pagamento de 517 milhões de reais. Maior empresa brasileira de serviços de TI, a CPM Braxis atende, principalmente, clientes nas áreas de finanças, Telecom, manufatura e utilities. Outro exemplo é a compra, também em setembro, de uma parcela da Locaweb pelo grupo de private equity Silver Lake, empresa de participações com investimentos em empresas como Skype, Nasdaq OMX e Avaya.
Uma multinacional que apresenta apetite para aquisições é o grupo chileno Sonda IT. Em 2010, foram três negócios. Em abril, comprou a Telsinc, empresa de integração de soluções, por 66 milhões de reais, e a Soft Team, subsidiária da Totvs que atua com soluções de software para as áreas fiscal, tributária e de auditoria, por 15 milhões de reais. E, em junho, anunciou a incorporação da integradora Kaizen, por 12 milhões de reais.
O mercado brasileiro tem sido um dos motores da internacionalização da Sonda, que neste ano também anunciou aquisições na Argentina e no México. A empresa está no Brasil desde 2006, quando comprou a brasileira Procwork e passou a adotar o nome local de Sonda Procwork. O presidente do Conselho de Administração do Grupo Sonda IT no Brasil, Luiz Carlos Utrera Felippe, explica que as aquisições realizadas em 2010 tiveram o objetivo de dar um perfi l à subsidiária brasileira semelhante ao da matriz chilena. “A ideia era nos tornarmos um grande provedor, como no Chile. Um outsourcing completo.”
Felippe informa que a companhia tem a meta de continuar comprando no Brasil e na América Latina. “Temos caixa disponível para investimentos e aquisições. Estamos avaliando empresas, mas o problema é o preço”. Segundo o executivo, por conta do grande interesse, os valores estão de 20% a 40% acima do valor de mercado justo das empresas.
Para Fellipe os mercados com grande potencial para crescer no País e, que podem despertar maior interesse por negócios são os voltados para virtualização, data center, Telecom e vídeo.
Brasileiras continuam no jogo
Entre as brasileiras, a desenvolvedora de softwares Totvs é, certamente, uma das companhias mais ativas em relação à estratégia de crescer via aquisições. Desde 2006, já realizou 42 negócios. Em 2010, até novembro, foram nove aquisições, entre as quais a SRC, comprada por 43 milhões de reais em agosto. A SRC detinha uma série de franquias de desenvolvimento de softwares ligada à marca “Datasul”, adquirida pela Totvs em 2008. A Totvs também apostou em empresas de canais de distribuição e de software para televisão digital em 2010.
Para o vice-presidente executivo e financeiro da Totvs, José Rogério Luiz, a Totvs quer companhias que tragam “novas habilidades”. “O objetivo é agregar capacidade que a Totvs não tem. Pode ser o conhecimento de um novo produto, ampliar a atuação geográfica ou ter um novo segmento de atuação”, explica.
Segundo Luiz, a estratégia de crescer via aquisições não vai mudar. “A empresa continua acreditando que não tem tudo o que gostaria de ter. A Totvs está sempre analisando, em média, seis operações ao mesmo tempo.” Luiz não revelou quais segmentos são alvos da Totvs para 2011. Segundo ele, saúde e educação estão entre os segmentos consumidores de software com melhores perspectivas de expansão nos próximos anos, assim como os negócios relacionados à cloud computing. Embora a organização já tenha ativos nessas áreas, as projeções podem ser um indicador das áreas das futuras incorporações da empresa. Vale lembrar que a política de incorporações da Totvs tem o fôlego do capital gerado pela oferta pública inicial de ações (IPO, em inglês) realizada em 2006.
Várias empresas de TI já manifestaram a intenção de fazer um IPO. A conjuntura internacional é desfavorável desde 2008, mas os analistas apostam num cenário favorável em breve, abrindo perspectivas para novas operações na BM&FBovespa, o que irá acelerar o processo de consolidação do setor de TI.
Entre as prováveis candidatas a realizar IPO e liderar o processo de aquisições no País está a integradora brasileira BBKO Consulting. No início de 2010, a empresa comprou a SYSone, fornecedora de serviços baseados em plataforma SAP e que possui também uma fábrica de software .Net e Java. Na ocasião, o presidente da companhia, Marcos Peano, revelou os projetos: “Estamos buscando um aporte de capital que, se concretizado, vai permitir comprar empresas avaliadas entre 30 milhões e 40 milhões de reais. Tudo isso faz parte de um plano de, até 2013, atingir um faturamento de 450 milhões de reais e realizar oferta pública de ações (IPO)”.
Ao ser entrevistado para esta edição de COMPUTERWORLD, Peano reafirmou os planos da companhia. Segundo ele, a BBKO já se prepara para implementar uma estrutura de governança, pré-requisito para se inscrever para um IPO. “A empresa continua buscando oportunidades de aquisições. Isto é fundamental pois o crescimento orgânico não sustenta.”
Para Peano, o segmento de prestadores de serviço de SAP ainda está em consolidação e, até o fi nal de 2012, o número de competidores deverá diminuir fortemente. “Haverá um movimento de consolidação, que poderá ser liderado por nacionais ou estrangeiras. A atual lista de parceiros ofi ciais SAP, que é de 50 empresas, deverá ser reduzida para menos de 20”, avalia. Para o presidente da BBKO, o momento é ideal para aquisições e fusões e a BBKO não quer ser coadjuvante. “Atualmente, não há grandes corporações brasileiras no setor. Para mim, é uma oportunidade. O mercado comporta empresas nacionais de grande porte com faturamento acima de 1 bilhão de reais e quero ser uma delas”, conclui.
Matéria publicada na COMPUTERWORLD em 04 de janeiro de 2011, por Lucas Callegari
http://computerworld.uol.com.br/negocios/2011/01/04/ti-lidera-fusoes-e-aquisicoes/
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