04 abril 2019

Como a fintech Vindi surfa a Economia da Recorrência

Rodrigo Dantas, fundador da Vindi, conta como a fintech vem desbravando o mercado financeiro com uma plataforma de pagamentos para o setor de serviços

“A economia da recorrência é a transformação das relações comerciais entre consumidores, empresas e segmentos, baseando o consumo em acesso, não em propriedade. A economia da recorrência é a economia da subscrição (das assinaturas).” Esse é o preâmbulo do Manifesto da Economia da Recorrência, escrito por Rodrigo Dantas, CEO e fundador da Vindi, fintech especializada na gestão e recebimento de pagamentos, que oferece uma plataforma na nuvem para facilitar maior controle de vendas, cobranças e faturas.

A Economia da Recorrência, também conhecida como modelo de assinaturas, baseia-se na oferta, ao cliente, de acesso aos benefícios de produtos e serviços cobrados mensalmente. Um exemplo clássico desse tipo de economia na atualidade é a Netflix, que derrubou empresas de locação de DVDs ao oferecer, via assinatura mensal, um extenso catálogo de filmes online. No caso de serviços, um exemplo de negócio que funciona cada vez mais por meio da economia da recorrência é o das academias de ginástica.

O gateway da Vindi está conectado com todo o ambiente financeiro, promovendo emissão de boletos, cobrança por cartões de crédito, débito em conta, com foco especial nas empresas do setor de serviços, que correspondem a 71% do Produto Interno Bruto do Brasil. Mas o que é o gateway? O gateway processa o pagamento no momento do checkout. Ou seja, é ele quem efetiva a compra. Dessa forma, facilita a integração das lojas com os diversos meios de pagamento disponíveis no mercado e transmite as informações coletadas pelos lojistas, via API.

“Meio de pagamento no país sempre foi voltado para o varejo, para o e-commerce, nunca atendeu bem o mercado de serviços. Quando começamos, em 2013, o nosso foco era o de ser o meio de pagamento oficial desse setor”, diz Dantas. De acordo com o empreendedor, a reflexão do manifesto e da análise de mercado local são associadas às dinâmicas globais de pagamentos, que apresentam perspectiva de ser majoritariamente balizada pelo modelo de assinaturas.

Para ele, quando empresas como a Apple vendem smartphones, elas estão pensando nos serviços complementares que vão agregar valor ao negócio, como o iTunes. Outro caso lembrado é o da Adobe, que, no mesmo ano de fundação da Vindi virou a chave, mudando o seu modelo de negócios de venda de licenças para pacotes de assinaturas de acesso aos softwares.

“Eu escrevi o manifesto em 2015, mas hoje é uma realidade forte no dia a dia de muitos serviços. As pessoas não querem mais comprar carros, elas querem ter acesso ao transporte por outros meios. Elas não querem mais comprar um livro, querem ligar o Kindle e ter acesso aos conteúdo. E isso está sendo tão rápido que está transformando todas as indústrias”, diz Dantas.

Hoje, 4.300 empresas utilizam o gateway da fintech, dentre as quais gigantes dos pagamentos recorrentes como as principais escolas de idiomas do país, Multiplus, Giuliana Flores, Empiricus e Resultados Digitais. “Como estamos na área de recorrência, atendemos empresas do mercado de serviços que possuem planos de mensalidade e assinaturas e vendem mais de uma vez para o mesmo cliente. O propósito da Vindi é ajudar os empreendedores e as empresas a venderem mais e sempre. Esse é nosso negócio.”

"Comecei vendendo discos de vinil"
Dantas possui certa semelhança física e trejeitos com o personagem de John Cusack no filme Alta Fidelidade (2000), um apaixonado por música que passa boa parte do tempo com os amigos em uma loja de discos de vinil.

No final da adolescência, o fundador da Vindi fazia negócios com ‘bolachões’ gringos. “Meu pai tinha uma loja de embalagens, e venda sempre esteve no meu DNA. Durante três anos, no início da internet, eu vivi da venda de discos importados. Fazia um elo com as lojas da Rua 24 de Maio e a Galeria do Rock [em São Paulo], era a minha fonte de renda. Depois eu caí na real e fui estudar, arrumar um emprego de verdade”, brinca.

O primeiro emprego foi como vendedor nas lojas C&A. “Logo percebi que ganhava mais dinheiro vendendo discos”, diz. Dantas estudou publicidade e propaganda na Universidade Ibirapuera. Foi então que começou a trabalhar no banco Itaú, onde fez carreira por 14 anos. Ele começou como contínuo, passando pelas funções de caixa, chefe de serviço, gerente operacional e comercial, até alcançar a posição de executivo na área de empresas.

“Foi a minha maior escola, porque percebi que atender empresas era a minha vocação. Eu me especializei em marketing na Universidade Mackenzie e FGV-SP. Em 2011, fiz um curso de verão na Universidade de Stanford, na Califórnia, e voltei com a ideia de empreender, mas não tive coragem de sair do banco naquele momento”, conta.

Alguns anos antes, em paralelo com o trabalho no banco, Dantas já havia fundado a Cia do Perfume, uma empresa de cosméticos voltados para classes C e D. Sem conseguir conciliar o negócio familiar e ambições maiores, ele vendeu sua parte e foi matutar algo novo.

Fazendo de um limão uma limonada
Enquanto planejava sair do Itau, Dantas fez uma consultoria para uma empresa holandesa de games que pretendia se instalar no Brasil, mas que se mostrava incomodada com os trâmites burocráticos. Ao término do encontro, ele se autoquestionou: “Será que não dá pra automatizar todos esses processos, será que não tem uma plataforma que faça isso no Brasil?”

Não tinha. Era a oportunidade que Dantas precisava para empreender no mundo digital, com a perspectiva de um negócio escalável e de impacto num segmento ainda pouco explorado. Quem o apresentou para os holandeses foi Luiz Filipi Figueiredo, um dos primeiros investidores anjo e também cofundador da Vindi. Outro anjo improvável foi nada menos que Edgard Corona, fundador e presidente do Grupo BioRitmo/SmartFit, que aportou 450 mil reais na ideia prototipada – nos últimos dois anos, a fintech recebeu o aporte de 10 milhões de reais do fundo de investimentos em venture capital Criatec2.

Os dois sócios de Dantas são Wagner Narde (CTO) e seu ex-chefe no Itaú, Reginaldo Dutra (diretor comercial). A Vindi conta hoje com um time de 110 colaboradores. Nos três primeiros anos, a empresa triplicou em receita e faturamento e no quarto ano dobrou. Em 2018, o crescimento foi de 79%, com faturamento de 14 milhões de reais. A meta da Vindi para 2019, que também vai contar com um braço de empréstimos, é faturar 30 milhões de reais.

Mercado financeiro: aquisições e disputas
Com serenidade, Dantas resume o histórico do mercado financeiro no Brasil como “um ambiente agressivo em todos os setores”. E esse espectro não iria mudar com a evolução das fintechs, muito pelo contrário. Bancos, varejistas e financeiras tradicionais tentam a se espelhar no modelo startup para manter seus clientes.

Nesse cenário, a Vindi tem se mostrado robusta e adaptada, vide a aquisição das startups Aceita Fácil, Smartbill e Fast Notas. “Em 2015, a gente viu que milhões de reais estavam passando pela nossa plataforma, mas a gente não capturava nada e seguíamos vendendo software. Compramos a Aceita Fácil, uma startup sub-adquirente facilitadora de pagamentos”, relembra.

“No ano seguinte, já tínhamos mais estrutura e mais gente nos apoiando. Namorávamos com a Smartbill para uma possível fusão. Não deu certo. Depois de muitas tratativas, demos o papo reto para os investidores: ‘vocês estão crescendo menos que a gente, perdendo clientes. Ou vocês vendem a operação ou terão que arcar com um passivo de 900 mil reais para desligar todos os funcionários”, complementa.

Em julho de 2017, nascia a ‘super fintech’ de pagamentos recorrentes com a aquisição de 100% da rival e um time pequeno a tiracolo. Um pouco antes, a Fast Notas, startup especializada na emissão de notas fiscais, também já estava sob o guarda-chuva da Vindi. Apesar de jogar bem o jogo voraz do mercado financeiro, o CEO observa tendências mais colaborativas que beneficiem todos os atores.

“Estamos vivendo um momento ímpar para quem é inovador, e órgãos como o Banco Central, CVM e demais associações têm apoiado fortemente tais iniciativas. A competição está abrindo espaço para que as fintechs se tornem realmente grandes. Há 10 anos era impensável falar que uma startup competiria com um banco. O ambiente é competitivo, mas está se tornando cada vez mais colaborativo em deficiências que cada um possa apresentar”, pontua. Enio Lourenço Leia mais em dci 04/04/2019

04 abril 2019



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