03 julho 2018

DEALTALK-Investidores disputam ativos de educação básica no Brasil

Cinco anos atrás Jorge Paulo Lemann, o financista que ajudou a articular a criação de conglomerados de consumo como Anheuser Busch Inbev e Kraft Heinz , entrou em território inexplorado, apoiando a construção de uma rede de escolas de educação básica no Brasil.

O resultado foi a Eleva Educação, que atualmente conta com 53 mil alunos em cinco Estados e, no ano passado, vendeu uma fatia de 25 por cento para o grupo de investimentos Warburg Pincus, o que avaliou a companhia em 1,3 bilhão de reais, disse uma fonte com conhecimento do assunto.

A aposta em educação por Lemann e Warburg ressalta uma mudança em como os investidores atuam no mercado de educação na maior economia da América Latina, onde as cadeias de ensino básico privado impulsionadas pela busca por alternativas às escolas públicas estão substituindo a educação superior privada como aposta.

Piero Minardi, um sócio na Warburg Pincus que está ajudando a supervisionar o investimento na Eleva, vê potencial para dobrar o tamanho da companhia a cada três anos. Tendo como alvo diferentes faixas de renda, a Eleva tem unidades que cobram até 48 mil reais por ano, ou 4 mil reais mensais. “A escola privada é aspiracional aos pais brasileiros", afirmou Minardi.

A fraca qualidade das escolas brasileiras, avaliadas abaixo da média de 72 países pelo Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes da OCDE, está incentivando 100 bilhões de reais em gastos com escolas privadas anualmente, o dobro do desembolso em ensinos médio e universitário.

A disputa por ativos de educação básica atraiu operadores de ensino superior como Kroton Educacional , que fechou em abril a compra de uma fatia de 73 por cento da Somos Educação por 4,6 bilhões de reais.

Isso representa um prêmio de 66 por cento em relação ao preço da ação antes do acordo –quase o dobro do valor da própria Kroton de oito vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda).

"MUITO CARO"
A falta de alvos de aquisição com escala maior que a da Somos está forçando outros compradores a abrir escolas ou crescer organicamente. O Brasil tem cerca de 38 mil escolas privadas.

O Grupo SEB, administrado pelo empresário Chaim Zaher, que anteriormente detinha uma fatia de 12 por cento na Estácio Participações , desembolsou 300 milhões de reais em ativos que incluem 100 franqueados da rede canadense de escolas bilingues Maple Bear. Mas Zaher planeja focar em crescimento orgânico nos próximos meses. "Eu desisti de aquisições agora, as escolas ficaram muito
caras", afirmou Zaher em entrevista concedida recentemente.

A Cognita, rede britânica de educação detida por KKR e EMK Capital, está tentando vender duas escolas no Brasil pelo equivalente a 22 vezes o Ebitda das unidades, um múltiplo ainda maior que o de 15 vezes da Somos, segundo duas pessoas com conhecimento do assunto. Goldman Sachs e o banco de investimento do Barclays , estão coordenando o processo globalmente, e avaliando alternativas que vão desde a venda total da empresa a vendas fatiadas por países, ainda não avançaram no processo de venda das escolas no Brasil, disseram as fontes.

Cognita e Goldman se recusaram a comentar o assunto, enquanto o Barclays não respondeu imediatamente ao pedido de comentário.

ABERTURA DE CAPITAL
Alguns operadores de educação básica estão buscando transações no mercado de capitais para conseguir financiamento, em vez da venda do controle das companhias.

O Grupo Positivo, por exemplo, planeja uma oferta pública inicial de ações da unidade de educação no próximo ano, conforme noticiou a Reuters neste mês. O mesmo grupo possui ainda outra
empresa de capital aberto, a Positivo Tecnologia , de computadores e celulares.

A Arco Educação, que vende software e materiais de ensino para 1.300 escolas, com 415 mil estudantes, espera listar ações em Nova York no fim deste ano, disse uma fonte. A companhia de investimentos General Atlantic está entre os investidores da Arco.

Mas o maior grupo de escolas privadas no país, o Colégio Objetivo, com 400 mil estudantes, se recusa a mesmo conversar com possíveis novos parceiros.

Seu fundador, João Carlos Di Genio, rejeitou investidores que buscavam adquirir uma participação em seu negócio e ainda não se decidiu sobre um IPO, contaram três pessoas com conhecimento do assunto.

O Objetivo, que tem quase 10 vezes o número de alunos que a Somos tinha antes da compra pela Kroton, não quis se manifestar sobre o assunto.

Após adquirir a Somos, a Kroton espera focar em aquisições de menor porte e crescimento orgânico. A companhia agora detém 44 escolas com 37 mil alunos.

Mario Ghio, que comanda a divisão de escolas de ensino básico do grupo, disse que a companhia agora aumentará os gastos com atividades extraclasse, frequentemente uma alternativa para pais que não conseguem pagar uma escola privada cara. "Nós podemos oferecer cursos de idiomas estrangeiros, programação ou matemática", disse ele em entrevista. Por Tatiana Bautzer e Carolina Mandl (Reuters) –  Leia mais em ultimoinstante 02/07/2018


03 julho 2018



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