16 fevereiro 2018

A bolsa brasileira ficou cara após a recente valorização?

Temos ouvido a mesma pergunta de investidores após o recente rali do Ibovespa: "Depois da alta da bolsa, ela estaria cara?" Esse é um tema que debatemos de forma recorrente, internamente e com outros atuantes do mercado. A partir desse debate concluímos que temos motivos para acreditar que a bolsa não está cara se levarmos em conta alguns pontos. E quais seriam eles? Primeiramente, o potencial de uma valorização significativa da bolsa caso se concretize um ciclo eleitoral favorável. Se eleito um candidato que dê continuidade às reformas iniciadas pela atual gestão, teremos um ciclo bastante positivo de avanços da economia brasileira, possivelmente com crescimentos superiores a 3% ao ano por alguns anos.

O Brasil saiu recentemente de uma recessão e ainda tem uma capacidade ociosa relevante, podendo crescer bem sem o ônus da inflação. Ou seja, considerando perspectivas de investimentos maiores no futuro, o potencial de crescimento da economia é grande e a probabilidade desse evento se realizar é de razoável a boa.

Um segundo ponto diz respeito aos múltiplos. Se olharmos para o múltiplo de price/earnings (P/E) do Ibovespa para 2018 (13,6 vezes), podemos observar que esse está acima da média histórica (10,9 vezes) e, portanto, seria um alerta em condições normais. Mas se não olharmos para foto e sim para o filme, ou seja, se ajustarmos pelo crescimento esperado para os próximos três anos, podemos também observar que a bolsa não está cara, pelo contrário.

Um bom paralelo é com a bolsa americana, que atualmente negocia a um múltiplo acima do histórico. Ao comparar os múltiplos das empresas negociadas no Brasil e nos Estados Unidos, vemos que o Ibovespa segue em linha com o S&P e, portanto, não nos parece estar caro, como a bolsa americana também não.

Uma análise válida é comparar os múltiplos das empresas no Brasil com os de empresas de mercados de referência com boas perspectivas de crescimento. Se olharmos para os múltiplos do banco J.P. Morgan e compararmos com Itaú e Bradesco, observamos que os três negociam próximo de 12 vezes e 13 vezes o P/E para 2018, já incorporando nas estimativas do banco americano a redução do Imposto de Renda aprovado pelo governo americano e os aumentos de juros nos EUA, que favorecem os lucros do banco.

Apesar de o banco americano merecer prêmio, o crescimento dos brasileiros para os próximos anos é bem superior.

Outro exemplo é comparar as empresas premium americanas e brasileiras. O Google e a Visa negociam aproximadamente a 25 vezes o P/E para 2018, pouco acima das empresas premium brasileiras, como Localiza e CVC, que negociam entre 20 vezes e 25 vezes o P/E para 2018 e que, apesar de serem grandes em seus setores, devem aumentar suas receitas acima de 15% ao ano nos próximos anos.

Se ainda levarmos em conta o fator externo, no qual estamos vivenciando um período de crescimento global robusto, com constantes revisões do crescimento para cima, esse potencial de valorização da bolsa é ainda superior.

Recentemente, o FMI revisou a sua estimativa de crescimento global para 3,9% em 2018 e 2019 (era 3,7% anteriormente para ambos os períodos).

Outra evidência é a economia chinesa, que durante boa parte dos últimos anos foi o principal motivo de preocupação para investidores globais, porém em 2017 cresceu 6,9%, mais do que os 6,7% de 2016. Ou seja, de acordo com os dados oficiais, houve uma aceleração.

Além disso, as perspectivas para os EUA e para Europa também são de crescimentos robustos nos próximos anos, superiores a 2,5% ao ano, mostrando que o cenário é benigno não só para os emergentes, como também para os países desenvolvidos. Essa atual conjuntura de crescimento sincronizado favorece o Brasil, que vem crescendo e está partindo de uma base mais fraca.

Por fim, um terceiro ponto, e este apesar de assimétrico nos parece menos provável, é que esse ciclo de forte crescimento global poderia elevar as commodities para um outro patamar, a níveis substancialmente superiores aos atuais. Se levarmos em conta que nos últimos anos tivemos um baixo nível de investimento das grandes empresas do setor e uma demanda que vem crescendo firmemente em diversas regiões do mundo, existe uma história plausível de valorização das commodities, apesar de não incorporarmos no nosso cenário base.

Cerca de 25% do Ibovespa é composto por empresas ligadas a commodities.
Se a alta das commodities se confirmar, acreditamos que a bolsa também se beneficiaria desse movimento por ter uma parcela relevante de sua composição em empresas ligadas a esse setor. Fonte:Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 16/02/2018

16 fevereiro 2018



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