11 dezembro 2017

Na Riza Capital, Marcão volta com novos sócios — e sem mágoas

Quando foi saído do BTG Pactual em meio à controvérsia sobre uma fatura de cartão de crédito contestada, Marco Gonçalves ficou atordoado — mas só por 24 horas.

Foi quando o banqueiro — ‘Marcão’ para os íntimos — recebeu uma ligação de Naguib Sawiris, o bilionário egípcio de quem ficara próximo anos antes, quando Sawiris estava interessado em comprar a Oi.

Sawiris, que já sabia do acontecido, disse ao recém-desempregado: “Está na hora de você ter o seu próprio negócio.”

Nascia assim a Riza Capital, a assessoria financeira independente que Marcão quer transformar numa “Lazard brasileira”, atuando em investment banking e gestão de fortunas.

Sawiris aportou 50% do capital da Riza e ainda concordou que Marcão ficasse com 35% da receita para pagar bônus e dividendos, uma moeda importante para atrair sócios.

Fundada há apenas oito meses, a Riza já assessorou a Odebrecht na venda de sua participação no Galeão, uma operação que tirou R$ 6 bilhões de dívida do balanço da empreiteira. Também assessorou as empresas de TV aberta na venda de seu sinal para as operadoras de TV por assinatura, e representou a Tarpon em conversas sobre o futuro da Somos Educação.

O time da Riza conta com três banqueiros que já haviam trabalhado com Marcão: Bruno Sbano (ex-Credit Suisse, Morgan Stanley e Citi), Stefan Madach (ex-CS e Deutsche Bank) e Gabriel Varella (ex-BTG). Rogério Penalva (ex-Pátria, onde fazia os M&As da Dasa) e Diego Mendes, ex-analista de elétricas no Itaú BBA, também compõem o time.

Para o wealth management, Marcão recrutou Ricardo Xavier, um veterano da Hedging-Griffo especializado na estruturação de fundos exclusivos, e Eduardo Scarceli, um dos maiores talentos do private banking do Credit Suisse nos últimos anos.

A Riza quer assessorar o cliente “na PJ e também na PF,” Marcão disse ao Brazil Journal. “Quero estar perto do cliente desde a expansão do seu negócio até o momento em que ele vai vender a empresa. Minha ideia é que isso seja uma partnership de verdade, e que em dois anos nenhum de nós, incluindo eu, tenha mais do que 10%.”

Marcão diz não guardar mágoas de seus ex-sócios no incidente do cartão de crédito. “Aquilo foi um acontecimento infeliz. O cara estava tentando me extorquir, eu não aceitei a extorsão, e aquilo veio num momento ruim para o banco. Não tinha como não esperar uma consequência daquilo. Acho que se fosse em outro momento do banco, o desfecho teria sido diferente.”

No caminho até a fundação da Riza, Marcão trabalhou em transações icônicas do capitalismo brasileiro. Assessorou a Vale na compra da Inco, no Canadá, até hoje a maior compra já feita por uma empresa brasileira no exterior. Ajudou a família Schincariol a vender a cervejaria aos japoneses da Kirin por R$ 8 bilhões — este ano, os japoneses repassaram o negócio para a Heineken por R$ 2 bilhões. O histórico do banqueiro inclui ainda a joint venture entre a Cosan e a Shell que criou a Raízen em 2011, a fusão de Aracruz e VCP que deu origem à Fibria, e a venda do Submarino para as Lojas Americanas que originou a B2W. Marcão também fez inúmeras transações na Oi quando o BTG exercia influência sobre a empresa, mas a mais ambiciosa delas — transformar a Oi numa corporation — foi atropelada pela recuperação judicial da empresa.

Depois de negociar com a Shell por 20 meses, representando a Cosan na formação da Raizen, Marcão foi procurado pela petroleira anglo-holandesa, desta vez para ser seu assessor na Comgás. Moral da história? "Sou um cara agressivo, mas eu nunca brigo com o cliente do outro lado — só com o assessor dele.”

O mercado de M&A brasileiro é uma fração do que era há cinco anos — um encolhimento que se provou fatal para os ‘bancões’ e tende a favorecer os players locais e/ou independentes como a Riza. Bancos como Goldman, Morgan Stanley e Deutsche — e, em grau menor, Merrill Lynch e JP Morgan — têm perdido gente e espaço enquanto sofrem para adequar sua estrutura de custos pesada à nova realidade.

Desde que começou a trabalhar aos 15 anos, o ex-office boy do Banco do Brasil diz ter tido três escolas.

A primeira foi o ABN AMRO, onde trabalhou, no final dos anos 90, na área de corporate banking. “A gente tirava leite de pedra: tudo era mais difícil porque não existia internet.” Foi quando participou do time que assessorou a Petrobras no project finance do campo de Marlim — um marco para um tipo de financiamento ainda pouco testado no Brasil.

Em 1998, o ABN despachou o jovem banqueiro para os EUA: era o boom da internet, e o ABN havia comprado um banco em Chicago que só fazia fusões e aquisições. Marcão passou um ano lá, fazendo M&A de empresas americanas.

A segunda escola foi o Credit Suisse, onde trabalhou quatro anos — e de onde saiu em 2009 carregando nove pessoas para o BTG. “O José Olympio me incentivava a pensar fora da caixa,” diz sobre o ex-chefe e decano dos banqueiros de investimento ainda na ativa. “A gente sempre ia no cliente com uma ideia, nunca pra pedir negócio. Aprendi muito com o Zé, mas muito!”

No BTG, Marcão se beneficiou da estrutura do banco, que favorecia o cross-selling — um conceito que a Riza claramente tenta replicar. "Os negócios fequentemente vinham de outras áreas, e a gente tinha muita interação com o wealth management e com a área de crédito.”

Mesmo depois do divórcio abrupto, Marcão ainda guarda elogios para seu principal ex-sócio, com quem aprendeu que “você tem que ganhar o cliente falando de todas as partes: da economia, de como tá o Brasil… não adianta só falar do deal. … O Esteves fala sobre qualquer assunto. Você colocava ele na frente do cliente e o cara saía encantado. Podem falar o que quiserem, mas o Esteves é totalmente fora da curva.” Geraldo Samor Leia mais em braziljournal 11/12/2017

11 dezembro 2017



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