31 dezembro 2017

Bancos pequenos e médios estão na mira de fusões, diz estudo

A recuperação da economia, em um cenário de juros mais baixos, deve levar a um movimento de concentração ainda maior no setor bancário brasileiro. Sem a eficiência dos grandes bancos para aumentar o volume de empréstimos e com menor nível de rentabilidade e eficiência, os bancos de pequeno e médio portes estão expostos a uma onda de fusões e aquisições, aponta estudo da empresa de classificação de risco Austin Rating, que espera uma intensificação desse movimento nos próximos cinco anos.

- Com a Selic a 7%, as operações de tesouraria com títulos públicos ficam menos rentáveis, e os bancos terão de emprestar mais para o varejo. As instituições pequenas e médias têm menos capilaridade, maiores custos operacionais e menor rentabilidade. Muitas devem se fundir ou ser compradas - analisa Alex Agostini, economista da Austin Rating e responsável pelo estudo.

O levantamento mostra que a rentabilidade sobre o patrimônio, indicador que mede a capacidade da instituição de gerar valor com seus recursos e os de seus investidores, dos grandes bancos ficou em 13%, na média, no primeiro semestre do ano, enquanto nos pequenos o índice foi a metade: 6,3%. Já as despesas operacionais, com pessoal e tributárias dos pequenos foram, em média, de 16,9% no mesmo período, enquanto nos grandes chegou a 12,3%. A amostra analisada pela Austin incluiu dados de 115 pequenas e médias instituições e de oito grandes bancos.

- Os bancos pequenos e médios são menos competitivos por atuar em diversas frentes de negócios. Aqueles que se especializaram em um nicho de mercado, como crédito consignado, têm mais chances de sucesso - diz Agostini.

O cenário fica ainda mais complicado porque alguns desses pequenos e médios bancos apresentaram prejuízos com a crise que atingiu o país, lembra o especialista em bancos da consultoria Lopes Filho & Associados, João Augusto Salles. Ele observa que uma parte dessas instituições atua com empréstimos para pequenas e médias empresas, segmento que teve o caixa bastante afetado pela recessão:

- Muitos elevaram suas provisões para devedores duvidosos, o que resultou em prejuízo.
O aumento de provisões para devedores duvidosos teve impacto negativo no balanço do banco Indusval, focado em empréstimos a médias e grandes empresas. O banco registrou um prejuízo de R$ 74,9 milhões no terceiro trimestre deste ano, mais que o triplo da perda registrada no mesmo período do ano passado. O resultado, segundo analistas, foi influenciado pelo aumento de 130% nas despesas com provisão contra calotes, que somaram R$ 66,5 milhões no período. O Indusval tem mudado sua estratégia, concentrando os empréstimos em tíquetes menores e no setor do agronegócio, que sofreu menos com a crise.

Já o banco Pine, também especializado no atendimento a empresas, teve um prejuízo de R$ 244 milhões no terceiro trimestre, também influenciado pelo aumento de R$ 391 milhões em provisões no trimestre. O banco informou que decidiu fazer uma reavaliação do desempenho dos clientes.

Tanto o Indusval quanto o Pine estão trazendo um braço digital para aumentar sua captação.
- Há uma mudança de estratégia nas operações de alguns bancos pequenos e médios, que começam a caminhar para se tornarem mais digitais. Aqueles que não se tornarem digitais têm mais chance de ser comprados - diz Salles.

Procurada para comentar a previsão de fusões e aquisições no segmento, a Associação Brasileira de Bancos Comerciais, que representa os bancos de menor porte não se pronunciou. A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) não se posicionou. O Banco Central também não se pronunciou.

Outro fator que deve impactar os pequenos e médios bancos, segundo Agostini, são as mudanças que podem limitar a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), espécie de seguro para o investidor na compra de títulos bancários em caso de quebra de instituições financeiras. A proposta em pauta limita a garantia a R$ 1 milhão por CPF em caso de quebra da instituição.

Atualmente não existe um limite, apenas um teto de R$ 250 mil por instituição, o que possibilita ao investidor ter várias aplicações com esse valor em diversos bancos, todas asseguradas pelo Fundo Garantidor. Os bancos pequenos e médios usaram a garantia do FGC para atrair clientes com retono mais generosos, de até 120% do CDI frente aos 90% a 95% oferecidos pelas granes instituições. O Conselho Monetário Nacional terá que aprovar a mudança, além do próprio BC

Além do cenário econômico adverso, as pequenas instituições bancárias também começaram a sofrer concorrência das chamadas fintechs, startups do setor financeiro que buscam inovações em seus serviços e que já faturaram mais de R$ 450 milhões em 2016, diz Alex Agostini, da Austin Rating. Esse grupo de fintechs ainda é pequeno, mas tem conquistado novos clientes com isenção de tarifas, crédito liberado com mais facilidade e menos custos operacionais, já que a maioria opera via internet e sem agências físicas.

O movimento de fusões e aquisições que os bancos pequenos e médios devem experimentar nos próximos anos, previsto pela Austin Ratings, vai concentrar ainda mais o setor bancário, com prejuízo aos consumidores, analisa Miguel Ribeiro de Oliveira, economista da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac). O setor já vem se concentrando nos últimos anos. Segundo a Austin Rating, havia 269 bancos no país em dezembro de 94. Em outubro de 2017, eram 175 instituições:

- Já temos um sistema bancário concentrado, em que os cinco maiores bancos dominam 80% dos ativos e dos clientes. O resultado é que mesmo com a queda da Selic, as taxas de juros das linhas de empréstimos continuam elevadas. A do cartão de crédito, por exemplo, continua em mais de 300% ao ano. O Globo Leia mais em newsstand · 30/12/2017


31 dezembro 2017



0 comentários: