12 julho 2017

Alpargatas, dona das Havaianas, pode deixar de ser brasileira

 A Alpargatas, dona das marcas Havaianas e Osklen, corre o risco de deixar de ser uma empresa brasileira. A companhia é um dos ativos da J&F à venda, com o objetivo de fazer caixa para levantar os R$ 10,3 bilhões do acordo de leniência dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Com o fim das negociações entre os Batista e a Cambuhy Investimentos (administradora do patrimônio da família Moreira Salles) e a Itaúsa, o mercado começa a olhar para os possíveis interessados na empresa.

Dois fundos de investimento americanos — o Carlyle e o Advent — surgem como principais candidatos, segundo uma fonte a par das negociações. A J&F é dona de 86% das ações da Alpargatas.
O Advent já havia olhado o ativo, antes mesmo da Cambuhy, mas acabou desistindo de fazer uma oferta por causa do preço elevado que os irmãos Batista pediam. A oferta feita pela Cambuhy, e recusada pelos Batista, ficou entre R$ 3,3 bilhões e R$ 3,5 bilhões. O Carlyle também chegou a se interessar pelo ativo.

— A Cambuhy tinha exclusividade nas conversas com a J&F, mas, como o negócio não andou, os fundos americanos podem voltar a olhar a Alpargatas, que é um dos melhores ativos da J&F e muito atraente especialmente para fundos de private equity (compra de participação em empresas) — diz a fonte.

Procurado, o fundo Advent disse que não comentaria o assunto. O Carlyle não informou se mantém o interesse pela empresa.

Segundo fontes do mercado, podem voltar à disputa fundos que ficaram para trás quando a Alpargatas foi comprada pela J&F da Camargo Corrêa, em 2015, por R$ 2,7 bilhões. Entre os interessados naquela ocasião, estavam as gestoras Pátria, Península (do empresário Abilio Diniz) e Tarpon. Os dois últimos, inclusive, planejavam formar um consórcio para a compra.

Procurados, o Pátria informou que não comenta suas estratégias de investimentos. A Península disse que não fala sobre rumores de mercado. E o Tarpon afirmou que não está olhando oportunidades no momento.

PRODUTO TÍPICO BRASILEIRO

Avalia-se, no mercado, que a Alpargatas é o ativo mais interessante da J&F. Não faz parte dos negócios de carne do grupo, e sua venda não implicaria na necessidade de avaliação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Além de não ter sido afetada pelas práticas de corrupção reveladas com a delação dos controladores da J&F.

Levantamento da Economática mostra que a Alpargatas tem valor de mercado de R$ 6,5 bilhões. Estão sob o guarda-chuva da empresa as Havaianas, marca que tem força entre todos os segmento da população brasileira, e a Osklen. A tradicional sandália nasceu popular e foi sendo transformada num item de moda. No exterior, as Havaianas são um sucesso como típico produto brasileiro. Já a Osklen está posicionada como marca de luxo no exterior, com lojas nos EUA, Itália, Japão e Argentina.

A compra da Alpargatas pela J&F acabou se tornando objeto de investigação do Tribunal de Contas da União (TCU), uma vez que os recursos utilizados pelo grupo no negócio foram emprestados pela Caixa Econômica Federal. O TCU abriu processo para examinar a regularidade do empréstimo porque a Caixa financiou 100% da compra, operação que causou estranheza ao mercado, pois é incomum um único agente financeiro bancar integralmente o valor de um negócio desse porte. O empréstimo tem prazo de sete anos, com dois de carência, que vencem em dezembro.

Um relatório da Guide Investimentos mostra que, à época da compra, a J&F pagou 12,8 vezes o Ebitda (lucro antes de juros, amortizações e impostos) da Alpargatas. Empresas do setor, porém, são negociadas por oito a dez vezes o Ebitda, diz a Guide.

A tendência, agora, explica outro consultor, é que que as negociações fiquem mais duras:

— A Cambuhy questionou os resultados da Alpargatas. Os fundos vão querer esmiuçar os números da empresa, o que pode levar tempo. Como há discordância em torno do preço, a tendência é que a discussão se alongue. - O Globo Leia mais em portal.newsnet 12/07/2017

12 julho 2017



0 comentários: