16 junho 2017

J&F negocia empresas do grupo e Itambé está à venda 'por tabela'

Negociação da Vigor, que detém 50% do laticínio mineiro, pela holding proprietária da JBS, implica mudança na composição acionária da empresa, controlada também por produtores

A venda de ativos pela J&F, holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que controla a JBS, ganhou força esta semana, com a divulgação de relatório da agência de classificação de risco Standard&Poor’s. Oficialmente, a J&F nega a negociação, mas a S&P atribui a informação à própria holding, que planeja se desfazer no curto prazo de empresas que somam R$ 8 bilhões.

Duas já estão em processo de venda, segundo a agência: a Vigor Alimentos e as linhas de transmissão de energia. Além disso, está em estudo a negociação da Eldorado, empresa de celulose, a Alpargatas, dona das marcas Havaianas e Osklen, e a Flora, de produtos de limpeza, como detergente Minuano e o creme de cabelos Neutrox.

O caso da Vigor interessa particularmente aos mineiros, já que a indústria de laticínios é dona de 50% da Itambé um ícone do setor em Minas. A dúvida é como ficariam na negociação a própria Itambé e a Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR), dona dos outros 50% e fornecedora do leite processado na indústria mineira.

Em março, já em meio às negociações dos irmãos Batista com a Procuradoria-Geral da República (PGR) para o acordo de delação premiada, surgiram notícias no mercado de que a J&F, controladora da Vigor, negociava a venda da empresa de lácteos para a Pepsico. A multinacional teria oferecido R$ 6 bilhões, o equivalente a um ano de faturamento da Vigor. Mas a J&F recusou.

Novas informações surgidas este mês apontam que a Vigor está sendo oferecida a cerca de meia dúzia empresas, incluindo as francesas Lactalis e a Danone e a mexicana Lala.

A holding dos Batista “herdou” a Vigor quando a JBS adquiriu o frigorífico Bertin, então dono da empresa de lácteos, em 2009. Quatro anos depois, a Vigor, por sua vez, comprou metade da Itambé, por R$ 410 milhões, numa união que representou a criação do segundo maior laticínio do país.

O negócio foi comemorado pela Associação Brasileira de Produtores de Leite (Leite Brasil). Na época, Jorge Rubez, presidente da entidade, avaliou, em entrevista ao Estado de Minas, que somente com a modernização do sistema cooperativo seria possível avançar e garantir investimentos no setor.

Atualmente, a Vigor é a segunda empresa da holding J&F em termos de faturamento, atrás da JBS, do setor de carnes. Além da Itambé, é dona das tradicionais marcas de laticínios Danúbio e Leco. Tem faturamento superior a R$ 5 bilhões e operações em 11 estados. Já a Itambé, com capacidade para processar 3,5 milhões de litros de leite ao dia, tem um portfólio de 190 produtos, entre leites, iogurtes, requeijão, manteiga e doce de leite.

O vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Barbacena, Renato Laguardia, destaca que a Itambé é um patrimônio mineiro e um novo personagem na sua composição acionária pode implicar alguma mudança, “especialmente caso o comprador seja um grande laticínio, como vem sendo ventilado”.

Ele lembra que a Lactalis é dona de marcas de queijos finos e tem uma unidade mineira, em Antônio Carlos, na região de Barbacena, com capacidade para processar diariamente 100 mil litros de leite.

Impacto nos negócios

A J&F encerrou o primeiro trimestre deste ano com dívida líquida de R$ 47,8 bilhões. E, segundo o mercado, deve ganhar algum fôlego com a venda de ativos em Uruguai, Paraguai e Argentina por US$ 300 milhões na semana passada para o frigorífico Minerva, o segundo maior do país.

Para analistas, com esse passo, a JBS deu início a um movimento de encolhimento que já era esperado pelo mercado. Em nota, a JBS informou, no entanto, que a venda está “em linha com a estratégia da companhia em focar nos negócios com maior margem de rentabilidade, o que inclui produtos de alto valor agregado e mercados estratégicos”.

Na quarta-feira, a S&P rebaixou a classificação de risco da J&F e de suas controladas JBS (proteína animal) e Eldorado. O relatório aponta preocupação com o impacto nos negócios da delação dos donos do grupo, os irmãos Joesley e Wesley Batista, que confessaram o megaesquema de pagamento de propina a políticos.

A holding assumiu sozinha o compromisso de pagar a multa de R$ 10,3 bilhões, em 25 anos, acertada com o Ministério Público Federal dentro do acordo de leniência.

É preciso lembrar que os irmãos Batista ainda têm muito a acertar, o que pode se refletir na contabilidade da J&F. E são três as fontes de preocupação: o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, onde a JBS mantém a maior parte de suas operações; o Tribunal de Contas da União (TCU), que deve abrir investigações para que a holding pague por danos causados nos empréstimos do BNDES e na compra de ações das empresas do grupo pelo banco; e a Comissão de Valores Imobiliários (CVM), onde a holding enfrenta questionamentos por operações no mercado financeiro, como compra de dólares pela JBS e venda de ações da empresa pelos controladores pouco antes da divulgação da delação dos empresários. (Com agências) Vera Schmitz /Estado de Minas Leia mais em em 16/06/2017

16 junho 2017



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