06 dezembro 2016

Mercado defende corte maior de juro

O coro dos economistas que defendem uma aceleração no ritmo de corte de juros vem ganhando adeptos no mercado financeiro. Eles veem na política monetária hoje o principal - ou o único - instrumento disponível para dar algum respiro à economia. Mesmo reconhecendo que o Banco Central foi correto ao atuar de forma conservadora para controlar a inflação e colocar as expectativas na meta, analistas consideram que não há mais tempo hábil para esperar. E, mesmo com incertezas relativas à reforma fiscal e ao exterior, o BC terá de soltar a taxa juros mais rapidamente, sob o risco de atrapalhar ainda mais o processo de recuperação da atividade.

Para o economista-chefe do banco BTG Pactual e ex-diretor do Banco Central, Eduardo Loyo, um alívio na política monetária brasileira pode amenizar os efeitos do ajuste fiscal contracionista na economia brasileira. Considerado pelo mercado como um economista "hawkish", ou seja, conservador quando o assunto é redução de juros, Loyo afirmou que o país está "sentado no alto de uma enormidade de taxa de juros". Para ele, apesar do fraco desempenho da economia brasileira no terceiro e, provavelmente, no quarto trimestres, não há necessidade de redesenhar a política econômica do governo Temer.

"Que vamos enfrentar as dificuldades inerentes ao ajuste fiscal é inevitável. Mas a dificuldade de sofrer impulso contracionista adicional em uma economia que já está muito fraca, como precisou sofrer a Grécia, nós não precisamos sofrer", afirmou Loyo, durante seminário na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ). "Temos um espaço imenso para compensar o efeito contracionista do ajuste fiscal fazendo com que a política monetária afrouxe." Para ele, o país está prestes a conseguir "resultados espetaculares em termos de reancoragem e de expectativas de inflação", o que permitirá um avanço no processo "transformacional de redução de juros".

O nó da atividade não pode ser atribuído ao juro alto, dizem os analistas, mas ao ambiente político ainda muito instável, que amplia as dúvidas sobre a capacidade do governo concluir as reformas fiscais, quadro que desencoraja os investimentos. Além disso, o PhD por Stanford e professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, Márcio Garcia, observa que o canal de crédito está debilitado e as famílias estão diminuindo o endividamento. "Um corte de juros pode ajudar a economia, mas não se pode dizer que é o juro o responsável pela recessão em curso", afirma.

De todo modo, a visão é a de que o BC terá de acelerar o ritmo de corte de juros mais rapidamente, sob o risco de limitar ainda mais a reação da atividade. A revisão para baixo das projeções para o PIB em 2017 e o alívio na preocupação com o cenário político local abriram espaço para os investidores ampliarem as apostas em um corte de 0,5 ponto percentual da taxa Selic na reunião de janeiro, com as taxas dos contratos futuros fechando em queda na BM&F. Essa probabilidade refletida nos juros futuros subiu de 33% na sexta-feira para 55% ontem.

"Está na hora de o Banco Central acelerar o ritmo de corte de juros." Essa é a opinião do ex-diretor de política monetária do Banco Central e atual sócio da Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo, para quem o BC poderia ter reduzido a Selic em 0,5 ponto já no início do ciclo de alívio monetário. Ele diz que a surpresa provocada pelo resultado fraco da economia no terceiro trimestre e também pelos dados antecedentes relativos ao quarto trimestre não teria sido evitada, mesmo se o BC tivesse sido menos conservador. "Mas, se ficarmos muito tempo com quedas de 0,25 ponto, estaremos atrapalhando a recuperação", afirma.

Para Sérgio Goldenstein, sócio diretor da Flag Asset Management e ex-chefe do Departamento de Operações do Mercado Aberto do Banco Central (Demab), o balanço de riscos já garantiria à autoridade as condições para ter acelerado o ciclo de corte de juros na última reunião do Copom: atividade econômica fraca, aumento do hiato do produto, desemprego em alta, reversão da alta dos preços de alimentos, maior ancoragem das expectativas de inflação e uma taxa de juro real acima do nível de equilíbrio. "A discussão para a próxima reunião em janeiro será sobre um corte entre 0,50 ponto e 0,75 ponto", diz.

Goldenstein lembra que a política monetária hoje é a única variável que pode ajudar a dar um estímulo para a economia. "Falta um 'trigger' para a atividade. O consumo das famílias está fraco, há um esgotamento no canal de crédito, o alto nível de ociosidade e elevada taxa de juro real em 7% limitam o aumento do investimento e não há espaço para uma expansão fiscal do lado do governo. Só a política monetária pode ajudar o crescimento", diz.

A pressa dos analistas em ver um corte da Selic passa pelo nível do juro real, que ainda não recuou. Ou seja, a política monetária continua contracionista. A taxa de juro real, obtida pela diferença entre o contrato de swap prefixado com prazo de 360 dias e o IPCA projetado 12 meses à frente, passou de 6,94% em 30 de novembro, dia da última reunião do Copom, para 7,09% em 2 de dezembro.

O sócio e gestor da Modal Asset, Luiz Eduardo Portella, avalia que o juro neutro hoje estaria próximo dos 5%, o que abriria espaço para um corte de no mínimo 4 pontos percentuais, com a taxa básica Selic recuando para 9,75%. "O BC poderia cortar a Selic até abaixo desse patamar para estimular a economia", diz. "Se não tiver crescimento, a dívida pública pode subir e o câmbio se depreciar", afirma ele.

Já o sócio da consultoria 4E Juan Jensen diz que o espaço para cortes de juros no ano que vem é limitado porque o BC "se amarrou" em uma meta de inflação muito ousada, estratégia que provoca um custo sobre a atividade. Ele diz que sair de uma inflação próxima a 6,7% este ano para 4,5% no ano que vem é um objetivo bastante ambicioso, que impõe uma política monetária excessivamente restritiva e custosa para a economia. Para garantir um IPCA em 4,5% no ano que vem, a taxa Selic poderá cair até 11,50%. "O objetivo deveria ser menos audacioso, perto de 5%. Mas agora não dá para voltar atrás, porque o BC já se amarrou demais nessa meta", afirma. "O mandato é a inflação, mas nenhum Banco Central toma decisão sem olhar para a atividade", acrescenta o economista, que revisou sua projeção para o PIB em 2017 de crescimento de 1% para uma retração de 0,2%.

Em uma visão mais cautelosa, o economista sênior do Haitong Brasil Flávio Serrano diz que a melhor e mais efetiva contribuição para a economia que o Banco Central pode dar neste momento é colocar e manter a inflação na meta. Serrano concorda que o Banco Central já tinha informações suficientes para reduzir a Selic em 0,50 ponto no mês passado. "O BC foi muito conservador, mas não poderia ser ousado. BC que ousa, erra", diz.  - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 06/12/2016

06 dezembro 2016



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