05 setembro 2016

Camargo Corrêa coloca à venda sua construtora e sonda chinesa CCCC

A construtora Camargo Corrêa está à venda e a gigante China Communications Construction Company (CCCC) já foi sondada. Sem nenhum encaminhamento concreto, existe ainda potencial interesse de outros grupos estrangeiros, entre eles franceses e espanhóis.

A construtora que deu inicio ao grupo Camargo Corrêa é também um dos principais alvos das investigações da Lava-Jato. O Valor apurou que a terceira geração de herdeiros de Sebastião de Camargo tem interesse em se desfazer integralmente do seu negócio de engenharia e construção.

A operação, no entanto, é permeada por dificuldades, sobretudo pelas incertezas de futuras investigações. Ex-executivos da construtora já foram presos e condenados pela Justiça. a seu favor, pesa o fato de ser a primeira a fechar com o MPF acordo de leniência pelo qual devolverá R$ 700 milhões aos cofres públicos, a serem pagos em oito anos. Somando ao acordo com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), são R$ 804 milhões.

A avaliação de fontes do setor é de que a construtora poderia ser interessante para grupos já consolidados no exterior e com interesse de entrar no Brasil.

Embora o objetivo inicial seja vender a empresa, o modelo ainda não está fechado. Outras possibilidades podem ser mais fáceis de viabilizar a alienação do ativo, como uma saída gradual - com parcerias para obras específicas - ou a atração de um sócio.

Em agosto, quando anunciou a saída de Vitor Hallack da presidência do conselho de administração da holding, a Camargo Corrêa deu uma pista de que não há mais vínculos emocionais com os negócios, dentre eles a construtora. A empresa destacou no comunicado que a mudança "consolida a transição para um novo modelo de governança corporativa com foco prioritário na gestão de portfólio de investimentos".

Segundo fonte a par das movimentações no grupo, as conversas com a CCCC já tiveram idas e vindas. Neste momento de crise econômica e baixa oferta de obras no país, os chineses constataram que a carteira de projetos da Camargo está concentrada em obras da coligada CCR. Assim, passou a ter interesse pelo todo: a construtora e a participação de 17% na CCR.

A área de engenharia e construção do grupo Camargo Corrêa encerrou 2015 com receita líquida de R$ 4,3 bilhões, queda de 31,1% sobre 2014 e o equivalente a 20,2% do faturamento total do grupo, cujo principal negócio é a produção de cimento.

A insatisfação das herdeiras do fundador do grupo com os escândalos de corrupção envolvendo a marca não é recente. Além da Lava-Jato, a construtora foi alvo da Operação Castelo de Areia, também da Polícia Federal, que teve início em 2009 e identificou evasão de divisas, lavagem de dinheiro, crimes financeiros e repasses ilícitos para políticos, chegando a três executivos. No caso da Castelo de Areia, o processo foi arquivado no Superior Tribunal Federal. Em algum momento dos escândalos, segundo fontes próximas do grupo, já havia sido aventada a hipótese de descontinuar a atividade de engenharia e construção pesada.

Agora, a intenção é passar para a terceira geração, que já tem postos de comando no grupo, as definições de quais ativos pretendem manter ou em quais outros ramos de atividades investir. Esse processo tem sido marcado tanto por ajustes da estrutura de pessoal quanto pela venda de ativos. Depois de vender a participação na Itaúsa, na Cavo Ambiental e na Usiminas, no fim do ano passado saiu da Alpargatas.

Anunciada no início de julho, na sexta-feira a Camargo Corrêa comunicou a conclusão da venda de sua participação de 24% na CPFL Energia para a chinesa State Grid. Nas duas últimas operações, o grupo levantou R$ 8,7 bilhões, recursos que vão para o abatimento de sua dívida de mais de R$ 20 bilhões no fim de 2015.

A CCCC desembarcou oficialmente no Brasil em maio, quando assinou um termo de compromisso com a WPR, braço de infraestrutura do grupo WTorre, para construção de um terminal de uso privado em São Luís, no Estado do Maranhão. É a maior empresa de infraestrutura da China. Além de construir, opera ativos em outros países.

Nenhum porta-voz da CCCC foi encontrado para comentar o assunto.
Procurada, a holding Camargo Corrêa S.A. disse que é uma gestora de portfólio de investimentos de longo prazo e não comenta "rumores de mercado".  - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet  05/09/2016

05 setembro 2016



0 comentários: