02 agosto 2016

Dinâmica mais fraca impediu um avanço maior do capital estrangeiro na economia

Em 20 anos o estoque de capital estrangeiro na economia brasileira saiu de pouco menos 5% do Produto Interno Bruto (PIB), ou algo como US$ 40 bilhões, para cerca de 30%, ou US$ 670 bilhões. O maior salto foi visto entre 2005 e 2010, quando a linha de 30% foi rompida, mas desde então a participação, em termos percentuais, vem se mantendo e isso tem correlação direta com o comportamento da própria economia brasileira no período, que saiu de um dos maiores ciclos de crescimento da história recente para a pior recessão já captada pelas estatísticas oficiais.

Os dados são do Banco Central (BC) que desde 1995 conduz o Censo de Capitais Estrangeiros no País. Neste ano, o BC conduz a pesquisa quinquenal, na qual amplia o leque e demanda informações de empresas com quaisquer valores estrangeiros em seu capital. O prazo de declaração, que tem ano base 2015, acaba em 15 de agosto e a companhia que não apresentar dados fica sujeita a processo administrativo e multa que chega a R$ 250 mil. A previsão do BC é chegar a 20 mil declarantes nesta edição contra 16,8 mil de 2010.

Segundo o chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Fernando Rocha, os dados de 2015 devem mostrar nova retração nesse estoque de capital em termos nominais, para a linha de US$ 600 bilhões a US$ 615 bilhões, mas em termos percentuais a participação deve se manter entre 28% a 29% do PIB. A queda nominal capta a variação cambial de quase 50% de 2015, pois o BC apura os dados em reais e depois faz a conversão para dólares. O valor de mercado das empresas, quando negociadas em bolsa também influencia a variação. Em termos de fluxo, sabe-se que o Investimento Direto no País (IDP) tem se mantido na linha dos US$ 70 bilhões a US$ 80 bilhões nos últimos anos.

Além de perguntar a origem do capital e em qual setor ele é aplicado, o BC também demanda informações sobre lucratividade e retorno sobre o capital. Esses dados, que não são divulgados nas séries estatísticas, mostram que as empresas de capital estrangeiro lucram mais em momentos de maior bonança econômica, mas também perdem mais quando o ciclo de atividade não é tão favorável. Os lucros auferidos por este grupo de empresas vem diminuindo desde 2010, assim como o índice de lucratividade. Ao mesmo tempo, a receita bruta, medida em dólar, se mantém relativamente estável, indicando, possivelmente, que a queda nos lucros está relacionada à estrutura de custos.

Em 2010, o lucro total das empresas com capital estrangeiro foi de US$ 70,135 bilhões, com retorno sobre patrimônio (ROE) de 12,43%, o valor subiu a US$ 73,480 bilhões em 2011, com ROE de 9,76%, depois caiu para US$ 36,812 bilhões em 2012, com ROE em 9,4%. Em 2013, os ganhos foram de US$ 10,819 bilhões, mas ROE em 9,88% e em 2014 o resultado ficou em US$ 13,942 bilhões com o ROE recuando a 5,3%.

Para dar uma base de comparação, a métrica de rentabilidade internacional calculada por um braço da Organização das Nações Unidas (ONU) aponta ROE de 7,3% em 2010, 6,2% em 2011, 5,1% em 2012, 5,7% em 2013 e 5,8% em 2014. Para 2015, o dado da ONU é de 4,7%. Na comparação com ROE com o das empresas de capital aberto, em 2010, o retorno das empresas listadas em bolsa foi de 11,66%, caindo a 8,41% em 2011. Em 2012 o retorno sobe a 9,4%, praticamente igualando os 9,5% das empresas com capital estrangeiro. Já em 2013, as o retorno das empresas em bolsa sobe a 9,88%, recua para 7% em 2014, e tomba a 2,24% para 2015.

Nos 20 anos do acompanhamento do BC, Rocha aponta que os dados ajudam a confirmar o aumento da integração do Brasil no cenário global, o aumento de produtividade e competitividade que tal expertise traz para as companhias. "Esse capital também contribui para a formação bruta de capital fixo na economia e se revela positivo para o desempenho econômico", diz Rocha. A edição de 2016 trará também o número de empregos gerados.

Os dados mostram que os Estados Unidos são o principal país com investimentos diretos no Brasil, seguido de Holanda, Espanha, Reino Unido e França. Estes cinco países concentram 60% do IDP no Brasil. Metade dos investimentos está no setor de serviços, especialmente em serviços financeiros. Também são destaque telecomunicações e comércio. Outros 40% do total investido estão no setor industrial, com destaque para bebidas, metalurgia e veículos. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 02/08/2016

02 agosto 2016



0 comentários: